A QUEDA DO PALÁCIO MONROE - EDUARDO BUENO (1)
O palácio da memória!
É, "O Palácio da Memória" é o nome de
um livro, inclusive: "O Palácio da Memória"
de Matteo Ricci.
Matteo Ricci era um jesuíta italiano que
foi pra China em 1600 e tanto e como ele não
podia anotar nada do que ele tinha que aprender
e decorar sobre a civilização chinesa, ele
criou um método mnemônico de ficar construindo
um palácio na sua mente e cada sala ele ia
ocupando com o conhecimento que ele tinha
que decorar... e criou o palácio da sua própria
memória.
E o Brasil já teve muitos palácios, só
que o Brasil só teve palácios desmemoriados...
Especialmente o trágico Palácio Monroe,
cuja história você vai conhecer agora.
"Morreu, morreu!
Venha ver como morreu e quem matou o palácio
Monroe! ".
Você já viu aqui no "Não vai cair no Enem"
a história da construção da avenida Rio
Branco, né.
Se não viu, vai lá correndo ver!
É uma história impressionante, muito reveladora
do Brasil, né.
É o Rio de Janeiro se civilizando na aurora
do século 20, né... a avenida inaugurada
em 1904.
E o final da avenida, ali onde ficava aquele
obelisco... obelisco construído especialmente
para que, anos depois, nós, os gaúchos,
amarrássemos o nosso... os nossos cavalos
no obelisco de vocês...
Ficava ali aquele obelisco...
Mas, ao final, a avenida seria coroada com
a instalação do chamado... que viria a ser
chamado Palácio Monroe, que era uma obra
arquitetônica maravilhosa, cuja história
você vai conhecer agora já que o palácio
não está mais lá!
Só tem um vazio ali no lugar!
E você vai saber também por que que aquele
lugar ficou vazio.
É assim, em 1904, no mesmo ano em que tava
sendo construída a avenida, se realizou em
St.
Louis, nos Estados Unidos, uma dessas feiras
universais, né...
Houve uma época que essas feiras mundiais,
feiras universais, foram uma grande coqueluche
do mundo ocidental.
Teve gente até que propôs que não houvessem
mais guerras, mesmo depois da Primeira Guerra...
os caras disseram: "os países só tem que
concorrer em grandes feiras universais, feiras
mundiais, no qual cada país tenha o seu pavilhão
e exiba o que ele tem de melhor".
Ideia maravilhosa, né, pena que não colou.
Teve a exposição de Paris, na qual foi inaugurada
a torre Eiffel, teve a exposição em Chicago...
Teve várias exposições, inclusive a competição
entre os Estados Unidos e a Europa, de quem
fazia a melhor feira...
Também foi muito legal.
O Brasil teria uma grande feira em 1922 né,
a feira do centenário da Independência,
tal.
MAS, no momento, o que interessa é a feira
de St Louis em 1904, quando o Brasil resolveu
fazer um pavilhão incrível, incrível...
e contratou um arquiteto militar, um coronel...
Não era capitão, cara, era um coronel...
Coronel é uma patente bem acima de capitão!
Beeem acima!
O coronel Francisco Sousa Aguiar, que era
um arquiteto de primeira que fez um pavilhão
incrível...
Um pavilhão todo com estrutura metálica
e que poderia ser desmontado, num estilo eclético,
num estilo de arquitetura híbrido, como depois
se chamou...
A palavra eclético na verdade quer dizer
isso, quer dizer "mistura de estilos", né...
Eclético quer dizer mistura, quer dizer um
certo hibridismo...
Que era um estilo arquitetônico muito em
voga durante a belle époque, na qual estamos
vivendo... é exatamente esse período de
belle époque.
Construiu o pavilhão brasileiro em St.
Louis e o pavilhão ganhou a medalha mundial
de arquitetura!
Foi considerado o melhor pavilhão daquela
feira!
E a melhor construção erguida NO MUNDO em
1904!
É!
E o coronel Sousa Aguiar era tão esperto
e como tinha construído aquilo ali com verbas
públicas... ele planejou que ele fosse uma
espécie de lego!
O pavilhão, o palácio, poderia ser desmontado
e trazido de volta pro Brasil.
De volta não, porque ele foi montado lá
nos Estados Unidos!
Trazido pro Brasil.
E o pavilhão foi trazido pro Brasil, cara,
e montado no final da avenida Rio Branco em
1906.
No próprio ano de 1906 se realizou a 3a Conferência
Pan-americana.
