Ciúmes, fator positivo ou negativo?
Ciúmes, fator positivo ou negativo?
Elisângela Repórter em estúdio - Bom. Ciúme, muita gente acha que quem ama sente, não tem jeito. Outras pessoas não podem nem ouvir falar nesse assunto. Será que esse sentimento ajuda ou atrapalha uma relação, né? Quem vai dizer é o psiquiatra do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, o professor Rodrigo Nicolato. Bom dia, de onde vem o ciúme? Como surge esse sentimento, né?
Rodrigo Nicolato - É um sentimento tão comum como outros; como tristeza, ah… como alegria, como raiva, como ira. É…Já houve pesquisas que fala, que falavam, por exemplo, que 100% das pessoas têm uma espécie de ciúme.
Elisângela Repórter em estúdio – Humhum.
Rodrigo Nicolato - Mesmo que elas não reconheçam e não admitam.
Elisângela Repórter em estúdio - Em graus diferentes, né?
Rodrigo Nicolato - Em graus diferentes. Pode ser uma situação normal, quer dizer, a pessoa mesmo reflete e vê que a pessoa está junto com ela porque quer, porque gosta e talvez até esse ciúme possa ser um pouco de tempero. Não dá pra falar se ajuda é…nesse ponto. E algumas pessoas podem exagerar essa situação e pode virar uma doença.
Elisângela Repórter em estúdio – Humhum.
Rodrigo Nicolato - Incomodando tanto aquele que sente ciúme, de uma maneira desconfortável e patológica, como aquele que tambem convive com a pessoa exageradamente ciumenta.
Elisângela Repórter em estúdio – Sim, porque ao mesmo tempo que muita gente que reclama de ciúme, né? "você é ciumento", ah "eu não gosto disso". E tem gente que reclama também: "você não sente ciúmes de mim". Quer dizer que "você não gosta de mim", né? Como é que fica esse ciúme então na relação?
Rodrigo Nicolato – É, aí vamos depender também um pouco da maturidade. Quer dizer, talvez aquelas pessoas com baixa auto-estima sejam um pouco mais propensas, não só sentir ciúme, como também a reivindicar um pouco de ciúme. Como se ciúme fosse uma forma de gostar, e não é. Ciúme não é gostar de ninguém.
Elisângela Repórter em estúdio – Humhum.
Rodrigo Nicolato – Na medida certa tudo bem, desde que o casal reflita, que o casal converse, que o casal discuta é… amigavelmente e chega a um acordo. Mas a partir de que ele passa a permear, não só a necessidade de exibir, como a necessidade de posse, de controle, a coisa não vai ficar muito bem.
Elisângela Repórter em estúdio - Mas há relações em que mesmo que o casal converse não resolve, né? A pessoa fala, fala, o outro não acredita, não… É uma patologia e já há um problema grave?
Rodrigo Nicolato – Sim, é…e dependendo da situação a gente pode ter um ciúme obsessivo, por exemplo. Quando, até um pouco menos perigoso porque a pessoa passa a o… pensamento dela é ocupado o tempo inteiro com a possibilidade de traição, com a possibilidade de... da... o ciúme é obsessivo, mas a pessoa sabe que aquilo é um pouco exagerado. Ela sabe que ela tá sofrendo por isso e ela até comunica ao namorado, a namorada, que ela tá passando uma situação difícil.
Elisângela Repórter em estúdio - Ela tem noção disso?
Rodrigo Nicolato – Ela tem noção disso. No ciúme obsessivo, sim. O problema é o ciúme delirante, onde, por exemplo, vou te dar um exemplo: a namorada chega antes, tá... há uma certeza de que ela está traindo, porque ela chegou antes pré-meditando em chegar mais cedo. Ela chegou depois, notoriamente ela tá traindo por que ela chegou mais tarde. Isso é óbvio. E quando chega no horário, tá traindo do mesmo jeito.