Por que ventilação é mais importante que limpar superfícies, segundo cientistas
Limpar todas as compras que vêm do mercado virou uma cena comum depois da chegada do coronavírus.
Se você não fazia isso antes, é bem possível que tenha passado a fazer em 2020.
Mas agora, mais de um ano depois do início da pandemia, o que sabemos sobre os riscos de uma
embalagem, quando falamos do coronavírus? Eu sou a Laís Alegretti, da BBC News Brasil
aqui em Londres, e neste vídeo eu vou falar sobre o que se sabe hoje sobre a
transmissão do coronavírus por superfícies. E também vou explicar por que cientistas
apontam que você deve prestar tanta atenção na ventilação de um ambiente.
O capítulo mais recente sobre o debate a respeito do grau de importância que
damos à higienização de superfícies vem da agência de saúde pública dos Estados Unidos.
O CDC, Centro de Controle e Prevenção de Doenças, apontou que a chance do contato de uma pessoa
com uma superfície contaminada pelo coronavírus resultar em uma infecção é menor que 1 em 10 mil.
O órgão atualizou em abril as informações sobre transmissão do coronavírus por
superfícies e afirmou que o risco é baixo. O texto diz que é sim possível que pessoas
sejam infectadas pelo contato com superfícies ou objetos contaminados,
mas que o risco é geralmente considerado baixo, se comparado com contato direto,
transmissão por gotículas ou transmissão aérea. E aqui é importante dizer que o risco de contágio
pelo ar varia muito, dependendo de fatores como quantidade de pessoas, ventilação do ambiente,
se é ao ar livre ou se não é, por exemplo, tempo de exposição e uso de máscaras adequadas.
E por que eu disse que esse é o episódio mais recente?
Porque a discussão sobre transmissão por superfícies e transmissão pelo ar
vem ocorrendo há tempos, é claro, já que tantos cientistas estão debruçados sobre esse tema pra
encontrar as formas mais eficientes de proteção. E o jeito de entender como se proteger começa,
é claro, entendendo as principais formas de transmissão do vírus.
A orientação de limpeza de produtos e de outras superfícies, como corrimão e botão de elevador,
por exemplo, virou uma das primeiras medidas lá no início da pandemia, para tentar evitar
a contaminação quando alguém toca uma área ou objeto contaminados e depois leva a mão ao rosto.
Aí, conforme os cientistas foram conhecendo melhor o comportamento do vírus, muitos
especialistas começaram, ainda em meados de 2020, a alertar sobre o que consideravam um
foco exagerado na transmissão por superfície contaminada, enquanto os cuidados, segundo eles,
com transmissão pelo ar ficavam em segundo plano. Eu conversei com a epidemiologista Adélia
Marçal dos Santos, especialista na dinâmica de transmissão de doenças infecciosas e professora de
Medicina e o que ela me disse é que ela que avalia que um fator que dificultou muito a contenção da
doença, isso no mundo inteiro, foi a dificuldade de admitir a transmissão aérea do vírus.
Foi em julho de 2020 que a Organização Mundial da Saúde, OMS, reconheceu que havia evidências
de que o coronavírus podia se espalhar por minúsculas partículas suspensas no ar e que
a transmissão aérea não podia ser descartada em ambientes lotados, fechados ou mal ventilados.
E o CDC atualizou em outubro de 2020 suas diretrizes sobre os tipos de transmissão
do coronavírus e naquele momento passou a incluir os aerossóis, considerando que a
transmissão pode ocorrer pelo ar. Esse entendimento é essencial,
segundo os especialistas, exatamente para destacar a importância de evitar locais com ventilação
ruim ou com muitas pessoas aglomeradas. No Brasil, a página do Ministério da
Saúde atualizada em abril de 2021 menciona, sem entrar em muitos detalhes, que o coronavírus "é
transmitido principalmente por três modos". E aí eles citam: contato, gotículas ou por aerossol.
Bom, e nesse contexto em que muitos especialistas passaram a defender
que governos e indivíduos estavam dando pouca atenção para os riscos da transmissão pelo ar,
foi criado um termo: teatro da higiene. Ele foi usado em um artigo na revista
The Atlantic em que o autor Derek Thompson diz que "o teatro de higiene pode retirar recursos
limitados de objetivos mais importantes". A expressão teatro da higiene passou a ser
usada para definir situações em que medidas insuficientes ou ineficazes dão o que seria
uma falsa sensação de segurança em relação ao combate ao coronavírus.
Imagine, por exemplo, um estabelecimento com funcionários fazendo a limpeza de
mesas e cardápios com alguma frequência, mas sem medida alguma para garantir uma
boa ventilação naquele local ou para exigir o uso de máscaras apropriadas.
Essa é a descrição de uma cena que poderia dar a falsa sensação de segurança, segundo me
falou o engenheiro biomédico Vitor Mori. O que ele explicou é que essas
medidas têm um apelo visual. Quer dizer, a gente vê algo sendo feito e tem
uma sensação de conforto e de segurança, como se aquilo garantisse que o coronavírus não está ali.
Diante disso, qual a recomendação dele? Ele diz que as pessoas devem prestar mais
atenção em medidas como priorizar ambientes ao ar livre (ou com a maior ventilação possível),
fazer distanciamento físico e usar boas máscaras, bem ajustadas ao rosto.
E, por favor, isso tudo não significa que você tá livre de lavar suas mãos ou mesmo de higienizar
produtos que serão tocados durante o preparo e ingestão de alimentos. Aliás, essa higiene
é importante não só por causa do coronavírus, mas também devido a outras doenças infecciosas,
segundo a professora Adélia Santos. Ela também diz que um fator que dificulta
esse debate sobre a transmissão pelo ar é que a melhoria na ventilação de estabelecimentos,
como lojas e prédios empresariais, geralmente significa um investimento alto.
Sobre esse tema, a OMS divulgou neste ano um documento com indicação de estratégias para
melhorar a ventilação de ambientes internos e com isso reduzir riscos de transmissão do coronavírus.
O arquivo, que é em inglês, traz recomendações técnicas sobre ventilação mecânica e natural e
aponta que algumas delas devem ser avaliadas com profissionais dessa área de aquecimento,
ventilação e ar condicionado. Antes de terminar, é importante dizer
aqui que temos visto muita evolução na compreensão sobre esse vírus.
E a gente, da BBC News Brasil, vai continuar acompanhando cada novidade e trazendo todo esse
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