OS RIOS DE SÃO PAULO - EDUARDO BUENO - YouTube
O canal Buenas Ideias cumpre as suas promessas!
O canal Buenas Ideias mata a cobra e mostra o pau!
Mas mata a cobra na época certa né, se não quem vai pro pau é o matador, como você
verá.
O canal Buenas Ideias prometeu, faz um tempo, que teríamos um episódio sobre o Rio Anhangabaú.
Então se prepare para entrar nesse baú de histórias incríveis porque eu não vou falar
só sobre o rio Anhangabaú, eu vou falar sobre o Anhangabaú, sobre o Tamanduateí,
eu vou falar sobre o riacho Ipiranga, sobre o rio Ipiranga, e vou falar sobre o Pinheiros
e o Tietê, os rios de São Paulo.
Os rios de São Paulo que são sempre notícia!
Os rios de São Paulo que sempre estão fazendo história!
Sabe como?
Inundando a cidade!
Inundando a cidade!
Ainda bem.
"Enchente, enchente, os rios de São Paulo engolem a gente!".
Cara, você já viu aqui no episódio "O Nascimento de SP" que São Paulo surgiu numa colina meio
que em forma de triângulo que era um lugar sagrado pros tupiniquins.
E era um lugar sagrado mesmo, era um lugar de poder, né, pra usar a expressão maravilhosa
que o Carlos Casteñeda, o guru do peyote, criou pra definir lugares geomânticos, lugares
onde as linhas energéticas da terra se vinculam ao cosmos.
Então havia essa colina, né, e de um lado, do lado esquerdo da colina, era o rio Anhangabaú,
do outro lado o rio Piratininga, depois chamado de Tamanduateí.
Anhangabaú, que quer dizer Anhangabaú, cara?
Quer dizer rio do Anhangá.
E que que era Anhangá?
Anhangá era uma entidade, era um elemental, era um veado branco com os olhos vermelhos
de fogo que aparecia na frente do caçador que tinha caçado fora de época, que tinha
caçado ou que tinha matado fêmeas prenhas, ou que tinha matado filhotes, ou que tinha
matado animais na época do estanco, quando não podia matar.
Ou seja, eles sabiam qual era a época de caçar e qual não era a época de caçar.
Então quando um caçador incauto ou cretino ia lá e matava, aparecia um veado branco
de olhos vermelhos... não vem fazer piada de veado aqui tá.... tchhh, dava um olhar
fulminante e o cara enlouquecia!
Os jesuítas que seriam responsáveis pela fundação da cidade de São Paulo, né, na
verdade eles fundaram um colégio, o colégio São Paulo de Piratininga, eles escolheram
a data, escolheram o local, fizeram o feng shui, fizeram o mapa astral, fizeram toda
uma ritualização, fizeram toda uma sacralização da colina que já era sagrada por si, e não
entenderam nada do Anhangá, disseram, traduzem Anhangá por Diabo, demônio.
Não é um diabo, não é um demônio, nem é um espírito mau!
É um espírito protetor da caça!
O fato é que esse Vale do Anhangabaú era densamente florestado, era recoberto de árvores,
e o rio circulava por ali murmurante, insinuante, sinuoso...
E ali, só o xamã podia descer.
Era um rio tabu, os indígenas normais, os os caras que nem você, não podiam ir ali,
só gente que nem eu assim podia descer ali, só o xamã, só o xamã!
Só o pajé podia ir ali efetuar os seus rituais, as suas beberragens com cauim, as suas defumações
com ervas sagradas, ter as visões e se comunicar com os espíritos.
Era um rio sagrado!
Por isso que até hoje, né cara, tu passa ali no Vale do Anhangabaú, onde fica o Viaduto
do Chá, na capital do café, né, tu cara, tu sente uma vibe ali, cara, tem uma vibe
ali que vou te contar né.
Aí esse rio ele era menor, ele fazia uma curva assim em si e jogava suas águas de
encontro, já era um afluente do Tamanduateí.
Só que nesse trecho da colina o Tamanduateí era chamado Piratininga, que quer dizer "o
rio do peixe seco", porque ali tinha um afloramento de rochas onde os peixes faziam a piracema
e os indígenas os capturavam ali e os colocavam pra secar né ehehe fazer charque, charque
de peixe, essa foi boa, fazer peixe seco, piratininga quer dizer peixe seco!
Mas o rio chamava Tamanduateí.
"Hy", você já aprendeu aqui no canal Buenas Ideias, quer dizer rio, quer dizer água.
"hu", Anhangabaú, também, é por causa da prosódia tupi, das complexidades da gramática
e a sonoridade do tupi que "hu" quer dizer a mesma coisa que "hi", então Anhangabaú,
o rio do Anhangá, e Tamanduateí o rio do Tamanduá.
Um dos afluentes do Tamanduateí entraria pra história com o nome de Hy Piranga.
Piranha = vermelho, vermelho vem de verme cê sabe né hehehe pior que a palavra vermelho
vem de verme mesmo, né, mas Piranga quer dizer vermelho em tupi e rio.
Rio vermelho, era um rio barrento, depois ficou um rio cinza, um rio podre.
Como, aliás, o Tamanduateí e o Anhangabaú!
O Anhangabaú nem mais existe né, o Anhangabau está soterrado!
O Anhangabaú está soterrado, ele todo foi canalizado, ele era sinuoso, ele foi primeiro
retificado e aí canalizado.
E São Paulo entra pra história e a gente, nos ensinam no colégio que São Paulo foi
fundada por causa do Tietê e alguns um pouco mais esclarecidos acham que foi fundada por
causa do Tietê com o Pinheiros, o encontro do Pinheiros, do rio dos Pinheiros, não sei
como era o nome em tupi, mas eu acho que estava ligado a Rio dos Pinheiros, e o Tietê.
