INVISÍVEL
Não, tá tranquilo, amor. Tô chegando no ponto de ônibus já.
A gente conversa isso em casa, aqui é meio perigoso, vazio, tá bom?
Beijo, tchau tchau.
Não pode bobear, né, cara? Celular, rua vazia...
O negócio agora é celular invisível.
Seria uma boa, né? Celular invisível é bom.
Oi amor. É, tô indo pra casa. Você vem me buscar?
Nossa! Então tá bom.
Tô aqui no ponto da Pracinha então. Beijo.
Viu? Resolvi minha vida. Agora tudo é invisível.
Muito mais seguro, mais prático.
Sem contar que ninguém fica colocando olho gordo.
Tem um isqueiro aí?
Oi amor.
Não, tô aqui no ponto. No ponto da Pracinha. Você tá onde?
Tô vendo. Não, tá aqui do lado. Isso, dobra aqui a esquina e para aí.
Tá? Não... oh meu Deus do céu, ela não gosta que fume.
Pera aí. Para aí, amor. Não precisa descer.
Aí dá multa. Olha o Tigrão! Não, cuidado!
Olha, no meio da rua! Vem! Vem, Tigrão, vem!
Para, Tigrão! Para!
Pega ele, amor. Essa daqui é a Amanda.
-É Paulo. -Paulo.
Quer uma caroninha, Paulão?
Não, tô tranquilo, tô de boa.
Você tem certeza, cara? Porque a região aqui é violenta...
-Acho que tô melhor aqui. -Vamos com a gente, Paulo.
Pra mim eu acho que...
Calma, calma. Tá tranquilo, amigão. Pera aí, pera aí!
Ai, não! Só vou abrir a mochila pra você, cara!
Meu pescoço! Só vou pegar o tablet aqui pra você, cara!
Por favor, calma!
Que isso. Toma aqui o tablet pra você.
Pega carteira.
Não, tô te dando tudo, cara, tá tudo certo...
Vai.
Passa a carteira pro cara!
Vai, cara! Não vacila não! Sua vida em primeiro lugar!
Claro. Onde é que ele tá? Tá aqui, tá lá...
Meu Deus!
Vamos, amor! Não faz corpo mole! Pega ele aí!
Pega o outro braço também!