O BRASILEIRO DEGREDADO - EDUARDO BUENO (1)
Cara, tu tá há uma semana já sem comer, sem dormir, ligado ali na internet, no Youtube,
dizendo "quando é que vai chegar, quando é que vai chegar a segunda parte do episódio
do Carvalhinho!?".
Pois chegou cara, é agora, a gente vai contar, EU vou contar pra você o que que aconteceu
com esse cara que eu resolvi chamar de "o primeiro brasileiro", o incrível piloto João
Lopes de Carvalho, o Carvalhinho.
E dessa vez, eu acho que vai sem rima.
Não, vai com rima, pra tu entender.
"Machadinho, machadinho, quem foi que cortou ao meio o nosso Carvalhinho?"
Não se sabe se existiam duas feitorias, a do Rio de Janeiro e a do Cabo Frio, o fato
é que largado num lugar desses, que pode até ter sido no Rio de Janeiro, mas vamos
supor que fosse no Cabo Frio.
No Cabo Frio havia uma feitoria e ele, Carvalhinho, e o Pedro de Annes foram desterrados ali,
deveriam ficar ali e dali não poderiam sair.
É claro que eles saíram e se mudaram pra um lugar que ficou conhecido como "Baía dos
Inocentes", BAÍA DOS INOCENTES!
Não pode ser o Rio de Janeiro né cara, que não tem inocente no Rio de Janeiro!
É todo mundo culpado de alguma coisa no Rio de Janeiro!
Mas a baía dos inocentes era a baía de Guanabara, era baía.. era o Rio de Janeiro, para onde
eles se mudaram em 1511, provavelmente por volta.. eles foram deixados em outubro, em
outubro de 1511, quando a nau Bretoa parte de volta pra Lisboa e eles são deixados no
Rio de Janeiro, ou no Cabo Frio...
O fato é que em 1512 eles eram os únicos habitantes do Rio de Janeiro.
Consegue imaginar isso?
O Carvalhinho, o Carvalhinho, que tu na tua ignorância constrangedora, profunda, que
cada vez mais me enche de vergonha e que eu tento mitigar com essas migalhas de maná
do meu conhecimento... tu não sabia quem era o Carvalhinho!
O Carvalhinho morava na baía de Guanabara sozinho!
Só ele e o Pedro Annes e claro, os indígenas, os tamoios, os habitantes originais dessas
paragens paradisíacas.
Bom, em 1516 passa por aqui um cara chamado Francisco de Torrez, numa caravela, e ele
fazia parte da expedição do Juan Diaz de Solís, que é a expedição que tinha tentado
descobrir o Rio da Prata e que tinha descoberto um machado de prata, né, diferente do machado
de ferro chinelão daqui dos portugueses e que na volta tinha naufragado na praia de
Naufragados, tá aqui um dos náufragos, e que daí foram a pé até o Peabiru, você
já viu essa história na minha peça, NVCNE, se não viu tá perdendo, e já viu também
a história aqui no NVCNE, aqui óóó, veja aqui "O Caminho do Peabiru" que é uma história
incrível.
Alguns deles naufragaram... eram duas caravelas, uma naufragou na ilha de Naufragados, que
veio a se chamar Naufragados, ilha de Santa Catarina, praia de Naufragados... e a outra
caravela seguiu e não viu que a outra tinha naufragado e deu uma paradinha no Rio de Janeiro.
E que que ela fez no Rio de Janeiro?
Recolheu os náufragos portugueses, degredados portugueses, Carvalhinho e Pedro de Annes,
que assim foram pra Sevilha, jurando vingança contra Portugal.
Olha, a trama se adensa!
A trama de adensa!
O Carvalhinho jura vingança!
Porque eu esqueci de falar mas não faz mal, agora é o tempo, que o Carvalhinho era o
piloto, ele era o piloto da nau Bretoa!
Ele era um marujo qualificado, marujo não, PILOTO!
Era o cara que comandava o timão, era o chefe náutico, não o chefe, porque tinha o comandante,
tinha o capitão, né, comandante, capitão, piloto...
Piloto, piloto meu chapa, piloto!
Tipo assim o Nelson Piquet, que eu sou piquetista, não sou do outro lado.
E aí...
Sempre fui Piquet, não enche meu saco.
E aí...
Eu sou o que eu quero ser.
