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Os Escravos, por Antonio Frederico de Castro Alves, 6º Poema: A órfã na sepultura, de Os Escravos, de Castro Alves

6º Poema: A órfã na sepultura, de Os Escravos, de Castro Alves

A órfã na sepultura

Minha mãe, a noite é fria,

Desce a neblina sombria,

Geme o riacho no val

E a bananeira farfalha,

Como o som de uma mortalha

Que rasga o gênio do mal.

Não vês que noite cerrada?

Ouviste essa gargalhada

Na mata escura? ai de mim!

Mãe, ó mãe, tremo de medo.

Oh! quando enfim teu segredo,

Teu segredo terá fim?

Foi ontem que à Ave-Maria

O sino da freguesia,

Me fez tanto soluçar.

Foi ontem que te calaste...

Dormiste . os olhos fechaste...

Nem me fizeste rezar! ...

Sentei-me junto ao teu leito,

'Stava tão frio o teu peito, Que eu fui o fogo atiçar.

Parece que então me viste

Porque dormindo sorriste

Como uma santa no altar.

Depois o fogo apagou-se,

Tudo no quarto calou-se,

E eu também calei-me então.

Somente acesa uma vela

Triste, de cera amarela,

Tremia na escuridão.

Apenas nascera o dia,

À voz do maridedia

Saltei contente de pé.

Cantavam os passarinhos

Que fabricavam seus ninhos

No telhado de sapé.

Porém tu, por que dormias,

Por que já não me dizias

"Filha do meu coração?" 'Stavas aflita comigo? Mãe, abracei-me contigo,

Pedi-te embalde perdão...

Chorei muito! ai triste vida!

Chorei muito, arrependida

Do que talvez fiz a ti.

Depois rezei ajoelhada

A reza da madrugada

Que tantas vezes te ouvi:

"Senhor Deus, que após a noite "Mandas a luz do arrebol, "Que vestes a esfarrapada "Com o manto rico do sol, "Tu que dás à flor o orvalho, "Às aves o céu e o ar, "Que dás as frutas ao galho, "Ao desgraçado o chorar; "Que desfias diamantes "Em cada raio de luz, "Que espalhas flores de estrelas "Do céu nos campos azuis; "Senhor Deus, tu que perdoas "A toda alma que chorou, "Como a clícia das lagoas, "Que a água da chuva lavou; "Faze da alma da inocente "O ninho do teu amor, "Verte o orvalho da virtude "Na minha pequena flor. "Que minha filha algum dia "Eu veja livre e feliz! ...

"Ó Santa Virgem Maria, "Sê mãe da pobre infeliz." Inda lembras-te! dizias,

Sempre que a reza me ouvias

Em prantos de a sufocar:

"Ai! têm orvalhos as flores,

"Tu, filha dos meus amores, "Tens o orvalho do chorar". Mas hoje sempre sisuda

Me ouviste... ficaste muda,

Sorrindo não sei pra quem.

Quase então que eu tive medo...

Parecia que um segredo

Dizias baixinho a alguém.

Depois... depois... me arrastaram...

Depois... sim... te carregaram

P'ra vir te esconder aqui. Eu sozinha lá na sala...

'Stava tão triste a senzala... Mãe, para ver-te eu fugi...

E agora, ó Deus!... se te chamo

Não me respondes!... se clamo,

Respondem-me os ventos suis...

No leito onde a rosa medra

Tu tens por lençol a pedra,

Por travesseiro uma cruz.

É muito estreito esse leito?

Que importa? abre-me teu peito

— Ninho infinito de amor.

— Palmeira — quero-te a sombra.

— Terra — dá-me a tua alfombra.

— Santo fogo — o teu calor.

Mãe, minha voz já me assusta...

Alguém na floresta adusta

Repete os soluços meus.

Sacode a terra... desperta!...

Ou dá-me a mesma coberta' Minha mãe... meu céu... meu Deus...

6º Poema: A órfã na sepultura, de Os Escravos, de Castro Alves |||orphan|||||||| 6th Poem: The orphan in the grave, from Os Escravos, by Castro Alves

A órfã na sepultura

Minha mãe, a noite é fria,

Desce a neblina sombria, descends|||

Geme o riacho no val ||stream||valley

E a bananeira farfalha, ||banana tree|rustles

Como o som de uma mortalha

Que rasga o gênio do mal. |tears||genius||

Não vês que noite cerrada? ||||dark

Ouviste essa gargalhada you heard||laughter

Na mata escura? ai de mim!

