Lord Baden-Powell
Conheça a história do peculiar herói de guerra britânico e do grandioso movimento de jovens que se criou a sua volta: o Escotismo.
Os Cadetes de Mafeking
Pesquisa, roteiro e produção: Christian Gurtner
Esse episódio foi possível graças ao apoio de Soraya Pfeiffer, Ramon Mineiro, Raphael Dos Santos Maia, Raphael Santana, Silton, Heleno, Maciel Júnior, Guilherme Reis, Francisco Menezes, Mauro, Lacerda, Rogerio_AA, Fulvius, Gabriel, Roberto Potenza, Munique Vieira
LINKS CITADOS
Assista acima o trailer do episódio. Os trailers eram publicados alguns dias antes do episódio em si.
TRILHA SONORA
PRETORIUS, FRANSJOHAN. The Boer Wars. Disponível em: < http://www.bbc.co.uk/history/british/victorians/boer_wars_01.shtml>. Acesso em: 01/08/2015
SMITH, M. K. Ernest Thompson Seton and woodcraft. Disponível em: < http://infed.org/mobi/ernest-thompson-seton-and-woodcraft/ >. Acesso em: 01/09/2015
U.E.B.. Escotismo no Brasil. Disponível em: < http://escoteiros.org.br/escotismo/escotismo_no_brasil.php >. Acesso em: 02/09/2015
Robert Stephenson Smyth Baden-Powell
TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO
(As transcrições dos episódios são publicadas diretamente do roteiro, sem revisão, podendo haver ainda erros ortográficos/gramaticais e, assim, pedimos que marquem os erros e deixem uma nota para que possamos corrigí-los)
Ler a transcrição completa do episódio
Introdução
Um século de história.
40 milhões de membros no mundo, tornando-se o maior movimento de jovens do planeta.
Tudo isso devido a publicação de um livro peculiar há mais de 100 anos, escrito por um homem também peculiar.
Tente deixar o mundo um pouco melhor do que você o encontrou. E quando chegar sua vez de morrer, você vai morrer feliz, sabendo que não desperdiçou o seu tempo e fez o seu melhor possível.
Robert Stephenson Smyth Baden-Powell, ou Lord Baden-Powell of Gilwell.
A guerra dos Bôeres
África do Sul, ano de 1899.
Começava a Segunda Guerra dos Bôeres.
O povo que levava esse nome era composto por colonos de origem francesa e predominantemente holandesa. Essa era a segunda parte da guerra que teve início duas décadas antes, quando os Bôeres se revoltaram com anexações promovidas em sua região pelos britânicos, naquela que ficou conhecida como a Primeira Guerra dos Bôeres e que resultou na independência da República do Transvaal.
Porém, após o fim da primeira guerra, em 1881, a presença militar e política dos britânicos na região desagradava cada vez mais os colonos holandeses, que, por fim, através do presidente da República do Transvaal, deram um ultimato aos britânicos para que se retirassem da área, o que não aconteceu, já que os ingleses consideraram o ultimato um absurdo, estourando assim a segunda guerra na África do Sul.
O cerco de Mafeking
Com armamento equiparado aos dos britânicos, os bôeres, através de posições camufladas e táticas de surpresa, colecionaram várias vitórias no início dessa segunda guerra e também ameaçavam uma vitória ao sitiar algumas cidades estratégicas.
Sitiar cidades era uma tática muito usada desde a antiguidade, e se resumia em cercar militarmente uma cidade ou castelo, impedindo assim que nada entrasse ou saísse da mesma, o que resultava, com o tempo, na população começar a adoecer e morrer de fome, deixando a cidade com poucas opções: sair de suas trincheiras ou muralhas para lutar em campo aberto com os atacantes; se render; ou definhar até que todos morram.
Uma das cidades sitiadas pelos Bôeres era Mafeking. Cinco mil homens comandados por Piet Cronje, mantinham o cerco à pequena cidade que era defendida por aproximadamente 2000 oficiais e soldados britânicos sob o comando do então coronel, Robert Baden-Powell.
Baden-Powell se via numa posição um pouco complicada, já que, por estar em menor número, sair das trincheiras e muros para enfrentar os Bôeres era uma derrota certa. Portanto ele tinha que conseguir segurar o cerco até a chegada do reforço britânico para libertar Mafeking do cerco. Mas, dependendo de como andava a guerra, o reforço poderia demorar, ou simplesmente nunca chegar.
