Vinte e quatro: Pedro & Luis – Tradições de Natal
Luis: Olá Pedro.
Pedro: Olá Luis.
Luis: Tudo bem?
Pedro: ‘Tá tudo bem comigo.
E contigo?
Luis: Olha, ‘tá tudo. Sabes, olha, eu aqui no outro dia estava a pensar que realmente o Natal está aí... está aí quase a chegar.
Pedro: É verdade. Já estamos no início de Novembro, e realmente já estão a começar a haver preparativos para o Natal.
Luis: É verdade. Isto, de ano para ano, cada vez começam mais cedo aí os anuncios e a propaganda toda do... desta festa super consumista, cada vez mais.
Pedro: Cada vez mais... cada vez mais o capitalismo está a dominar a quadra festiva do Natal, e cada vez mais começa mais cedo. Eu às vezes até pergunto - pergunto-me a mim próprio – até que ponto é que esta coisa do capitalismo vai dominar tanto o Natal, sei lá, de em Agosto estarmos a falar já de Pai Natais e de “rendas” e de... de renas, queria eu dizer, desculpa; e de outros elementos festivos.
Luis: Tens toda a razão. Então e já sabes como é que vais passar este teu Natal?
Pedro: Olha Luis, este Natal vai ser um pouco igual aos outros Natais. Vai ser um Natal em família, na casa dos meus avós maternos, com os meus tios e com os meus primos. Portanto, ainda somos bastantes.
Luis: Muito bem. É bom teres um Natal assim em família. Há aí tanta gente que eu conheço que não tem a possibilidade de passar o Natal junto da família, ou mesmo até, em situações ainda mais tristes, que não têm mesmo família.
Pedro: Sim, é verdade, é verdade.
Luís: Eu por acaso partilho d'uma experiência parecida com a tua. Tenho também uma família até que posso considerar grande, e todos os anos, sem excepção, também nos juntamos todos na casa da minha tia, e passamos assim uma consoada cheia de comida e bebida e presentes. É uma... é realmente uma ocasião muito feliz.
Pedro: Pois é, e olha lá uma coisa, a nível de comida, o que é que vocês costumam comer?
Luis: Olha, eu sei que, pronto, em Portugal temos várias tradições dependendo da zona, as pessoas comem coisas diferentes. Normalmente na minha consoada, com a minha família, há o costume de comermos marisco...
Pedro: Marisco? Luis: É verdade. A minha família gosta muito de marisco, não é só no Natal; em quase todas as ocasiões que há festa, tem de haver marisco.
Pedro: Então, desculpa lá, quer dizer que não é uma tradição de... festiva, de uma época do ano, mas é uma tradição quase familiar, quando vocês se juntam, é isso?
Luis: Exactamente.
Posso dizer que a minha família, não tendo grandes ligações à religião católica... ao cristianismo, não é tanto uma celebração do nascimento de Cristo, como até eu penso que já pouca gente faz isso...
Pedro: Também acho que sim, também acho que sim.
Luis: ...mas é mais uma ocasião p'ra estimar a família, e estar ao pé daqueles entes que te são queridos, e passares um bom tempo com eles. Portanto, nós não ligamos tanto à parte formal daquela refeição específica que temos que comer, mas mais ao tipo de refeições que nós gostamos de fazer. E, normalmente, andam à volta do marisco, e depois também temos um prato de carne: que pode ser cabrito assado, que pode ser lebre. Variamos bastante com as carnes, normalmente sempre carnes assadas.
Pedro: Certo. Então mas, já agora, gostava de saber uma coisa. Estamos a falar da consoada...
Luis: Exactamente.
Pedro: Da consoada.
Luis: ‘Tamos a falar da refeição da consoada.
Pedro: Ora aí está. É que é assim, no meu caso – na minha família – a gente, pronto, realmente seguimos o modelo mais popular e mais tradicional de Portugal, que é o bacalhau cozido com as couves cozidas, ou com as pencas: com as batatas, às vezes também tem grão cozido, ovos cozidos. Pronto, quase tudo cozido, digamos, os componentes dessa refeição. E, em relação às carnes, nós reunimo-nos no dia a seguir, no próprio dia vinte e cinco, também ao jantar – geralmente é ao jantar – e aí é que realmente comemos as carnes assadas. Que como tu disseste, pode ser ou o cabrito, ou então também optamos, por vezes , pela carne... pelo lombo de porco assado.
Luis: Exacto.
