PARAIBADA
Como é que foi a balada lá ontem?
Porra, o baile do Serginho lá no Alto, bom demais.
Floridão, bebida liberada.
Agora o inferninho que o Juca inventou
de levar a gente na Gamboa, puta que pariu.
Uma merda. Horrível. Péssimo.
Mas estava vazio? Estava caído? Qual foi?
Quem me dera que estivesse vazio, cara.
Cheio pra caralho, uma gente cafona, muvuca.
Um calor, uma paraibada do caramba.
-Não fala assim. -Qual foi?
"Paraibada", não se fala mais assim.
Qual foi, André? Agora vai começar
com esse papo de politicamente correto?
Chato pra caralho, irmão. Todo mundo sempre falou assim.
-Zero preconceito, pô. -Preconceito tem pra cacete, né.
Mas não é nem por causa do preconceito
que não se fala mais assim. São outros motivos agora.
Então está falando dessa porra de lugar de fala, né.
Porque minha mãe morou em Queimados, irmão.
E lá, ela namorou um paraíba que veio do Ceará...
Para com essa porra, cara. "Paraíba do Ceará".
Olha como é que você fala, cara. Ainda fala errado.
Não tem nada a ver uma coisa com a outra.
Não se fala mais assim por uma questão
de discriminação adequada.
Discriminação adequada? Que porra é essa?
Por exemplo, estava falando que esse lugar estava
cheio de gente cafona, não é isso?
Então, nesse caso,
é uma maristada, não é paraibada que fala.
Maristada. Mas isso aí não é estado. É o quê? Cidade?
Não. Isso é uma derivação do setor Marista,
que é um bairro lá de Goiânia.
Sabe aqueles bairros que estão cheios daqueles caras
de camisa polo bem apertadinha, com cavalinho, sabe?
Tem um fivelão aqui na cintura pra desviar
a atenção do pau pequeno.
Parece que entraram numa calça quando eles tinham 12 anos
e a calça ficou a mesma, mas eles foram crescendo,
crescendo, crescendo, até a calça ficar bem justa
e dividir os testículos assim. Ficar uma bolinha de cada lado.
Bem cafona? Maristada.
Mas aí não seria, então, Goianada?
Não, porque é generalização demais.
É que nem você falar "paraibada", que aliás,
é maior leblonzice, tá? Aliás, você já foi pra Paraíba?
-Porra, nunca fui. -Pois é, tinha que ir.
Paraíba é um lugar lindo, umas praias maravilhosas.
As mulheres, então. Umas deusas caminhando sobre a Terra
e você fala um negócio desse.
Porra, mas então o que eu posso falar?
Aí depende do lugar, depende do contexto.
Por exemplo, você vai numa balada
e está muito vazia, o lugar é ermo,
tem quase ninguém, aí é tocantinada.
Nesse caso, não teve jeito. Sobrou pro estado mesmo.
Sabe aquelas baladas que você vai,
não é nem uma coisa nem outra, você vai esperando
vir um negócio e é outro completamente diferente?
Aí nesse caso, é uma capixabada.
Não tem nada a ver com o capixaba em si,
é mais uma questão do Espírito Santo assim,
geograficamente falando.
É que o Espírito Santo ninguém sabe direito
se é o Rio de Janeiro do Nordeste,
ou se é a Bahia do Sudeste.
Sabe aquela balada que você chega
e está um fedor, uma inhaca, parece que as pessoas
tomaram banho de cocô, uma água com coliforme fecal,
-assim. Exatamente. -Tipo Lapa que você está falando.
Tipo aqui. É uma cariocada. É a gente.
E sabe aquelas baladas que você vai assim,
tem aqueles caras muito fortes, metido a militar,
falando grosso, que usa bandeira do Brasil no Instagram?
Cheio de preconceito, mas que, na verdade,
é enrustido, pinta a unha do pé debaixo do boot,
roubou a calcinha da mulher pra usar escondido?
Aí, nesse caso, é uma motociatada.
Mas aí não é nem estado, nem cidade, nem bairro, pô.
É, pois é. É porque novasantarosada ia ficar grande demais.
Teve gente que chegou a querer um curitibada, um paranazada,
mas aí ia chegar sacanagem com o pessoal do Juvevê.
E quando não é questão de balada?
For um negócio de trânsito. O cara fez a barbeiragem,
fez a bandalha ali, a gente continua chamando de baianada?
Não fala baianada. Inclusive, isso é maior paulistice
o que você está fazendo. Queimação, coisa de faria limeiro.
-É? -Quando você for analisar
uma barbeiragem no trânsito, você tem que ver
a situação nos detalhes. Quer ver?
Nessa situação hipotética aí da barbeiragem,
o carro era bom? Carro de rico, de bacana?
-Era carro bacana, bacana. -Carro de rico.
-O motorista estava armado? -Olha, eu acho
que ele estava armado, sim.
Quando ele abriu a janela pra falar com você,
ele falou num português correto, ou ele usou
-um xingamento de baixo calão? -Falou português direitinho, não.
-Pinta de pastor pilantra? -Tinha.
Nesse caso aí, é uma barra da tijucada.
Olha só. Vivendo e aprendendo. Nunca que eu imaginei
que um carro cheio de miliciano fazendo merda...
Não, não é barra da tijucada mais.
Se tem miliciano, até 2022, é brasilianada.
Está vendo aquele cara ali?
Tornozeleirinha da Jamaica. O tênis dele ali
custa R$ 1.500, mas ele usa desamarrado
pra dar uma ideia de que ele é desleixado,
-que não liga, sabe? -Hippie de boutique, né?
Exatamente. Isso aí, tecladista de Los Hermanos.
Isso aí gosta de fazer uma são salvadorada.
Pode crer. É isso mesmo.
Essa garota aqui atrás. Está vendo?
-Cabelinho de "Blade Runner". -Estou sabendo.
Parece que é braba, vegana, sabe?
No fim de semana, está chorando, enchendo o rabo de Nutella.
Isso é o quê? Uma moemeira. Gosta de fazer moemice.
E aquele cara ali?
Aquele lá é só feio mesmo.