Assim, por sete meses, com vários truques e artimanhas, ele teve que manter os Bôeres em suas posições. Conseguiu isso usando sua grande imaginação para improvisar. Ele não tinha minas terrestres, mas fez vários de seus soldados irem até as redondezas da cidade cavar buracos, fazendo os observadores Bôeres pensar se tratar de minas. Também estacou troncos dando a impressão de se tratar de obstáculos com arame farpado, apesar de ele não possuir arame farpado para uma empreitada dessas. Mas para quem observa de longe, todo esse teatro parecia real, somando mais motivos para evitar uma invasão e manter o sítio.
Os cadetes de Mafeking
Com o número reduzido de homens na cidade, Baden-Powell passou a utilizar os serviços de 18 meninos com idade a partir de 9 anos, para realizar tarefas de entrega de mensagens nas linhas de defesa, auxílio nos hospitais e vigilância. Eles tinham seu uniforme próprio, eram bem treinados para suas funções e ficaram conhecidos como os Cadetes de Mafeking.
Baden-Powell ficou impressionado com a agilidade, coragem e dedicação com a qual os jovens cadetes faziam seu trabalho. O corpo de cadetes logo cresceu para 40 meninos. Boa parte, usando bicicletas, pedalavam de um front ao outro levando mensagens importantes, algumas vezes sob fogo pesado. Baden-Powell teria perguntando, certa vez, a um dos meninos se ele não tinha medo de uma bala acertá-lo, no que ele respondeu: “Eu pedalo tão rápido, senhor, que as balas nunca me alcançarão.”
A cobertura da mídia
Todos os acontecimentos em Mafeking chegavam com destaque aos jornais ingleses. Não se tratava de um caso especial ou da mais notável batalha da guerra, no entanto, estavam presentes na cidade sitiada alguns jornalistas que, através de corredores nativos, que conseguiam deslizar pelo cerco dos bôeres e chegar até um escritório 50 milhas distante, as notícias escritas eram telegrafadas para Londres.
Assim o Cerco de Mafeking ganhou certa fama e era acompanhado como uma novela pelos britânicos. Principalmente pelas artimanhas de Baden-Powell narradas até com certo exagero. O homem por trás do Coronel também era destaque, seu carisma e a forma como lidava com as dificuldades foram noticiadas com frases como “Um homem e um milhão”.
De fato, havia até um certa excentricidade na forma como Baden-Powell mantinha o dia a dia no cerco, sorridente, seguro de si e promovendo até peças improvisadas de teatro e jogos para manter a moral da tropa.
Mas quem era esse homem?
Robert Baden-Powell
Nascido Robert Stephenson Smyth Powell, ele perdeu o pai com apenas três anos de idade, o que fez com que mãe mudasse o nome da família para Baden-Powell em tributo ao falecido pai e como forma de diferenciar os filhos dos meio-irmãos de casamentos anteriores do marido.
Criado, assim, somente pela mãe, que fez de tudo para que os filhos obtivessem sucesso, Robert ingressa ainda jovem numa meteórica carreira militar.
Em 1876 foi para Índia como oficial e se especializou em reconhecimento e cartografia, o que no meio militar em inglês é conhecido como Scouting, algo como “exploração”. Seu talento e sucesso nessa área logo o levou a treinar outros soldados. Escreveu então o Aids to Scouting, ou Auxílio à Exploração. Ele então é promovido como o mais jovem Coronel do exército britânico
Posteriormente Baden-Powell foi para os Balcãs, Africa do Sul e Malta. Voltando então para a África do Sul, para comandar o batalhão britânico no Cerco de Mafeking.
A libertação de Mafeking
Em novembro já acontecia um revés para os Bôeres em outras frentes, obrigando Piet Cronje a levar parte de seus homens para outra localidade, deixando o comando do cerco para J.P. Snyman.
Apesar de então com menos homens, ainda sim os Bôeres representavam uma grande ameaça e a defesa da cidade não podia relaxar. Com exceção dos domingos, pois em um acordo mútuo, não havia batalhas nesse dia.
Na primeira semana de maio do ano seguinte chega a notícia de que uma coluna britânica com 1.100 homens estava a caminho para acabar com o cerco.
O Bôeres também estavam cientes dessa notícia e sabiam que teriam que conquistar Mafeking antes que o reforço britânico chegasse, acabando com qualquer chance de vitória.
Assim, em 12 de maio, um destacamento do cerco sob o comando de um jovem oficial chamado Sarel Eloff, tenta tomar a cidade. São derrotados e Eloff se rende. Ele é levado até Baden-Powell que o convida para a ceia.
Em 16 de maio, 8 milhas ao norte de Mafeking, a força de libertação britânica derrota o restante do Bôeres. O cerco chegava em seu fim e a cidade fora libertada. A população britânica vibra com o desdobramento do cerco e Baden-Powell se tornava o homem do momento.
