Apollo 8 - A primeira viagem à Lua
"Apollo 8 - A primeira viagem à Lua.
Essa é uma das fotografias mais marcantes da história da exploração espacial.
A imagem feita por Bill Anders durante a missão Apollo 8 foi chamada de “Nascer da Terra”.
Até então, nenhum ser humano havia visto nosso planeta de uma distância tão grande.
A solidão e isolamento da Terra transformou profundamente a maneira como a gente enxerga o nosso planeta.
Em Junho de 1968 os preparativos do Programa Apollo estavam atrasados.
Testes com o Módulo Lunar encontraram mais de 100 defeitos e impediram o desenvolvimento normal do planejamento.
A Apollo 8 era uma das 7 etapas planejadas para o pouso na lua.
As primeiras missões testariam a capacidade do Saturn V em missões não tripuladas.
Outras testariam os sistemas do Módulo Lunar E outras testariam o Módulo de Comando.
Nesse planejamento a Apollo 8 seria uma missão tripulada em órbita da Terra para testes do Módulo Lunar.
Mas, com os defeitos encontrados no Módulo Lunar, não havia possibilidade de seguir o cronograma e cumprir o objetivo de Kennedy antes do final da década.
Em conjunto a isso, relatórios de inteligência da CIA indicaram que os soviéticos estariam programando uma missão semelhante para dezembro de 1968.
Então, em agosto de 68, George Low propôs uma solução para evitar todo esse atraso.
Ao invés de esperar o módulo lunar ficar totalmente pronto para o voo, a NASA poderia enviar apenas o Módulo de Comando para a lua, adiantando muitos testes de procedimentos que só seriam feitos na Apollo 10.
O objetivo estava definido: a Apollo 8 seria a primeira missão espacial tripulada para além da órbita terrestre baixa.
Em 21 de Dezembro a Apollo 8 decolou com Frank Borman, James Lovell e Bill Anders.
Esse era o primeiro voo tripulado do Saturno V e o seu desempenho foi uma das maiores preocupações da missão.
Durante os primeiros testes não-tripulados o foguete apresentou oscilações anormais chamadas pelos engenheiros de “pogo oscillations” e falhas inesperadas de motores.
Felizmente as modificações feitas foram suficientes e o Saturno V cumpriu perfeitamente a sua função.
O primeiro e segundo estágio foram descartados sem problemas depois de esgotarem seu todo seu combustível.
E o terceiro estágio colocou os 3 astronautas em órbita e permaneceu preso ao módulo de comando para a chamada Injeção Translunar, que os colocaria em uma trajetória rumo à lua.
Depois de muitas checagens de sistemas, 2 horas e 27 minutos depois do lançamento, Michael Collins do Comando da Missão disse pelo rádio: Depois de ligar seus motores e completar essa manobra, os 3 astronautas estavam em uma trajetória chamada de “Free Return Trajectory” ou “Trajetória de Retorno Livre” Isso significa que se os astronautas não tocassem nos controles ao longo da viagem eles acabariam sendo jogados de volta para a Terra pela própria gravidade da Lua.
Se algo desse errado com o principal motor durante a viagem de ida, os astronautas tinham um ticket gratuito para voltar para casa com Isaac Newton no controle.
No dia 24 de dezembro, véspera de Natal, a Apollo 8 finalmente chegou em seu destino.
Logo depois de estar próximo o suficiente da Lua e todos os sistemas estarem funcionando corretamente, os astronautas receberam a confirmação pelo rádio: A queima do motor aconteceria depois do horizonte da lua em relação à Terra e, portanto, os 3 astronautas perfomariam a manobra totalmente sozinhos.
Se algo desse errado, não haveria como contatar o centro de comando da missão.
Seriam 45 minutos de blackout.
O centro da missão saberia automaticamente se a manobra havia sido completada com sucesso simplesmente pela hora que a telemetria da nave voltasse a ser recebida pelo rádio.
Se algo desse errado e a missão fosse abortada, a Apollo 8 sairia de trás da lua algum tempo antes do planejado.
E depois de todo esse tempo de espera, a conexão foi reestabelecida precisamente no momento esperado.
Os humanos estavam em órbita da lua pela primeira vez.
69 horas após o lançamento.
Durante as primeiras órbitas, os astronautas se ocuparam de checar os sistemas da nave e mantiveram as janelas apontadas para a lua, filmando e fotografando a superfície, que estava a pouco menos de 100 km de distância.
Na quarta órbita eles se viraram para o horizonte para realizar medições com os sextantes da nave e verificar sua posição.
E um pouco depois de virar, Borman notou um pequeno aglomerado de luz branca e azul subindo no horizonte.
E não se engane pelo tamanho aparente do nosso planeta.
Ele parece grande por conta da lente usada.
Daquela distância era possível esticar o braço e cobrir a Terra inteira com apenas o dedão.
Um grande oásis de vida no meio de um oceano de escuridão.
Nada disso foi planejado.
As fotografias no plano da missão serviam quase que exclusivamente para ajudar a encontrar pontos de pouso na Lua.
E foi dessa maneira inesperada que nossa perspectiva enquanto espécie mudou.
Ao menos um pouco.
E depois de 10 órbitas, era hora de voltar para casa.
A queima que os levaria novamente para casa, assim como a que os colocou em órbita da lua, aconteceria no lado oculto, ou seja, novamente sem comunicações por um tempo.
Mas, assim como planejado, a comunicação foi restabelecida e a manobra bem sucedida confirmada.
Os 3 astronautas reentraram na atmosfera no dia 27 de dezembro, pousando no pacífico às 15h51 (UTC).
Apesar de não terem colocado os pés em solo lunar, Frank Borman, William Anders e Jim Lovell foram os primeiros a viajarem a outro mundo.
Os primeiros a estarem totalmente isolados do restante da humanidade enquanto viajavam pelo lado oculto da Lua.
Os primeiros a verem com os próprios olhos a Terra como o pequeno grão de areia que ela é.
A Apollo 8 foi um grande ato de coragem já que o Módulo Lunar também servia como um bote salva vidas caso as coisas dessem errado, como aconteceu na Apollo 13.
A missão idealizada por George Low em meio à pressão da corrida espacial permitiu grandes aprendizados sobre a Lua, que culminaram nos primeiros passos de nossa espécie fora do planeta.