Trump x Biden: o que eles propõem para os EUA e o mundo?
[Oct 28, 2020].
Os americanos já estão votando, e não só pelo correio como também presencialmente.
Mas, oficialmente, Donald Trump e Joe Biden se enfrentarão no dia 3 de novembro.
E ambos dizem que o futuro do país estará em jogo.
Mas o quanto as propostas deles são realmente diferentes?
Eu sou Camilla Costa, da BBC News Brasil em Londres, e dessa vez estou aqui para falar sobre as diferenças - e algumas semelhanças - entre o que Trump e Biden propõem para os Estados Unidos nos próximos quatro anos.
Isso é importante porque muitas das propostas envolvem a relação do país com outros, incluindo o Brasil; ou causam impacto em acordos que envolvem o mundo inteiro, como o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas.
Para começar, o atual presidente Donald Trump, republicano, e o seu oponente Joe Biden, democrata, discordam bastante a respeito do que fazer em relação à pandemia de Covid-19, que já matou mais de 225 mil pessoas e continua sendo um problema sério nos Estados Unidos.
Pois bem, Trump diz que não se deve ter medo da doença, nem deixar que ela domine a vida das pessoas.
Para ele, a prioridade é evitar os confinamentos e manter a economia aberta.
O presidente também é contrário a obrigar o uso de máscaras em nível nacional, ele prefere que cada Estado tome sua decisão.
Aliás, ele mesmo costuma aparecer sem máscara em eventos públicos.
E testou positivo para a Covid-19 em outubro, assim como a primeira-dama, Melania.
Por isso, teve comícios e debate cancelados.
Trump também costuma reclamar da Organização Mundial da Saúde e ordenou que os Estados Unidos saíssem do órgão.
Por outro lado, ele destinou dez bilhões de dólares para acelerar o desenvolvimento de uma vacina e de tratamentos contra a Covid-19.
Esse último ponto é algo em que o republicano e o democrata Joe Biden concordam, que investir na vacina e em tratamentos é necessário.
Mas a semelhança para por aí.
Biden afirma que é preciso “levar o vírus a sério” e “seguir o que diz a ciência”, porque a doença “não vai embora automaticamente”.
Ele também sempre aparece de máscara em público e já afirmou que fará “todo o possível” para que os americanos também a usem.
Além disso, prometeu reverter a saída da OMS e também falou em criar um programa nacional de rastreamento de contatos, para localizar possíveis infectados, e oferecer testes gratuitos.
E com relação ao Brasil?
Bom, Trump se mostra alinhado ideologicamente com o Jair Bolsonaro.
Os dois dizem ter uma ótima relação - o presidente brasileiro volta e meia se refere ao americano como seu amigo .
Bolsonaro já foi recebido por Trump, que evitou criticá-lo, por exemplo, pelo aumento do desmatamento e dos incêndios na Amazônia, que foram comprovados, (vale lembrar), por dados e por imagens de satélites da Nasa e do próprio governo brasileiro.
Por outro lado, Trump já disse, que durante a pandemia, o Brasil não estava em uma boa situação em relação ao enfrentamento do vírus, em comparação com seu próprio país.
Os Estados Unidos de Trump endossaram a entrada do Brasil na OCDE, o grupo das economias mais ricas do mundo, e fecharam um mini acordo comercial com o nosso país.
Mas os dois avanços ainda são vistos com cautela por especialistas nesses temas, já que ainda não se reverteram nem em entrada do Brasil no grupo, nem em reais vantagens comerciais.
Já Joe Biden nunca se manifestou publicamente sobre a entrada do Brasil na OCDE.
E os parlamentares do partido democrata na Comissão de Orçamentos e Tributos da Câmara dos Deputados americana assinaram, esse ano, uma carta se dizendo contrários ao avanço de qualquer pacto comercial mais abrangente com o Brasil sob o governo Bolsonaro.
Vale lembrar que, independentemente de quem ocupe a Casa Branca, qualquer acordo comercial tem que ser aprovado pelo Congresso americano.
Mas o que chamou mesmo a atenção durante a campanha foi o tema ambiental, algo que tem se mostrado importante no discurso dos democratas.
Em um debate contra Trump, Joe Biden falou do desmatamento na Amazônia e propôs a criação de um fundo global de vinte bilhões de dólares para que o Brasil preservasse a floresta em pé.
Se isso não funcionasse, o Brasil deveria sofrer “consequências econômicas”, segundo ele.
O governo Bolsonaro acusou o democrata de atacar a soberania brasileira e disse que Biden fez “ameaças covardes”.
Os dois também pensam diferente sobre outros temas na América Latina: enquanto Trump quer cortar todo o fluxo de migrantes do México e da América Central, Biden diz querer cooperar com esses países em temas como violência e pobreza, que fazem com que as pessoas queiram migrar.
Trump reverteu a reaproximação com Cuba, iniciada no governo Obama, e voltou a um clima de Guerra Fria com a ilha.