Herói nacional
Londres, ano de 1903
Baden-Powell retorna à Inglaterra e é recebido como um herói nacional. Os tempos difíceis que parte da população britânica enfrentava, somado ao grande destaque na mídia que recebera o Cerco de Mafeking, contribuíram muito para que o coronel se tornasse famoso. Selos, cartões e músicas foram criados em homenagem ao militar.
Baden-Powell se surpreende ao ver que seu livro Aids to Scouting havia se tornado um best-seller e que, mais surpreendente ainda era um sucesso entre os jovens, e era usado por professores e organizações juvenis.
Assim, lembrando do enorme potencial que vira nos Cadetes de Mafeking, decide reescrever o livro, porém numa linguagem destinada à crianças e adolescentes e começa a elaborar ideais para aplicar nos jovens britânicos, que estavam carentes de atividades construtivas.
A inspiração americana
Enquanto isso, nos Estados Unidos, um ilustrador e naturalista de nome Ernest Thompson Seton criava um programa recreativo para jovens e crianças, que se baseava na vida ao ar livre de acordo com os nativos americanos e sua cultura. O programa se chamava Woodcraft Indians, e cada grupo que se formava era chamado de tribo. A primeira tribo fora fundada em Connecticut em 1902.
Em 1906 Seton viajou até a Inglaterra, a procura de interessados em seu programa. Lá se encontrou com Baden-Powell e lhe presenteou uma cópia do seu livro. Baden-Powell também lhe apresentou suas ideias, que dizia ter muito um comum com o objetivo do programa de Seton.
O programa de Seton, junto com a experiência cultural e militar que Baden-Powell adquiriu em suas viagens pela Índia e África, influenciaram muito na elaboração de suas ideias. Porém, enquanto o programa de Seton era puramente recreativo, Powell queria criar algo também educativo.
O acampamento de Brownsea
Assim, em agosto de 1907, o herói de guerra britânico reúne 22 meninos para realizar um acampamento experimental para testar suas ideias.
Não só o programa do acampamento era inusitado, como também a composição do grupo, já que tanto meninos abastados de escolas particulares quanto filhos da classe operária foram convidados a fazer parte do acampamento. Algo extremamente incomum para a época, mas que se tornaria um dos pilares do que Baden-Powell estava desenvolvendo.
O acampamento ocorre na Ilha de Brownsea, numa parte da mesma onde os meninos não pudessem ver a parte edificada do continente, dando então a impressão de isolamento no meio selvagem.
Na ilha, os jovens foram separados em quatro patrulhas, que receberam os nomes de animais Wolves, Bulls, Curlews e Ravens.
Cada patrulha tinha um líder, que recebera uma bandeira com a imagem do animal de sua patrulha e era inteiramente responsável pelo comportamento e comprometimento dos membros de sua patrulha. Cada membro também recebera uma pequena flor de lis de bronze, que deveria ser colocada em seus casacos. E depois de passar por alguns testes, como nós e técnicas de rastreamento, recebiam também um outro distintivo onde estava escrito “Be Prepared” — Esteja Preparado, ou como foi adaptado para o português no Brasil: “Sempre Alerta”, que deveria ser posicionado logo abaixo da flor de lis.
O acampamento durou oito dias, onde em cada dia as atividades eram direcionadas à um tema de aprendizado, como técnicas de reconhcimento e exploração, técnicas de acampamento, de vida da selva, de observação, primeiros socorros, patriotismo, e cavalheirismo, que abrangia honra, coragem, código dos cavaleiros, altruísmo, caridade, e a obrigação de fazer todo dia uma boa ação.
O último dia de acampamento foi destinado a jogos recreativos de todos os tipos. Canções também fizeram parte das atividades, porém nenhum deles se lembra de ter cantado outra canção além do Canto Zulu Eengonyama.
Scouting for Boys
O acampamento de Brownsea havia sido um sucesso e foi o último ingrediente — junto com sua experiência enquanto oficial de reconhecimento e exploração pela África e Índia e somadas a algumas das ideias de Seton, para que em 1908 Baden-Powell publicasse sua obra Scouting for Boys, traduzido para o português como Escotismo para Rapazes.
O livro fora divido e publicado em seis fascículos e foi um enorme sucesso.
