Memórias Reveladas
Exposição do Arquivo Nacional mostra documentação produzida durante a ditadura
Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Uma vasta documentação foi produzida por órgãos criados pela repressão, entre 1964 e 1985, quando o Brasil viveu sob um regime de exceção, durante o qual um vasto aparato repressor monitorava movimentos sociais – sindicais, estudantis e outros –, políticos e cidadãos simplesmente suspeitos de oposição à ditadura militar.
São documentos produzidos pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), pelo Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) e os serviços de censura à imprensa e às artes. Serão expostos a partir de amanhã, no Rio de Janeiro, no Arquivo Nacional.
Uma parte desta documentação, assim como o que foi produzido por veículos da imprensa e pelas organizações que se dedicavam a combater a ditadura, estará na exposição Registros de uma Guerra Surda, inaugurada na última sexta-feira. A mostra ficará aberta a partir de amanhã até 26 de agosto.
"A exposição se destina a qualquer pessoa interessada na história recente do Brasil, em especial o período da ditadura militar, que tem repercussão até os dias de hoje, mas, infelizmente, não é tão discutido como deveria ser, inclusive nas escolas", afirma a cientista política Viviane Gouvea, uma das curadoras da mostra, juntamente com uma equipe de pesquisadores do Arquivo Nacional.
"Há aspectos do regime militar que ainda são vistos como tabu e a intenção da curadoria é a de incentivar uma reflexão sobre o período."
A mostra está dividida em cinco módulos temáticos. O primeiro trata de como se institucionalizou o regime de exceção, o que abrange desde o golpe de 1964 ao fechamento do Congresso Nacional, passando pelas cassações de políticos, a estruturação dos serviços secretos e a emissão dos atos institucionais que, pouco a pouco, foram cerceando as liberdades no país. Neste módulo, o documento de maior destaque é o AI-5, que inaugurou o período de maior arbitrariedade da ditadura e vai estar exposto pela primeira vez numa vitrine.
O segundo módulo – Da Repressão à Reação – mostra as greves e passeatas e a repressão a elas, as prisões de manifestantes e militantes, as organizações de luta armada, os sequestros, os atentados, a Guerrilha do Araguaia e a censura às artes e à imprensa.
A propaganda que os governos militares faziam de si mesmos é o tema do terceiro módulo – A Face Pública do Regime. Nele, o visitante pode observar documentos e fotos que retratam o patriotismo exacerbado em datas cívicas, o chamado “milagre econômico” e o apoio de organizações civis ao regime.
O quarto módulo – O Começo do Fim – trata do processo de abertura gradual do regime e de sua relutância em abrir espaço para a democracia, do crescimento do número de greves e passeatas, da imprensa alternativa, do movimento pela anistia, culminando com o movimento Diretas Já.
Por fim, o quinto módulo detalha o projeto Memórias Reveladas, criado pelo governo federal, sob a coordenação do Arquivo Nacional, e que serviu de base para a realização da exposição. Polo difusor de informações contidas nos documentos sobre as lutas políticas no Brasil, nas décadas de 60 a 80, o Memórias Reveladas reúne cerca de 400 mil registros documentais, de instituições públicas e privadas, num banco de dados que pode ser acessado no site do projeto.
Ainda como parte da exposição, será exibida uma mostra de filmes de arquivo, curta-metragens, documentários e entrevistas, que serão exibidos às segundas e quartas-feiras, e longa-metragens, às quintas-feiras.
Visitas guiadas serão oferecidas aos alunos das redes estadual e municipal do Rio. De acordo com os curadores, a exposição seguirá para Brasília no final do ano e o Arquivo Nacional está em negociações para que a mostra seja levada a outras capitais brasileiras.
Edição: Lana Cristina