O que os astronautas comeram na Apollo 11?
A Apollo 11 durou 8 dias.
O que os astronautas comeram durante todo esse tempo?
E se houvesse uma despressurização da nave e eles precisassem ficar dentro dos trajes por dias, como eles beberiam água e se alimentariam?
Vamos falar sobre isso!
Chegar na Lua exigiu muitos sistemas complexos de propulsão, navegação e suporte à vida.
Mas a dieta dos astronautas também era um ponto crucial para o sucesso do Programa Apollo.
E assim como era com todos os outros sistemas, os requerimentos para a comida eram rígidos também.
Em uma missão de 14 dias a dieta precisava atender a critérios como: Pesar no máximo 770 gramas por tripulante por dia.
Ou seja, um total máximo de cerca de 32 kg.
Ocupar um volume máximo de cerca de 80 litros.
Ser palatável pela tripulação.
Nada de comida muito ruim.
Não exigir mais do que 15 minutos de preparação e (exigindo) com o mínimo de recursos possível.
Ter uma forma de lidar com crescimento biológico e mau cheiro dos resíduos gerados.
Garantir cerca de 2800 a 3200 calorias por dia para cada tripulante.
E, principalmente, ser estável fisicamente, quimicamente e microbiologicamente.
Nada de comida estragada no espaço por razões óbvias.
As comidas escolhidas podem ser divididas em 3 grupos.
O primeiro grupo é o de comidas liofilizadas.
Comidas liofilizadas são chamadas em inglês de "freeze-dried foods" e são alimentos que foram congelados e submetidos a baixa pressão, fazendo com que toda a água congelada contida nele sublimasse, ou seja, passasse da fase sólida diretamente para a fase gasosa.
Depois que toda a água seca, o alimento é embalado.
Essa técnica permite um tempo de armazenamento bem grande em temperatura ambiente e sem alterar muito a textura ou mesmo gosto dos alimentos.
Esse tipo de comida ficava dentro de pacotes de plástico selados à vácuo com camadas para impedir a passagem de gases e líquidos.
Em uma das pontas havia um tubinho com uma válvula de retenção que era usada para a reidratação da comida.
Esse tubinho era colocado em uma das duas saídas de água dentro do módulo de comando (ou módulo lunar), ele forneciam água quente ou água fria, dependendo do tipo de comida.
Do outro lado do pacote, uma outra saída, que era só liberada depois de cortar a ponta do pacote, permitia que o astronauta sugasse a comida de dentro dele.
Mas nem toda comida era fácil de ser consumida dessa maneira.
Então, a partir da Apollo 10, a NASA incluiu um novo tipo de pacote com uma abertura bem maior e os astronautas puderam usar uma simples colher e comer de uma maneira mais ou menos tradicional.
Exemplos de comida desidratada levadas nas missões Apollo são:
Ensopado de Milho.
Salada de Batata.
Pudim de chocolate.
Sopa de batata.
E Salada de salmão, entre outras coisas.
Depois de comer, as sobras de comida continuam na embalagem.
E para evitar problemas, um germicida em formato de comprimido é colocado dentro do pacote.
Isso retardava o crescimento microbiológico e permite um armazenamento seguro do lixo.
O pacote é então colocado em um container especial para lixo.
O segundo tipo de comida, as "bite-sized foods", são as comidas que não precisam de nenhum tipo de preparação e podem ser ingeridas mais facilmente.
Elas são desidratadas e comprimidas em pequenos cubos de cerca de 2 cm de largura.
Isso economizava espaço, facilitando o transporte.
Alguns compostos como óleo ou gelatina eram adicionados nessas porções para evitar que pequenos pedacinhos e migalhas flutuassem pela cabine e pudessem ser inalados ou se prenderem a equipamentos.
Exemplos desse tipo de comida são:
Queijos.
Pães.
Amendoin.
Frutas como morango, abacaxi e banana.
Brownies, bolos e outras coisas.
O terceiro tipo de comida são as bebidas em pó.
Como suco de laranja, suco de abacaxi e chocolate quente.
Todas essas comidas eram organizadas em um cardápio com um ciclo de 4 dias pra dar variedade suficiente.
Cada um dos dias tinha 3 refeições diferentes, marcadas como A para o café da manhã, B para o almoço e C para o jantar.