Mas não cara, o Tietê só entra na história muito depois, o Tietê só entra na história
de São Paulo de fato por volta de 1650, 1630, por aí.
Os rios principais de São Paulo eram primeiramente o Anhangabaú, o rio sagrado, e o Tamanduateí,
o rio que dava alimento pra cidade, né, mas pra chegar a eles da Baixada Santista, eles
subiam pelo caminho do Padre Anchieta, na verdade pela trilha dos tupiniquins, né,
subiam a grande muralha da serra do mar, chegavam nas nascentes do Rio Pinheiros (!) e aí iam
de rio até onde o rio Pinheiros se encontra hoje com a Rebouças, com a ponte Cidade Jardim...
(Errou animal, é ponte Eusébio Matoso!)
e parava ali.
O padre Fernão Cardim fez uma viagem, em 1595, e ele descreve cara, o Rio Pinheiros,
como um rio sublime, um rio maravilhoso, um rio repleto de flores e de folhagens que se
deitam sobre o rio, e um rio de de de corredeira!
De corredeira!
E todo sinuoso.
Aí parava ali onde é a Rebouças, subia até o topo Caaguaçu, agora você já sabe
tudo sobre o Caaguaçu que é a cordilheira central, o espigão central, descia pelo que
viria a ser a rua da Consolação, e chegavam lá no triângulo histórico.
Então o segundo rio mais importante de São Paulo foi o Pinheiros, hoje canalizado, hoje
morto, inclusive não sei se você sabe né, a represa Bilings fez com... construída não
sei quando, não pesquisei agora, depois aparece aqui a data da represa Bilings, fez com que
o curso do Pinheiros fosse invertido!
O Pinheiros, em vez de correr em direção ao Tietê, agora corre ao contrário!
O Pinheiros é um rio morto!
E o Tietê foi considerado uma época o rio mais poluído do mundo!
O Tietê nem chamava Tietê, de início, chamava Anhembi, né, que é um nome que os paulistas
tanto prezam, né, fizeram uma revista literária muito legal nos anos 20, do século 20, chamada
Anhembi, né, tem todo um movimento né, São Paulo ainda tem a palavra "anhambi", "anhambi"
quer dizer "anhuma", que é aquela, é uma ave, uma ave metida a garça assim, uma porra,
anhuma, que enchia aquele rio inteiro.
E aí cara, o Tietê passou a intrigar grandemente os paulistas, os sertanistas paulistas, porque
em vez de correr pro mar ele alhures, para o interior ignoto da nação.
Corria, cara, um rio corre pro mar, como que aquele rio corria ao contrário!?
Corria pro oeste!
Então eles logo começaram a supor, né, ou se diz isso, né, porque os paulistas também
eram espertos pra cacete né, os sertanistas bandeirantes paulistas, e tinham absorvido
muito rapidamente todo o conhecimento geográfico dos índios, que era espantoso, né, não
sei se tu sabe, né, mas os índios sabiam tudo de tudo, eram capazes quase de desenhar
as bacias hidrográficas, a altura dos morros, sabiam tudo, tudo, né, então devem inclusive
ter dito pra eles pra onde ia o rio Tietê.
Mas eles achavam que o rio Tietê chegaria em grandes riquezas e o rio Tietê chegava
em grandes riquezas!
Porque a partir de 1700, mais especificamente 1720, o bandeirismo paulista que era todo
feito a pé, pelos a pés, né, pelos peabirus, pelas trilhas indígenas que os bandeirantes
usaram pra percorrer todo o Brasil, e escravizar índios, essas excursões a pé ganharam a
sua versão fluvial, as monções, as monções, que é um dos episódios mais incríveis da
história do Brasil, o Sérgio Buarque de Holanda a quem eu venero, adoro, tem um livro
incrível chamado "As Monções", que conta a história das viagens que iam, saíam da
atual cidade de Porto Feliz, que na época chamada Araritanguara, Araritaguara, hoje
Porto Feliz, a 155 quilômetros a oeste da cidade de São Paulo, as canoas, saíam grandes
comboios de canoas saíam de lá até Cuiabá, onde tinha sido descoberto o ouro, né.
Essa era uma marcha fluvial de 3644 quilômetros, que demorava 5 meses, é uma jornada tão
maravilhosa, tão maravilhosa que eu podia sacanear você e dizer que ia fazer esse episódio
só para os membros, só para os membros do canal Buenas Ideias, e talvez eu faça só
para os membros!
Mas não, é um episódio tão incrível que eu vou fazer esse episódio sobre as monções
no futuro e aberto, mas algumas curiosidades inacreditáveis das monções, né, que foram
essas grandes viagens fluviais dos bandeirantes paulistas, eu farei apenas para os membros,
inclusive daí os membros poderão voar com esse pequeno hidroavião maravilhoso ó vmmmm,
e aí vão sair de São Paulo vmmmm, sobrevoar todos os rios e descer.
Então é o seguinte, cara, você nunca vai poder entrar duas vezes no mesmo rio, como
já disseram os filósofos gregos...
Também há o mistério da terceira margem do rio, não é, todos nós sabemos que as
civilizações surgiam nos rios, no Tigre, no Eufrates, no Nilo, não há civilização
sem rios, o homem depende dos rios.
Então, quando você pega São Paulo e o Brasil e todos os rios estão podres, e todos os
rios estão mortos, é porque esse é um país bastante podre e está a um ponto de morrer,
então graças a deus que de vez em quando esses rios se enchem e engolem a cidade de
São Paulo, porque enquanto esses rios não forem limpos, esse país não será um país
limpo.
E tenho dito.