Mãe, ó mãe, tremo de medo. |||I tremble||

Oh! quando enfim teu segredo,

Teu segredo terá fim? Your|||

Foi ontem que à Ave-Maria |yesterday||||

O sino da freguesia, |bell||parish

Me fez tanto soluçar. |||crying

Foi ontem que te calaste... ||||you fell silent

Dormiste . you slept os olhos fechaste... ||you closed

Nem me fizeste rezar! |||pray ...

Sentei-me junto ao teu leito,

'Stava tão frio o teu peito, was||||| Que eu fui o fogo atiçar. |||||to stoke

Parece que então me viste ||||you saw

Porque dormindo sorriste ||you smiled

Como uma santa no altar. ||||altar

Depois o fogo apagou-se, |||went out|

Tudo no quarto calou-se,

E eu também calei-me então. |||I was silent||

Somente acesa uma vela |lit||candle

Triste, de cera amarela, ||wax|yellow wax

Tremia na escuridão. ||darkness

Apenas nascera o dia, |had dawned||

À voz do maridedia |||of the sea

Saltei contente de pé.

Cantavam os passarinhos were singing||

Que fabricavam seus ninhos |they made||nests

No telhado de sapé. |thatched roof||thatch

Porém tu, por que dormias, ||||were sleeping

Por que já não me dizias

"Filha do meu coração?" 'Stavas aflita comigo? were you|angry| Mãe, abracei-me contigo, |I hugged||

Pedi-te embalde perdão... ||in vain|

Chorei muito! I cried| ai triste vida!

Chorei muito, arrependida ||regretful

Do que talvez fiz a ti.

Depois rezei ajoelhada |I prayed|on my knees

A reza da madrugada |prayer||

Que tantas vezes te ouvi:

"Senhor Deus, que após a noite "Mandas a luz do arrebol, ||||dawn light "Que vestes a esfarrapada |are you wearing||the ragged one "Com o manto rico do sol, "Tu que dás à flor o orvalho, ||give|||| "Às aves o céu e o ar, "Que dás as frutas ao galho, |give||fruits||branch "Ao desgraçado o chorar; |||crying "Que desfias diamantes |you challenge| "Em cada raio de luz, "Que espalhas flores de estrelas |spread||| "Do céu nos campos azuis; "Senhor Deus, tu que perdoas ||||forgive "A toda alma que chorou, ||||cried "Como a clícia das lagoas, ||clutch of lagoons||the lagoons "Que a água da chuva lavou; |||||washed "Faze da alma da inocente ||||innocent "O ninho do teu amor, "Verte o orvalho da virtude see|||| "Na minha pequena flor. "Que minha filha algum dia "Eu veja livre e feliz! ...

"Ó Santa Virgem Maria, "Sê mãe da pobre infeliz." Inda lembras-te! |remember| dizias,

Sempre que a reza me ouvias |||||you heard

Em prantos de a sufocar: |sobs|||suffocate En llanto que ahoga:

"Ai! "¡Ay! têm orvalhos as flores, tienen rocíos las flores,

"Tu, filha dos meus amores, ||||loves "Tú, hija de mis amores, "Tens o orvalho do chorar". "Tienes el rocío del llorar". Mas hoje sempre sisuda Pero hoy siempre seria

Me ouviste... ficaste muda, ||you stayed| ¿Me oíste... te quedaste muda,

Sorrindo não sei pra quem. Sonriendo no sé para quién.

Quase então que eu tive medo... Casi entonces tuve miedo...

Parecia que um segredo

Dizias baixinho a alguém. |softly|| Decías en voz baja a alguien.

Depois... depois... me arrastaram... |||they dragged me Después... después... me arrastraron...

Depois... sim... te carregaram |||they loaded Después... sí... te cargaron

P'ra vir te esconder aqui. to|||| Para venir a esconderte aquí. Eu sozinha lá na sala... Yo sola allí en la sala...

'Stava tão triste a senzala... Estaba tan triste la senzala... Mãe, para ver-te eu fugi... |||||ran away

E agora, ó Deus!... se te chamo

Não me respondes!... ||you answer se clamo, |I call

Respondem-me os ventos suis... answer|||winds|my

No leito onde a rosa medra |||||thrives

Tu tens por lençol a pedra,

Por travesseiro uma cruz. |pillow||

É muito estreito esse leito? ||narrow||

Que importa? abre-me teu peito

— Ninho infinito de amor.

— Palmeira — quero-te a sombra. Palmeira||||

— Terra — dá-me a tua alfombra. |||||carpet

— Santo fogo — o teu calor.

Mãe, minha voz já me assusta... |||||scares me

Alguém na floresta adusta |||burns

Repete os soluços meus.

Sacode a terra... Shake|| desperta!... wake up

Ou dá-me a mesma coberta' |||||blanket Minha mãe... meu céu... meu Deus...