CABELEIREIRO | EMBRULHA PRA VIAGEM
Oi, rapaziada!
Tô chamando vocês de rapaziada hoje.
Quer dizer, vontade de amargar o negócio aqui.
Mas vamos em frente.
Hoje a nossa reflexão vai ser sobre cuidados estéticos
durante a pandemia.
Que é sempre bom a gente estar bem alinhado
mesmo estando em casa.
Vocês repararam que eu até dei um corte no cabelo.
Moderno que eu tô.
Foi meio que uma imposição da Eleonora,
pra eu continuar na família.
Eu achei meio agressivo,
mas pra não criar caso, eu resolvi cortar.
Pedi pra ela mesma fazer o corte,
ela falou assim, nem ferrando.
Aí ela marcou um salão pra mim.
Eu queria ir mesmo lá no Seu Freitas,
que é um barbeiro que eu corto há muitos anos,
mas achei mais arriscado
porque o Seu Freitas é daquela turma
que não tá acreditando muito que o coronavírus existe.
Sabe aquele pessoal que parece que ficou em coma
todos esses meses?
Aí quando ela acordou, achou estranho estar todo mundo de máscara?
É, esse é o Seu Freitas.
Aí eu fui no salão de beleza da Eleonora, mesmo.
Foi tudo muito difícil assim.
Já começou pelo desapego do pijama.
A gente não pode ir de pijama no salão de beleza, né?
Aí eu tive que tirar.
Mas teve o lado bom, que eu abri meu armário, nossa!
Vi tanta roupa lá que eu não via há tanto tempo.
Me emocionei até.
Coloquei um jeans, uma polo básica assim.
Eu me senti indo pra uma festa
de tão bonito que eu achei que ficou, sabe?
Aí eu fui, mas essa alegria durou até entrar no salão.
Que meu Deus, tinha tanta gente naquele salão de beleza,
que a sensação era desesperadora.
Eu me sentiria mais seguro num PoupaTempo sem máscara
do que de estar ali.
Eu pensei até se o Governo não mandou fechar tudo
e só deixar o salão que a Eleonora corta o cabelo aberto.
Porque parecia que tava todo mundo ali no salão.
Foi tenso.
E a mulherada toda bonita cortando o cabelo,
fazendo unhas, chapinha, e aquelas luzes.
E eu pensando,
pra onde essa gente bonita vai depois daqui?
Não entendi nada. Vai ver uma live em casa?
Sei lá, cada um com seu cada qual.
Eu sei que já faz quatro dias que eu fui lá cortar o cabelo
mas o pescoço tá doendo até hoje de tensão.
Já começou ali no lavatório.
Você coloca sua cabeça pra trás,
você já tá meio que entregando sua alma pra Deus ali.
Seja o que Deus quiser mesmo que com máscara.
Cada gotinha de água que voava meio na minha testa
pra mim era uma piscininha de corona vírus
vindo em direção à minha boca
Desespero total. Mas segui.
E a coisa vai piorando, né? Que daí veio o corte em si.
Tudo lá muito chique, muito protegido, sabe?
Mas não adianta, né? A moça corta teu cabelo,
põe a tesoura ali, pega a maquininha, passa,
aí põe a mão na tua testa, aí corta o topete.
É uma sensação que você tá ali
prestes a ter um contato direto com a COVID.
E como é um salão muito bonitão,
eles oferecem água, café.
Eu falei: não, obrigado. Imagina.
Acho que eu só volto a tomar café fora de casa
daqui uns sete anos só, e quem dirá!
Aí a cabeleireira depois resolveu puxar papo.
Todo cabeleireiro gosta de trocar uma ideia.
E ela falando lá, e eu só aqui.
Ela "Ah, esse corona vírus já deu, né?"
Eu falei: é, já deu.
Ela assim: "Eu tô tomando todos os cuidados.
Mas ontem na festa de aniversário da minha sobrinha de quatro anos,
a gente teve que abrir uma exceção, né?"
E ela contando a história da festinha,
e eu tentando contabilizar quantas pessoas ela teve contato.
Dos cinco minutos de história que ela me contou ali,
eu percebi umas catorze pessoas que tiveram contato direto com ela.
Enfim, eu fiquei ali desesperado mas não tinha pra onde correr,
eu falei deixa ela acabar o serviço.
Aí ela cortou o cabelo, eu paguei e saí correndo.
Tomei banho em casa, lavei a cabeça tudo de novo,
e desde esses quatro dias atrás, eu só faço é rezar.
Pra estar tudo bem comigo,
tudo bem com as pessoas da festinha,
também é importante pra eles e pra mim.
E tentar aí manter o corte, né?
Não deixar ficar muito grande. Acho que dá pra ir
de cinco em cinco anos no cabeleireiro
Tem que manter o penteado.