E aí ele tava lá... era piloto, era um cara qualificado.
O Francisco de Torrez o recolhe, até porque era piloto, e o leva para Sevilha, que é
o grande centro náutico né, de, da Espanha, de onde partiam dali do Rio Guadalquivir da
onde tinha partido o próprio Colombo, né, todas as expedições espanholas pro Novo
Mundo e também lá pra Índia, o cacete.
E quem é que ele encontra em Sevilha?
Quem é que ele encontra em Sevilha?
Mas cara, tu não sabe nada, é porque tu não leu o livro "Náufragos, Traficantes
e Degredados"... ele encontra o Fernão de Magalhães, que era um grande navegante português
que tinha sido maltratado pelo rei Dom Manoel, que tava puto da cara que nunca tinha sido
promovido e que desertou, desertou e fugiu de Portugal e se aliou ao rei da Espanha e
virou um navegador português, se natu..ã espanhol, se naturalizou espanhol, mudou de
nome pra Hernán de Magallanes e começou a articular uma expedição para descobrir
o estreito aonde a América do Sul terminaria e ver o que que tinha do lado de lá.
E ele vai dar a primeira volta ao mundo!
A expedição de volta ao mundo do Fernando de Magalhães é uma das expedições mais
inacreditáveis da história da humanidade, é um dos maiores feitos náuticos de todos
os tempos, é maior e mais incrível que a expedição do Colombo, que a expedição
do Vasco da Gama que "descobriu a Índia" e a expedição do James Cook e que o cacete
a quatro!
É o Fernão de Magalhães que parte de Sevilha em 1519 com quem como piloto?
Com quem como piloto?
O Carvalhinho como piloto, cara!
Com o Carvalhinho como piloto!
E todas as expedições que viriam a dar a volta ao mundo no futuro, e esses nem sabiam
que iam dar a volta ao mundo, né, acabaram dando assim na marra, mas todas as expedições
que no futuro fariam isso tinham que parar no Rio de Janeiro, tinham que se abastecer
no Rio de Janeiro antes de descer até o fim do continente, que até nem se sabia até
aquele momento onde é que era, e cruzar o tal estreito de Magalhães.
Estreito de...
Magalhães!
Então eles saem de Sevilha e iam parar na Baía de Todos os Santos, mas o Carvalhinho
diz "nananão, na Bahia não dá, porque os portugueses tem uma feitoria ali, vão nos
denunciar, nós somos espanhóis... "como assim nós somos espanhóis!?"
"sim, nós somos espanhóis", né, o Carvalhinho não se naturalizou mas o Hernão de Magalhães
se naturalizou, uma expedição espanhola, eles não podiam parar ali.
Aí que que o Carvalhinho diz?
Vamos para o Rio de Janeiro...
Vamos para a Baía dos Inocentes.
E no Natal, no Natal de 1519, em dezembro de 1519, a expedição... pequena, três embarcações,
do Fernando de Magalhães, adentra a baía de Guanabara num fulgurante dia de verão
de dezembro, de Natal de 1519 com o Carvalhinho no comando.
Bom, quando eles chegam, porque nessa expedição tinha um cara incrível chamado Pigafeta,
me esqueci o primeiro nome dele mas não interessa, aparece aqui o primeiro nome dele...
O Pigafeta era um italiano rico, nobre e chique, tipo o Américo Vespúcio, que vai virar o
cronista dessa expedição.
Cara, o livro é maravilhoso, incrível, e é "A Primeira Volta ao Mundo", se chama,
da viagem de Fernão de Magalhães, que é uma narrativa original desse Pigafeta.
Tu precisa ver o Pigafeta descrevendo a chegada da expedição do Magalhães no Rio de Janeiro,
cara!
É igual a chegada do capitão Cook no Havaí duzentos anos depois, em 1700..
MAIS de duzentos anos depois, sei lá, 1770, sei lá, aparece aqui, não enche meu saco.
Eles chegam ali, entram na expedição, entram na Baía de Guanabara e aí cara, os indígenas
saem da praia do Flamengo com um monte de canoa de ubás, canoas enormes, algumas cabiam
30, 40 guerreiros, e um monte de mulher, cara, junto.
