Estou na porta, tá? Beijo.
Oi.
Oi.
O que está acontecendo? Que roupa é essa, Michelle?
No evento no Face estava escrito "festa junina".
Eu que lhe pergunto o que está acontecendo aqui,
que não tem uma bandeirinha.
Eu não jantei, pensando na canjica com aquela canela em cima.
No milho verde, que chega a manteiga derrete.
Eu estou morrendo de fome.
Aqui não tem merda nenhuma para comer!
Come o pepino da minha gim tônica.
Amiga, a gente precisa falar sobre esse look.
Você gostou? Peguei o vestido da minha irmã.
Fiquei horas me montando.
Cara, em que mundo você vive?
Sério! Isso aí é apropriação cultural, tá?
Você está ridicularizando o povo campesino.
Apropriação.
Você está com o dente preto.
Você está com uma anágua. Você está com um avental.
Você está com sardinha na cara.
Você está sacaneando o melasma do trabalhador rural
que fica o dia todo no sol para sustentar a família dele.
Você acha isso legal?
Pelo amor de Deus, cara!
A Juliana está aqui
com a família dela, que é do interior.
Se eles te virem aqui...
Que bobagem, cara! Isso é tradição.
Vocês que não sabem aproveitar uma festa junina.
Cadê a quadrilha?
-Cadê o casamento na roça? -Não fala isso.
Casamento caipira é...
Espero que ela não tenha escutado.
O casamento caipira é uma atrocidade.
Na maioria das vezes,
é quando um pai pega a filha, menor de idade,
e troca por 6 cabeças de gado.
Você acha isso legal? Você apoia isso?
Eu não apoio. Entendeu? Não dá para te defender assim.
Eu não tinha pensado dessa forma.
Ah, pensa... Pensa.
Mas, nesse friozinho, vale uma fogueirinha.
Ah, uma fogueirinha?
Um desmatamentozinho florestalzinho?
Um crimezinho ambientalzinho?
-Está puxado mesmo, né? -É... Reflete.
É...
Podia ter, pelo menos, um correio do amor
para entrosar essa galera aqui.
Gente, eu vou resumir "correio do amor"
em uma palavra para você: assédio.
Você está problematizando as coisas, sabe?
As coisas não são assim, não, cara.
Pelo amor de Deus!
Olha lá. Olha ali um homem também fantasiado.
-Anarriê! Ai, ai, sô! -Pelo amor de Deus!
Aquele ali é o primo da Juliana, da família do interior, porra!
Chefe, a barraca do beijo é aqui.
Prostituição comendo solta em plena luz do dia.
Já acionei a PM.
Também estou vendo pesca ilegal,
com os peixes todos enfiados na areia,
com grampo na boca do peixe.
Isso chega a ser até maldade.
Olha, tem o pau de sebo que está cheio de gordura aqui também, chefe.
O pessoal vai escorrer, vai se machucar.
E ali, olha. Cárcere privado. Abuso de poder.
Formação de quadrilha com menor.
Chefe, isto daqui vai dar merda.
Vem para cá.