PULANDO A CERCA
Porra, 40 ovos por dez reais
é um esculacho com a galinha já, entendeu?
Porra,
é um ser vivo também, sabe?
Boa tarde.
Ô, seu Flávio.
Cadê o Almir, Henrique?
Cadê o Almir?
O Almir saiu.
Saiu?
-Ele estava ali no... -Você está escondendo
-alguma coisa de mim, Henrique? -Não estou, não.
Seu Almir estava saindo aqui. Deve estar aqui na área mesmo.
Aqui perto. Ele foi...
Meteu foi dois gols no teu time, Herculano.
Fica ligado, que a vida é assim.
Herculano. Perturbando por causa de...
Ih, seu Flávio aí. Eita, coisa boa.
Tamo que tamo, hein, seu Flávio?
Isso aqui vai ficar bonito.
-Não é não, Henrique? Coisa boa. -Vai ficar bonito.
Onde você estava, Almir?
Fui comprar uma broca aí.
Prego, cola, essas coisas que a gente precisa pra cá.
Estranho, nunca vi ninguém ir comprar broca
e ficar feliz desse jeito.
Não, mas broca é muito bom pra gente.
Broca, makita, quando a gente tem um dinheirinho pra comprar,
a gente compra mesmo. Aí dá até uma alegria.
O que é que foi?
-E essa camisa suja de tinta aqui? -É roupa suja. É besteira.
A gente não usa roupa limpa, não.
-Não, isso é tinta fresca. -Não é, não.
Eu só não estou vendo tinta verde aqui, olha.
Agora, quem é que está pintando a casa de verde, Almir?
Não é nada disso que o senhor está pensando, não.
Você está fazendo obra em outro lugar, Almir?
-Não, pelo amor... -Você está fazendo obra
em outro lugar enquanto você está fazendo minha obra, Almir?
Jamais, o senhor pra mim é exclusividade, senhor.
-Exclusivo. -Você me falou que faz isso
-em toda obra sua. -O que é isso, seu Carlos...
-Carlos? -É o Flávio.
Seu Flávio. Minha cabeça está até cheia.
-Carlos é outro rapaz. -Quem é Carlos, Almir?
Carlos é coisa de passado
que uma vez eu chapisquei o muro da casa dele,
mas está me ligando igual a um desesperado. Né, Cleber?
-Chato pra caralho. -Por que comigo ia ser diferente?
-É diferente, sim. Ô, gente. -Por que comigo ia ser diferente?
-Porque eu sou burro. Burro, burro! -Não. Ai, não bate, não.
-É burro! É burro! -Não faz isso. Chama a polícia.
Faz isso, não. Não bate na cara assim, não, pelo amor de Deus.
Você nem se protegeu. Essa camisa toda suja.
-Você sabia disso, não sabia? -Sabia, não.
-Não! -Toda hora me via...
O palhaço andando ali, enquanto Almir pintava tudo de verde.
E o palhaço andando aqui, não é isso?
Que isso? Jamais ia fazer o senhor de palhaço!
É por isso que essa obra não anda!
É por isso que essa obra está parada!
Essa obra não anda por causa da chuva, não é Henrique?
É uma obra interna, seu safado!
-Cachorro! -Tapa na cara não...
Tudo bem, a gente tinha combinado exclusividade, não tinha?
-Sim, é. -Mas agora você quer abrir,
-não quer? -Não!
Quer abrir, vou ligar pro Valter, ele vai fazer um orçamento...
Dona Kátia, deixa eu explicar uma coisa pro senhor!
-Dona Kátia? -O que eu falei?
Falou "Kátia", porra.
Pode dar o tapa!