Covid-19: o que explica internações e casos raros de morte mesmo após vacina?
Você já deve ter visto histórias de pessoas que pegaram covid ou morreram de complicações
da doença mesmo após tomarem a vacina.
Um caso recente foi o do cantor Agnaldo Timóteo.
Ele já havia tomado a segunda dose quando começou a apresentar sintomas e morreu semanas depois
Eu sou Luís Barrucho, repórter da BBC News Brasil aqui em Londres, e neste vídeo vou explicar
o que há por trás de internações e mortes mesmo após tomar a vacina.
Primeiro de tudo: casos como o do Agnaldo Timóteo são raros,
apesar de amplamente noticiados pela imprensa.
E não significam que as vacinas não funcionam.
Mas para saber por que esses casos raros acontecem, a gente precisa entender qual é
a função de uma vacina.
Eu conversei sobre isso com a microbiologista Natalia Pasternak.
Segundo Pasternak, as vacinas "reduzem a chance de ficarmos doentes, a chance de precisarmos
de hospitalização e a chance de morrermos".
E foi exatamente isso que os testes de eficácia das principais vacinas disponíveis no Brasil
e no restante do mundo têm mostrado.
A taxa de eficácia geral da CoronaVac, a vacina mais usada no Brasil, é de 50,38%,
por exemplo.
E a proteção é de 78% para casos leves, segundo informou o Instituto Butantan em janeiro.
Isso significa que a vacina reduziu em 50,38% o número de casos sintomáticos entre os
voluntários da pesquisa e em 78% o número de infecções leves.
No Chile, onde a CoronaVac também é a vacina mais aplicada, testes recentes de larga escala
mostraram resultados até mais otimistas.
Segundo o Ministério da Saúde chileno, um estudo com 10,5 milhões de pessoas mostrou
que o imunizante tem 80% de efetividade para prevenir mortes, 14 dias depois da segunda dose
Os resultados mostram que a vacina chinesa foi efetiva em 89% para evitar a internação
de pacientes críticos em UTIs, em 85% para prevenir as hospitalizações e 67% para impedir
a infecção sintomática da doença.
Para entender como a vacina funciona, muitos epidemiologistas recorrem à analogia
do goleiro.
Uma boa vacina é como se fosse um bom goleiro.
Isso não quer dizer que ele é invicto, que nunca vai deixar de tomar gol.
Mas, mesmo se tomar gol, ele não deixa de ser um bom goleiro.
Precisamos olhar o histórico dele.
Se o time dele for ruim, ele vai tomar mais gol, porque vai ter muito mais bolas indo
para o gol.
Então, claro, a probabilidade dele errar, aumenta.
Em outras palavras: se as pessoas não usarem máscara, se aglomerarem, vai haver muito
mais vírus circulando, então a probabilidade de haver mais casos e, consequentemente, mortes,
é maior.
E se a pessoa infectada já tiver doenças associadas, as chamadas comorbidades, como
obesidade, diabetes, hipertensão, a chance de desenvolver o quadro mais grave
da doença é maior.
Mesmo se essa pessoa já tiver sido vacinada.
Conclusão: vacinas funcionam, mas não são infalíveis.
Nenhuma oferece proteção de 100%.
Mas, apesar de essa probabilidade ser pequena, quanto mais a doença estiver circulando,
maior é a chance de a vacina falhar.
Um adendo importante: há evidências de que pessoas totalmente vacinadas também têm
menos probabilidade de ter infecções assintomáticas e, potencialmente, menos probabilidade de
transmitir o vírus a outras pessoas.
Essas evidências foram observadas em países onde a vacinação está mais avançada, como Israel.
Lá, as infecções entre as pessoas com mais de 60 anos caíram 77% até 24 de fevereiro,
enquanto as hospitalizações nesta mesma faixa etária foram reduzidas em 68%.
Mais um dado que mostra o que já sabíamos: a vacina é uma ferramenta essencial para
controlar a pandemia.
Mas não podemos esquecer de tomar as duas doses.
Todos os estudos de eficácia das vacinas disponíveis no Brasil para combater a covid
mostraram a imunização completa somente 14 dias depois da segunda dose.
Um levantamento recente realizado pelo Ministério da Saúde apontou que pelo menos 1,5 milhão
de pessoas que tomaram a primeira dose da vacina contra a covid no país não completaram
o esquema vacinal com a segunda dose.
E um estudo realizado na Universidade do Chile identificou que uma única aplicação da
vacina fornece proteção contra infecções de apenas 3%.
Essa mesma proteção sobe para 56,5% duas semanas após a segunda dose.
Esses números foram calculados levando em conta as vacinas atualmente aplicadas no Chile,
a CoronaVac e a Pfizer.
E só para concluir: a assessoria de Agnaldo Timóteo, de quem eu falei no começo do vídeo,
informou que ele havia tomado a segunda dose dois dias antes de ser internado, o que sugere
que ele foi infectado entre a primeira e segunda doses.
E, de novo, isso é algo que pode acontecer pois, como eu disse, a proteção mesmo só depois
de 14 dias da segunda dose.
E mesmo após esse período, o risco ainda existe.
Por isso, é importante continuar se protegendo.
Eu fico por aqui.
Espero que você tenha gostado do vídeo.
E já se inscreveu no nosso canal no YouTube?
É só clicar aqui no sininho que fica embaixo dos nossos vídeos.
Nos acompanhe também no nosso site, o bbcbrasil.com, e nas redes sociais.
Até a próxima!