GREVE GERAL | EMBRULHA PRA VIAGEM
Bro, onde é que a gente vai chegar?
Que crise é essa? Meu dinheiro não vale mais nada.
Toda semana subindo as coisas, e ainda se fosse supérfluo, olha lá,
mas não, tudo gênero de extrema necessidade.
Fandangos, Doritos, miojo, lasanha congelada, dogão, refri, bro.
Onde é que a gente vai parar?
Pra compensar virou o ano e o meu pai não quis aumentar minha mesada.
Falou que agora tô trabalhando nas empresas dele,
sou o funcionário mais bem pago na loja de conveniência.
Eu posso esperar um pouco pra aumentar minha mesada.
Porra, bro!
O cara me explora, trabalho de terça à sexta, duas horas por dia, não tiro nem 15 conto por mês.
Agora o cara não quer aumentar minha mesada, eu tenho direito a esse aumento.
Todo mundo na facul, teve aumento de mesada, por que eu não? Sou estudante, pô.
Pra piorar meu pai acabou de me comunicar que vai tirar os auxílios da minha mãe.
Auxílio copo de leite, eu ganhava vintão por copo de leite que tomava.
Auxílio alface, cincão por folha, frutas e legumes saudáveis.
Parece que é pouco, mas querendo ou não, ajudava pra caramba no final do mês,
na conta do meu açaí com leite condensado.
Chega bro, todo mundo teve aumento esse ano,
tirando o professor e essas profissões menos importante para o país,
mas pô, vereador teve aumento, deputado teve aumento e eu não.
Chega, greve geral, acabou.
Já estão me ligando pra acabar com a minha greve.
Mãe, é o seguinte, eu não sou pelego, eu não vou furar greve e a greve continua.
Não vou almoçar hoje com vocês, não vou jantar,
já dispensei o personal trainer, fisioterapia, não vou na natação, acabou.
A gente tem que ter um diálogo de adulto mãe.
E daí que eu tenho 40 anos? Eu sou estudante, mãe.
Não mãe, não me coloca pra falar com meu pai. Eu não quero nada, nada desse explorador,
eu só quero o que é meu de direito, se eu falar com ele, vou dar um escândalo.
Alô! Oi pai.
Tudo, tudo bem, não, tô bem.
Não, mesada tá tudo certo.
Tá bom pai, posso falar com minha mãe?
Alô mãe, eu quero 50% de aumento da mesada no mínimo.
Eu quero que volte os meus auxílios, tô parando de comer frutas, legumes, leite.
Até o final da semana, eu não vou almoçar, nem jantar com vocês nenhum dia.
Só vou comer comida industrializada, acabou.
Exatamente, mãe. Eu quero que o meu colesterol vá nas alturas.
Se até domingo, eu não tiver um posicionamento, eu não vou almoçar no meu vô,
vou sair da primeira comunhão
e antes de dormir, eu vou tomar uma cartela de AAS infantil.
É por sua conta e risco, mãe.
Eu não pedi pra nascer, não pedi pra nascer. Vida de merda, vida de merda.