Num formato de guia e até mesmo um manual, Baden-Powell tratava dos mais diversos assuntos, desde como montar um acampamento até ideias excêntricas sobre como analisar a personalidade de uma pessoa de acordo com a forma com que ela pisa. Com exceção de alguns absurdos como esse, o livro era de grande valia para os jovens. Estimulando o cavalheirismo, a educação, a vida ao ar livre e em sociedade. Ensinava técnicas de sobrevivência em locais inóspitos e também toda a tradição e funcionamento de uma tropa escoteira.
Ele explica no livro que uma tropa escoteira é dividida em patrulhas. Cada patrulha possui um líder e um sub-líder, respectivamente monitor e sub-monitor. Cada patrulha possui sua própria personalidade coletiva, autonomia e tradição, o que estimulava, assim, a vida em equipe dos jovens. Guiando a Tropa Escoteira, um ou mais adultos, chamados de Chefes Escoteiros, auxiliam os jovens em seu desenvolvimento.
Em um trecho do livro ele diz que o escoteiro nunca é pegado de surpresa. Ele está sempre preparado para todo e qualquer problema que surja. Daí o lema “Be prepared” (Esteja preparado) que foi adaptado para o português como “Sempre Alerta”.
Na verdade, Baden-Powell tratava o escotismo no livro como algo que sempre existiu, e isso talvez tenha também contribuído para que, de forma espontânea e rápida, vários jovens por toda a Inglaterra começassem a se organizar em grupos para experimentar as ideias que o herói de guerra apresentava em sua publicação.
Estava para acontecer algo que, provavelmente, Baden-Powell jamais poderia imaginar.
O Movimento Escoteiro
Inicialmente Baden-Powell tinha concebido o livro para servir como auxílio ou até uma forma de programa para que organizações que lidavam com jovens pudessem fazer uso, porém não foi esse o efeito que ele gerou e o número de tropas escoteiras que surgiam por toda a parte foi tão grande, que, pouco tempo depois Robert foi obrigado a abrir um escritório para tratar de assuntos escoteiros que não paravam de chegar até ele.
Não só na Inglaterra, mas em várias outras partes do mundo o fenômeno acontecia. Com o sucesso no estrangeiro, O Escotismo para Rapazes foi traduzido para praticamente todos os idiomas e grupos escoteiros começaram a se formar em todas as partes do mundo. Chegando nos EUA em 1910, onde o próprio Ernest Seton ajudou a fundar o Boy Scouts of America.
Nesse mesmo ano, oficiais brasileiros da marinha de guerra estavam a serviço na Inglaterra e puderam acompanhar e se impressionar com o surgimento do Escotismo, trazendo para o Brasil, então, a bordo do encouraçado Minas Gerais, exemplares do Escotismo para Rapazes, uniformes e lenços escoteiros. Fundaram então naquele ano o Boy Scouts do Brasil.
Através de seu livro, Baden-Powell havia criado um gigantesco movimento mundial de jovens, algo que não foi gradativo e sim, praticamente da noite para o dia. O Escotismo para Rapazes se tornou um dos livros mais vendidos do mundo no século XX, perdendo somente para a Bíblia, o Corão e o Livro Vermelho de Mão.
Era fundado, então, de forma estranhamente natural e rápida o Movimento Escoteiro.
O Escoteiro Chefe Mundial
Ainda em 1910, com 53 anos, a pedido do Rei, Baden-Powell se aposenta como militar para se dedicar unicamente ao movimento mundial que ele involuntariamente havia criado.
Ele viaja por todo o mundo para ajudar a organizar, encorajar e inspirar o escotismo em todos os países.
Durante a primeira guerra mundial, Escoteiros patrulhavam a costa Britânica como observadores e alguns documentos sugerem que Baden-Powell desejava treinar os rapazes com mais de 15 anos com rifles para que eles se tornassem a última linha de defesa no caso de uma invasão. Projeto esse que não foi aprovado pelo comitê de guerra, mas que dizem ter servido de inspiração para criar a Tropa Sênior, ou seja, uma tropa escoteira para rapazes com mais de 15 anos, já que o jovem sai da tropa escoteira ao completar essa idade.
Em 1920 acontece em Londres o primeiro Jamboree Mundial, que é o encontro de escoteiros de todo o mundo. Estavam presentes no evento, escoteiros de 33 países e Baden-Powell é aclamado por unanimidade como o Escoteiro-Chefe Mundial.
Nesse ano, Robert também compra o Gilwell Park para se tornar um centro internacional de treinamento de líderes escoteiros e é fundado o Escritório Mundial do Escotismo, ajudando a organizar o movimento por todo o planeta.
Em 1922 o Escotismo já contava com mais de 1 milhão de membros de acordo com o primeiro censo escoteiro realizado em 31 países.