As refeições eram empacotadas e colocadas em 2 'containers' especiais dentro do módulo de comando e 1 dentro do módulo lunar.
No Natal de 1968, durante a viagem de volta da Apollo 8, a primeira missão a orbitar a Lua, os 3 astronautas tiveram uma surpresa ao encontrar um jantar especial de Natal nas embalagens.
A refeição consistia em peru termostabilizado que não precisava ser reidratado e vinha em um pacote um pouco diferente, molho de 'cranberry' (oxicoco / arando), suco de uva e café.
Caso a nave sofresse uma despressurização e os 3 precisassem ficar dentro dos trajes, um sistema de emergencia garantia acesso ao lado externo de forma segura.
Para conseguir comer sem tirar o traje os astronautas poderiam usar uma válvula presa ao capacete chamada de "feed port".
O astronauta removia a parte externa e expunha a passagem.
Para evitar a perda de pressão do traje, a parte interna tinha uma pequena aba que era segurada no lugar pela própria pressão interna do traje.
Uma ferramenta chamada "pontube" era inserida no buraco e empurrava essa aba.
Para evitar o vazamento, uma pequena válvula mantinha tudo fechado até o momento certo.
As únicas coisas que podiam passar pelo tubo eram as bebidas reidratadas e água.
Os pacotes de bebidas em pó eram colocados dentro de uma bolsa de nylon, que limitava o quanto elas podiam expandir e assim garantiam mais resitência.
Depois da bebida ser reidratada, o outro lado da "pontube" era inserido na válvula de reidratação das bebidas em pó.
A válvula da ferramenta era então aberta lentamente e um pouco do ar do traje preenchia o interior do pacote de bebida, equalizando sua pressão.
E a partir de então era só apertar a bolsa, virar o rosto e beber pelo tubo.
A partir da Apollo 13 uma pequena bolsa com água foi adicionada próximo ao pescoço dos astronautas chamada de "In-suit Drinking Device" ou ISDD.
Isso permitia que os astronautas bebessem água enquanto estivessem na superfície da Lua.
As atividades extraveiculares ficaram bem mais longas depois dos primeiros pousos, e para garantir que os astronautas tivessem energia durante 6 ou 7 horas, os engenheiros também adicionaram uma barrinha, ou "Food Stick", que ficava presa no capacete logo à frente deles.
O sistema que fornecia água tanto para reidratação de comida quanto para consumo era o "Potable Water System".
No Módulo de Comando, a água é gerada pelas células de combustível que ficam no Módulo de Serviço, algo que já falei no vídeo sobre o desastre da Apollo 13!
Depois de ser gerada, a água segue o caminho para o "food preparation unit", onde pode ser aquecida ou resfriada.
A água também pode ir para a chamada "Water Gun", que fica conectada a uma mangueira e permite que a água seja bebida diretamente.
No Módulo Lunar a água não é gerada por células de combustível, ao invés disso cerca de 180 kg ficam armazenados em 3 tanques.
Além de servir para beber através de uma "Water Gun" dentro do Módulo, ela também era usada no sublimador da nave, que garantia um controle térmico de forma semelhante aos trajes, algo que eu já expliquei nesse vídeo aqui.
O cardápio do Programa Apollo evoluiu bastante ao longo das missões e ficou mais personalizado para cada astronauta.
E ele foi objeto de estudos bem sérios.
É possível encontrar informações bastante completas sobre a composição da dieta além de resultados de exames de fezes coletadas durante a viagem.
Aliás, toda a documentação que eu consultei para conseguir fazer este vídeo está aqui na descrição, como de costume.
Se você quiser saber mais detalhes sobre como tudo isso foi feito, é só dar uma olhada.
Muito do que aprendemos sobre alimentação no espaço no Projeto Mercury, Gemini e Programa Apollo foram levados adiante no Ônibus Espacial e na Estação Espacial Internacional.
Comidas liofilizadas fazem parte da dieta dos astronautas até hoje e há opções bem mais diversas.
E se a gente quiser dar passos mais ousados rumo à Marte ou a Lua o cardápio e as tecnologias associadas a ele vão ser pontos importantíssimos para o sucesso dessas missões.