E aí eles sobem pelas cordas do navio dizendo "aa chegaram, chegaram", porque os nativos
do Novo Mundo, de início TODOS ELES RECEBERAM BEM OS HOMI BRANCO, eles achavam que os homens
brancos eram caraíba... caraíba quer dizer "aquele que vem do céu, aquele que vem dum
outro lugar" barará barará barará... inclusive até esqueci lá na nau Bretoa que dizia "não
pode levar nativo" porque os nativos queriam embarcar junto porque achavam que iam pra
terra da promissão e pediam carona e diziam "ai vocês são tão incríveis, deixa eu
conhecer o lugar de onde vocês vieram".
Não podia levar nativo, não podia levar escravo, e a nau Bretoa, quando foi embora
do Cabo Frio, levou QUINZE papagaios, levou doze jaguatiricas e levou, não, seis jaguatiricas,
e levou 15 macacos, 12 macacos. 15 papagaios, 12 ãã macacos e seis jaguatiricas pra vender
lá.
Porque o papagaio... não vou contar, algum dia eu faço um episódio sobre o papagaio,
o Brasil chamava "terra dos papagaios", blablablá, não enche meu saco, é coisa demais pra falar,
se quiser PAGA e EU VOU FALAR OS PAPAGAIOS SÓ PROS MEMBROS TAMBÉM!
A partir de agora só vou fazer coisa pros membros mesmo, é, tu vai ver o que tu vai
sofrer se tu não for membro, eu tô falando sério.
Bom, aí, que parte que eu tava... ãã os nativos recebiam super bem os brancos quando
eles chegavam antes de começarem as guerras que começariam por causa do plantio do açúcar,
né cara, por causa do açúcar é que começou a escravização dos indígenas, enquanto
era escambo, enquanto era essas trocas, corria tudo bem.
E as nativas, as mulheres, adoravam, adoravam, era uma honra pra elas transar com europeu,
então elas subiam peladas, peladas e depiladas, aos navios, já louca pra transar, beijavam
lá os cara já também "SAI DAI SAI DAI", que nem aconteceu com o capitão Cook, né,
lá mais ainda, a única coisa que os branco fizeram foi sífilis, sífilis.
Bom, inclusive o Pigafeta diz que teve uma mulher...
Não, não vou contar aqui o que o Pigafeta diz... é impróprio pro decoro.
Heee, é, aconteceu uma coisa... não vou contar, tem crianças na sala, TEM CRIANÇAS
NA SALA, muitas crianças veem esse programa, inclusive essas crianças serão pessoas muito
melhores do que seus próprios pais porque estão aprendendo desde o início.
Bom, o que acontece é que o Carvalhinho chega pro Magalhães e diz assim "posso descer?",
porque não podia descer, né, como vocês sabem...
"Posso desembarcar?
Porque eu morei aqui etc.", o Fernando de Magalhães diz "sim, pode desembarcar"...
Ele desembarca na noite de Natal, deve passar o white christmas lá em terra, não se sabe
o que aconteceu e no dia seguinte volta numa canoa ele, a mulher dele e o filhinho, o filhinho
de sete anos dele, que tinha nascido...
Quando ele foi embora, ele deixou uma indígena grávida, né, ele sabia que a mulher tava
grávida mas ele conseguiu essa carona com o Francisco de Torrez... azar da mulher grávida,
né cara, como homem costuma fazer, né, e aí foi embora.
Voltou sete anos depois, foi embora em 1500 e... 16, ããã, não então tem alguma coisa
errada.
Ele foi embora em 1516, voltou em 1519, o guri já tinha sete anos, portanto ele já
conhecia o guri, desculpe, ããã, faz de conta que não ouviu essa parte.
A mulher engravidou, ele teve um filho, ele conhecia o filho...
ME ENGANEI CARA, EU TENHO O DIREITO DE ME ENGANAR!
E aí...
Tu não tem o direito de te enganar!
Porque não sabe nada.
E aí o.. ele desce na terra, né, passa a noite lá e volta com a mulher e com o filho
de sete anos, que alguns chamam de Iguito mas na verdade quer dizer Ninito, "menininho",
"gurizinho", "garotinho", ninito, né, nino, né...
E aí ele passa pra história, sim ele passa pra história porque tu vai ver a história
que acontece, porque AGORA que vai começar o episódio, cara!
Bom, aí eles ficam alguns dias na Baía dos Inocentes, alguns dizem que é nesse momento
que ela vira Rio de Janeiro porque eles passam o ano novo, eles passam o ano novo ali com