Biden quer retomar a doutrina Obama e transformar os cubanos que vivem nos Estados Unidos em “embaixadores da liberdade”.
Ambos concordam, no entanto, sobre Nicolás Maduro, presidente da Venezuela.
Trump o chama de “tirano”, Biden de “ditador”.
Mas enquanto o atual presidente aumentou as sanções econômicas sobre o país, o democrata diz que as sanções devem ser apenas uma das ferramentas da estratégia, que também deve incluir ajuda humanitária e até um status de proteção a venezuelanos que vivam nos EUA ilegalmente.
Há outras questões nas quais Trump e Biden concordam, mesmo que sua abordagem não seja necessariamente a mesma.
Tanto o republicano quanto o democrata disseram que seria importante estender o pacote de ajuda financeira aos americanos por causa da pandemia.
Trump não conseguiu negociar estes benefícios com o Congresso, e os estendeu por ordem executiva até o ano que vem.
Mas os democratas, incluindo Joe Biden, querem um pacote de benefícios ainda maior, que inclua ajuda a pequenos empresários, a escolas, estados e municípios, algo que Trump não contempla.
E por tempo indefinido, enquanto durar a crise.
Trump e Biden também concordam que os produtos e serviços que o governo americano compra devem ser produzidos dentro do país, para estimular a indústria americana.
Na política externa, ambos apoiam os acordos históricos entre Israel e países como os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, que foram anunciados por Trump.
Os dois candidatos também defendem a desnuclearização da Coreia do Norte.
Mas Trump aposta na sua própria relação com King Jong-un, enquanto Biden quer uma estratégia coordenada com outros países, incluindo a China.
A China, aliás, é um dos principais pontos de discordância entre os dois.
Durante o governo Trump, teve início uma forte guerra comercial com a China, que já é chamada por alguns analistas de “nova guerra fria”.
Os dois países chegaram assinar um acordo de reaproximação comercial, mas Trump ainda coloca a possibilidade de rompimento entre eles.
Mas isso teria um impacto enorme na economia mundial, na implantação de novas tecnologias, na logística da exportação e importação de produtos...
Joe Biden diz que essa guerra comercial é desastrosa e que os eventuais abusos comerciais da China devem ser enfrentados juntamente com outros aliados dos Estados Unidos na arena internacional.
A imigração também é um tema que separa republicanos e democratas… mas talvez um pouco menos do que se imagine.
O governo Trump certamente adotou uma política de tolerância zero com imigrantes, especialmente os sem documentos, que chamaram a atenção do mundo.
Houve a separação de famílias na fronteira com o México em 2018, a promessa de construção do muro, sobre a qual eu falo em outro vídeo aqui no nosso canal, e o fim do programa DACA, que protegia os dreamers, os imigrantes sem documentos que chegaram aos Estados Unidos quando crianças.
Algo inclusive que a Suprema Corte americana impediu o governo de concretizar.
Trump agora quer fazer com que os que não têm documentos não possam receber assistência social, média ou fazer matrícula gratuita em universidades.
Também quer limitar a concessão de refúgio no país e a concessão de vistos mesmo a estudantes e a profissionais qualificados.
Biden se opõe a essas medidas.
Mas isso não quer dizer que os democratas proponham um país completamente aberto.
No governo Obama, quando Biden era vice-presidente, houve um alto número de deportações de migrantes que tentaram entrar ilegalmente no país, algo do que Biden agora procura se afastar.
Ele diz que considera a separação de famílias uma “vergonha nacional”.
O democrata também não pretende continuar a construção do muro, mas, diz que quer reforçar as barreiras e os pontos de controle que já existem.
Ele quer flexibilizar a concessão de vistos temporários a profissionais qualificados, mas só em setores onde haja escassez de mão de obra local.
Por outro lado, Biden propõe uma reforma migratória que abra caminho para dar cidadania aos migrantes que já vivem há muitos anos no país, como os 'dreamers' (os sonhadores).
As questões ambientais também colocam Trump e Biden diretamente em rota de colisão.
Enquanto o atual presidente é considerado um cético das mudanças climáticas e já questionou algumas vezes o consenso científico sobre esse tema, Biden o leva a sério.
Trump tirou os Estados Unidos do Acordo de Paris para as mudanças climáticas, o que foi visto como um golpe no principal mecanismo para obrigar as nações a aumentarem suas metas de redução de emissão de poluentes na atmosfera.
Mas Biden quer colocar o país de volta.
O democrata também prometeu uma economia com energia 100% limpa e zero emissões no mais tardar até 2050, e diz que investirá dois trilhões de dólares nisso.
Trump, por outro lado, sinaliza a predileção pela indústria de combustíveis fósseis e revogou leis ambientais da era Obama.
Vou deixar aqui na descrição do vídeo o link para o nosso especial interativo sobre as propostas de Donald Trump e Joe Biden.
Depois dá uma olhada lá.
Nós vamos continuar acompanhando as eleições americanas.
Fica aqui com a gente, que vai ter mais vídeo e mais conteúdo também no nosso site, bbcbrasil.com Tchau!