Eu normalmente também, no dia vinte e cinco – no próprio dia de Natal – a maior refeição que nós fazemos em família não é o jantar, é o almoço, fazemos mesmo o almoço de Natal. E aí, acaba por ir parar tanto... varia bastante, não temos também pratos fixos. Pode ir parar novamente a carnes assadas, como pode ir parar a açordas, por exemplo. Como temos uma tradição bastante alentejana, de raíz de família, as açordas são pratos que nós realmente apreciamos bastante.
Pedro: Certo. Eu por acaso, ao ouvir-te falar das açordas, lembrei-me logo dessa tua costela alentejana. E já agora gostava de ir um pouco por aí. Então e que tipo de açorda é que vocês costumam consumir?
Luís: Eu basicamente... eu a única açorda que eu conheço realmente, e é o que... o que a minha família faz - e foi sempre o tipo de açorda que eu me alimentei – éa açorda que nós chamamos açorda à alentejana; que eu penso que se calhar há quem chame açorda de alho...
Pedro: Sim.
Luis: ...que basicamente é feita com coentros, sal... coentros e sal e azeite, com ovo escalfado, e o bacalhau cozido.
Pedro: Certo, então...
Luís: E o pão molhado na sopa.
Pedro: Ora aí está. Ou então como os alentejanos dizem, as sopas. P'ro alentejano, as sopas, realmente, são as fatias de pão que ‘tão lá no molho, não é? E não propriamente o molho em si... o molho não, o componente líquido, pronto. Pronto, mas realmente é interessante, porque falaste-me que há bacalhau, e então também manténs a tradição, não é?
Luis: Nesse aspecto sim; no almoço de... do dia de Natal, normalmente há esse habito de normalmente haver até uma açorda. Mas, não é fixo.
Pedro: Certo, como tu já disseste, pode ser uma coisa, como tanto pode ser outra coisa.
Luis: Exacto.
Pedro: Já agora gostava de saber uma coisa. Tens crianças pequenas na tua família?
Luis: Desde... quer dizer, desde... quando eu era mais pequeno e tinha outros primos da mesma idade, éramos os pequeninos e éramos os que davam alegria à casa. Pronto, agora já crescemos...
Pedro: Claro, claro.
Luis: ...mas temos a sorte de nos últimos... no último ano, nos últimos dois anos, entraram novos membros na nossa família: filhos de primos meus, e mesmo do meu irmão mais velho; e então já há uma alegria diferente na casa. É muito diferente quando fazes um... uma festa de Natal e tens crianças a partilhar aquele momento contigo, faz uma diferença muito grande.
Pedro: Eu partilho da mesma opinião, porque também recentemente – há cerca de três anos – a minha prima também teve uma filha que, pronto, por sua vez também é minha prima – pronto, é minha priminha -, e realmente dá outra cor. Realmente, o Natal é mesmo a festa das crianças, e acho que são realmente as crianças que vivenciam toda a verdadeira experiência, e a beleza e o próprio espírito do Natal em si, pronto. E, então, já agora gostava de te perguntar uma coisa. O que é que tu notas de diferente desses Natais que tu passaste sem essas crianças pequenas, e agora estes em que realmente já passaste com essas... com estas crianças, com essas... esses novos familiares que tens agora?
Luis: Sim. Olha, a maior diferença, e isto até é um assunto que por vezes é um pouco triste, mas realmente foi o que tem... é o que tem acontecido antes de chegarem estes novos membros da família: normalmente no Natal havia a tendência de recordar aqueles que já morreram.
Pedro: Sim, sim.
Luis: E então tornava-se uma ocasião um pouco... pesada, percebes? As pessoas ficavam às vezes um pouco deprimidas naquela altura porque, é normal, no Natal tu pensas em família, e começas a pensar nas pessoas que já faleceram, e há uma nuvem de angústia que acaba por cobrir um bocado as celebrações.
Pedro: Sim, sim.
Luis: Quando tu tens crianças e bebés na tua família, esqueces um pouco essa parte porque tens ali uma fonte de alegria muito grande. E acaba por... acabas por nem pensar tanto no que tu perdeste, mas acabas por pensar mais no que tu ganhaste.
Pedro: Olha, eu concordo perfeitamente com o que tu acabaste de dizer, e olha, estamos quase então a chegar ao Natal. Desejo-te então um feliz Natal p'ra ti, p'rós teus familiares, e um grande beijinho para a tua família.