BULLYING ANOS 80 | EMBRULHA PRA VIAGEM
Bicho, tá ficando impossível.
Eu tô precisando urgentemente de uma fita virgem
pra gravar o show do Fábio Júnior que vai passar agora na rádio.
Aí eu fui pedir pra minha sobrinha comprar,
ela disse que não se vende mais fita cassete.
Como assim, bicho?
Eu tô aqui com um walkman de última geração,
precisando de uma fita cassete,
ninguém quer vender, ninguém quer ganhar mais dinheiro?
Que é isso!
Eu fiquei tão nervoso que eu falei, "vou escrever uma carta para Basp."
Virei pra minha sobrinha, falei "traz um papel de carta bacana."
Ela perguntou o que era papel de carta.
Bicho! Como uma menina hoje em dia não tem uma coleção de papel de carta?!
Não, e pior, ela falou que ninguém mais manda carta.
E o dinheirão que eu gastei na minha coleção de selo?
Mais de três mil selos, foi tudo por água abaixo.
A sorte que eu garanti a minha aposentadoria.
Sou muito esperto com esse negócio de mercado financeiro, né?
Aí eu fiz um investimento sólido, há 25 anos atrás vendi minha fazenda
e investi em vinte linhas de telefone fixo da Telesp, bicho.
Dinheiro tá só engordando.
Aí deixa a minha sobrinha ficar irritada com a minha fumacinha de cigarro,
eu mudo na minha barra forte e sumo no mundo, bicho.
Aliás, bicho, a molecada de hoje tá cada dia mais irritada, né?
Meu Deus do céu. Eles gostam de se ofender, né?
Inventaram até um termo agora. Bullying.
Na minha época não tinha bullying.
Todo mundo se respeitava, ninguém colocava o outro pra baixo.
Pode perguntar pra todos os meus amigos.
Pergunta lá pro Perna de Alicate, pro Cara de Periquito,
pro Fernando Cabeça, pro João Caroço, pro Monstro, pro Vesgão,
se algum dia alguém colocou eles pra baixo.
Em baile também. Todo mundo se respeitava.
Eu mesmo era apaixonado pela Lili bunda de gaveta.
Eu era famoso na época, né?
Todo mundo me conhecia. Era o Tatu da Ilha da Fantasia.
Eu lembro que tava um bailinho, rolando um Sonífera Ilha do Titãs,
aí eu cheguei dançando, eu tinha um visual bacana, new age.
Ohei pra Lili, Lili olhou pra mim. Aí na sequência,
♪ Foi numa festa gelo e cuba-libre, e na vitrola whisky a go-go ♪
Começou a rolar paquera, chegou a Kátia.
♪ Todo dia ao amanhecer, quanto mais tento te esquecer ♪
♪ Mais eu me lembro ♪ Nossa, bicho.
Quando chegava a Kátia a molecada se animava,
porque tava chegando a hora da Dança da Vassoura, né?
Aí os meninos iam no banheiro passar o perfume, stiletto, Kaiak,
as meninas também, né. Passava absinto, Gabriela Sabatina
aquele brilho de morango na boca.
♪ Linda só você me fascina ♪
Quando começou Linda, eu lembro que eu peguei a vassoura,
sai dançando com a vassoura, fui chegando perto do Vesgão,
entreguei a vassoura pra ele e fiquei com a Lili.
Eu saquei uma bala soft de limão, joguei na boca, quando eu fui beijar...
Engasguei. Bicho, foi a décima vez que me engasguei com a bala soft.
Aí foi um tal de sacode daqui, sacode dali.
Chegou o Cara de Periquito, bateu nas minhas costas,
a bala voou, bicho.
Aí já entrou o ♪
Aí acabou a festa pra mim.
O mais importante é que a gente se respeitava, sabe?
E não ficava tomando porcaria.
Essa molecada de hoje quer ficar aí na festa,
fica tomando energético tomando energético.
A gente era muito inocente.
Era Fanta, Sprite, meio copo de cachaça, aí a gente fazia a porradinha.
Quando muito, uma lança caseira de clorofórmio e éter,
uma essência de abacaxi, época boa!
Bom, pena que eu perdi o bipe de tudo mundo, bicho.
Agora tô aqui esperando a cura da doença.
Confinado desde 1986. Não brinque, hein?!
Febre amarela mata, bicho!