Então, por sugestão do Joaquim Nabuco, que
aliás, hein, merecia um grande episódio
do "Não vai cair no Enem", o incrível, extraordinário,
maravilhoso Joaquim Nabuco.
O Joaquim Nabuco sugeriu pro ainda mais incrível,
pro ainda mais admirável, pro ainda mais
fascinante Barão de Rio de Branco, né, o
Juquinha... é, o apelido dele era Juquinha...
sugeriu que aquele belíssimo prédio fosse
batizado de Palácio Monroe, em homenagem
ao presidente americano James Monroe.
E, assim, acabou sendo batizado esse prédio
de 1700m2, com grandes colunatas jônicas
ou dóricas, sei lá...
Aliás, vou ter que abrir um parêntesis pra
contar uma história: uma vez eu tava indo
junto com a minha mulher em...
Pra um show em Buenos Aires, um show do New
Order em Buenos Aires... e aí passamos por
um prédio maravilhoso e eu disse pra ela:
"olha que prédio lindo, com essas colunas
dóricas!"... e o motorista freou, nós entramos
de cara no vidro, e o motorista só olhou
pra mim e disse assim: "COLUNAS JÔNICAS,
COLUNAS JÔNICAS E NÃO DÓRICAS! ".
E você sabe, né, porque que a Argentina
tem tanto problema, né...
Porque todo mundo que tem a solução pros
problemas da Argentina tá dirigindo táxi
lá...
Então o país consegue estar quase pior que
o Brasil.
Fecha o parêntesis, continua a história.
Tinha lá aquela colunata incrível, dórica
ou jônica, não faz diferença, não me lembro
o que que era...
Mas era um...
Claro, tudo bem, é uma arquitetura rebuscada,
é uma arquitetura típica da época belle
époque, eclética, barará...
E aí, a partir de 1906, esse prédio, que
eu, particularmente...
E A ÚNICA COISA QUE INTERESSA É A MINHA
OPINIÃO... acho maravilhoso... que conheci
pessoalmente, muitos de vocês que estão
vendo isso também o conheceram...
Passou a sediar a câmara dos deputados do
Rio de Janeiro...
Por quê!
Porque o palácio Tiradentes estava em obras
e as obras só ficariam prontas em 1922.
Na verdade, não!
A câmara dos deputados foi instalada ali
em 1914!
De 1906 a 1914, eu não sei o que que aconteceu
no palácio, mas ele ficou lá...
E de 14 a 22, enquanto o palácio Tiradentes
estava em obras, né...
Sabe, antes, o palácio Tiradentes era uma
prisão!
Inclusive o Tiradentes ficou preso exatamente
ali!
Por isso que chama palácio Tiradentes.
E hoje é uma espécie de prisão, né...
Já que é a câmara de deputados do Rio de
Janeiro, né, cara!
Deveriam tar TODOS PRESOS!
Mas não ali!
Deveriam tar tudo preso em Bangu!
Aliás, tem vários que estão.
E quando o palácio Tiradentes ficou pronto
em 1922, a câmara dos vereadores se mudou
pra lá... não sei se era uma câmara impoluta
ou se era uma câmara poluída que nem a de
hoje.
O fato é que, a partir de 1922, se instala
no palácio Monroe o senado federal.
O senado federal!
O senado federal, você sabe, é aquela casa
que tem 81 senadores e quando eles fazem uma
votação aparecem 82 votos!
Ha!
Eu não sei se o senado federal em 1922 era
tão asqueroso, nojento, repugnante, vomitativo,
quanto é o de hoje (provavelmente deveria
ser), mas o fato é que o senado ficou instalado
ali.
E de 1922 a 1960 o senado federal funcionou
ali, na capital do Brasil, Rio de Janeiro,
com o seu senado federal instalado naquele
espetacular, naquele magnífico prédio.
Em 1960 o senado se transfere, com a inauguração
de Brasília... se transfere pra Brasília
e ficam funcionando aqui na cidade do Rio
de Janeiro, no próprio palácio Monroe, o
secretariado geral do próprio senado.
Até que vem o Movimento Libertador Democrático
de 31 de março de 1964, quando o Brasil entra
numa era de luzes, numa era maravilhosa...
que tem IMBECIS QUE APOIAM até hoje.
O senado perde seu valor, né, evidentemente,
e aí o senado é... o senado continuou funcionando
lá em Brasília mas, o prédio que tinha
sediado durante QUARENTA ANOS o senado brasileiro
passa a ser ocupado pelo estado maior, é,
pelas forças armadas, pelo estado maior das
forças armadas.
É isso, né!
Quando tem um golpe militar o senado, por
mais impoluto que seja, vira um reduto militar.