Lord Baden Powell of Gilwell
De Herói de Guerra a Chefe Escoteiro Mundial, Baden-Powell viu sua fama se espalhar por todo o mundo. Continuava escrevendo livros e guias para o escotismo e sua dedicação não tinha fim.
No terceiro Jamboree Mundial o reconhecimento chega na forma de um título de nobreza. O Rei o George V o eleva a Barão, passando a ser conhecido então, como Lord Baden-Powell of Gilwell.
O Chefe Escoteiro Mundial recebeu ainda várias outras condecorações e honrarias por todo o mundo durante sua vida.
De volta à África
Em 1938, já com a saúde debilitada, Baden-Powell volta para África, continente que tinha tanto significado para ele, e passa a viver no Quênia.
Era para ser um local de descanso, porém ele não deixou de escrever e desenhar até seus últimos dias.
Foi então que em 8 de janeiro de 1941, aos 83 anos de idade, Lord Baden-Powell of Gilwell, herói de guerra, autor de um dos livros mais vendidos do planeta, fundador de um enorme movimento mundial de jovens e Chefe Escoteiro do Mundo, morre.
Em sua lápide, no Quênia, encontra-se a Flor de Lis, que é o símbolo escoteiro, e também um círculo com um ponto no meio. Esse é um sinal de pista, usado pelos escoteiros para deixar mensagens em trilhas ou florestas, e esse símbolo em questão significa: “Voltei para casa”.
O Escotismo hoje
O Escotismo hoje é o maior movimento de educação não-formal de jovens do planeta. Com mais de 40 milhões de membros por todo o mundo ele pratica a máxima “aprender fazendo”, e cria um mundo melhor através de pessoas melhores.
Através de técnicas escoteiras para a vida ao ar livre, como acampamentos, expedições e atividades voltadas ao meio ambiente, bem como jogos, atividades sociais e democráticas, o movimento trabalha nas crianças e jovens aquilo que é dividido em seis pontos de desenvolvimento que são o intelectual, o físico, o caráter, o social, o espiritual e o afetivo, tendo como pedra fundamental as dez leis escoteiras originais de Baden-Powell, que, apesar de diferenciar um pouco em cada país, na essência são as mesmas:
O Escoteiro tem uma só palavra; sua honra vale mais que sua própria vida.
O Escoteiro é leal.
O Escoteiro está sempre alerta para ajudar o próximo e pratica diariamente uma boa ação.
O Escoteiro é amigo de todos e irmão dos demais escoteiros.
O Escoteiro é cortês.
O Escoteiro é bom para os animais e as plantas.
O Escoteiro é obediente e disciplinado.
O Escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades.
O Escoteiro é econômico e respeita o bem alheio.
O Escoteiro é limpo de corpo e alma.
O escotismo diverte e cria jovens melhores.
Se vocês já assistiram a peça “Peter Pan”, se lembrarão como o chefe dos piratas estava sempre fazendo seu discurso de despedida, temendo que ao chegar sua hora de morrer, não tivesse tempo, talvez, de tirar do peito o que havia planejado dizer.
Passa-se o mesmo comigo, assim, embora não esteja morrendo neste momento, isto irá acontecer qualquer dia destes e desejo deixar-lhes uma última palavra de adeus.
Lembrem-se, isto será a última coisa que ouvirão de mim, portanto meditem sobre o que vou lhes dizer.
Eu tive uma vida cheia de felicidade, e desejo que cada um de vocês tenha também uma vida igualmente feliz .
Creio que Deus nos colocou neste delicioso mundo para sermos felizes e saborearmos a vida. Felicidade não vem da riqueza nem de meramente ter sucesso profissional, nem do comodismo da vida regalada e a satisfação dos próprios apetites.
Um passo para a felicidade é, quando jovem, tornar-se saudável e forte, para ser útil e gozar a vida quando adulto.
O estudo da natureza mostrará a voces o quão cheio de coisas lindas e maravilhosas Deus fez o mundo para o nosso deleite.
Fiquem contentes com o que possuem e tirem disto o melhor proveito.
Vejam o lado iluminado da vida ao invés do escuro.
Mas a verdadeira maneira de se atingir a felicidade é proporcionando aos outros a felicidade.
Procurem deixar este mundo um pouco melhor que o encontraram e quando chegar a sua vez de morrer, poderão morrer felizes sentindo que pelo menos não desperdiçaram seu tempo e fizeram o seu melhor possível.
Deste modo estejam “Sempre Alerta” para viver felizes e morrer felizes — lembrem-se sempre de sua promessa escoteira, mesmo quando deixarem de ser jovens — e que Deus os ajude proceder assim.