Eu prefiro um senado podre do que milico instalado
dentro do senado, né!
Lugar de milico, tu sabe, é no quartel!
Onde, aliás, são muito úteis, né, e deveriam
lá permanecer.
Aí se inicia um período muito sombrio pra
esse prédio.
Porque em 1976, quando se iniciou a construção
do metrô no Rio de Janeiro... deve ter se
iniciado um pouco antes... mas quando o metrô
começou a chegar ali na estação da Cinelândia
decidiram que o prédio deveria ser derrubado
porque 1. atrapalhava o trânsito, 2. o metrô
ia passar por baixo dele.
E, o general Geisel, então presidente, disse
que ele "atrapalhava a vista" do monumento
do expedicionário brasileiro, que fica lá
no aterro do Flamengo e que homenageia os
brasileiros mortos, honrosamente mortos, num
grande momento da história do exército brasileiro,
que é quando o exército brasileiro lutou
na 2a Guerra Mundial, tomou o Monte Castelo
e tal, houve várias baixas e ali está o
túmulo do soldado desconhecido e o túmulo
de vários soldados que de fato morreram,
cujo nome é conhecido, que estão enterrados
ali e tem aquele monumento lindo, espetacular,
maravilhoso, que o Brasil realmente deveria
reverenciar...
E o Geisel falou que, vindo da avenida, o
palácio Monroe, QUE TINHA SIDO O SENADO NACIONAL,
atrapalhava a vista.
Só que, coincidentemente, o coronel Sousa
Aguiar, que depois viraria general, foi promovido
a general antes e no lugar do pai do Geisel.
É!
O pai do Ernesto Geisel também era militar
e era coronel.
Havia uma só vaga para general naquele momento.
Em vez do promovido ser o pai do Geisel, o
promovido foi o coronel Sousa Aguiar.
Então se diz que um dos motivos por trás
dos quais o palácio Monroe acabou sendo derrubado
é porque o Geisel quis se vingar do cara
que tomou o lugar do pai dele.
Mas é uma história misteriosa que ninguém
sabe por quê...
Porque além de tudo, o jornal O Globo...
conhece o jornal O Globo?
O jornal O Globo fez campanha, CAMPANHA pela
derrubada do prédio!
E o Lúcio Costa, o Lúcio Costa, "o arquiteto
modernista, o genial Lúcio Costa", que uma
época queria ATERRAR A LAGOA Rodrigo de Freitas...
É, ele queria construir uma universidade
do meio da Lagoa Rodrigo de Freitas, aterrando
metade dela.
O construtor de Brasília, que tem um monte
de arquiteto modernista que tá vendo...
Se tem algum arquiteto modernista aqui pode
DESLIGAR o aparelho, vai pra outro canal...
Chamou de "monstrengo arquitetônico", monstrengo!
É, bom é aquelas MERDA que ele construiu
lá em Brasília, junto com o tal.. . o Niemeyer!
Aliás, o general Figueiredo, a gente fez
há pouco uma pílula sobre as frases do general
Figueiredo, tem uma maravilhosa que eu esqueci
de citar: "o Oscar Niemeyer deveria ser condenado
a morar no palácio da Alvorada"!
O palácio do Planalto, o palácio do Planalto!
Deveria ser condenado a morar no palácio
do Planalto.
É isso aí.
Tem gente que gosta desse Niemeyer aí né,
eu abomino.
E o Lúcio Costa mais ainda, deveria estar
na história nacional da infâmia.
Ele liderou o movimento, junto com o jornal
O Globo, pra que fosse derrubado o
palácio Monroe.
E o palácio Monroe começou a ser derrubado
em março de 1976, por uma empresa chamada
"Hágil", com "H", é.
Cara, e a demolição custou uma fortuna aos
cofres públicos!
É.
E... diz que o banco Bozano Simonsen e o próprio
Roberto Simonsen e o próprio Roberto Marinho
também tinham interesse na derrubada porque
aí iam construir um prédio gigante ali,
que o projeto era de um tal Sérgio Bernardes
lá, sei lá, depois eu boto o nome verdadeiro
aqui...
Verdadeiro não, o nome se não foi o Sérgio
Bernardes.
Iam construir um prédio ali de 40 andares
onde ficava o palácio Monroe.
Derrubaram o palácio Monroe de graça!
E hoje, sabe o que que tem ali?
NADA!
Nada!
É a praça Mahatma Gandhi, com uma estátua
horrorosa do Gandhi e embaixo um estacionamento!
E o metrô passou pela lateral!