Astrologia
Em uma caverna a milhares de anos atrás, um homem pinta nas paredes de pedra algo que acreditava ser real: contava a história de animais e coisas que eram imbuídos com uma espécie de espírito e, que assim, teriam influência sobre ele. Por isso, se ele quisesse ter uma boa caçada, ele precisava acalmar esses espíritos.
Esse tipo de crença que os seres humanos mostraram já logo em seus primórdios, apesar de fantasiosos, parecem ter sido o processo natural para que o homem buscasse incessantemente compreender a influência do cosmo sobre a vida dele. O misticismo e a observação eram como ferramentas naturais para a evolução da ciência. E nada melhor que a astrologia para contar essa história.
Por volta do século XVIII a.C. Os babilônios já acreditavam na influência dos astros sobre o cotidiano. Um famoso texto cuneiforme da época, já codificava essa crença. Fases da lua e duração dos dias, por exemplo, eram interpretados com presságios para a vida ou o governo de um rei.
Mas ao voltar seus olhos para o céu, o homem também começou a perceber que as plantações, a época de frio ou calor e, até mesmo as marés, pareciam sofrer grande influência dos astros, que acabaram sendo interpretados como deuses ou seres que eram responsáveis pelo bem ou pelo mal dos homens. Notaram também que esses deuses mandavam sinais que podiam ser usados para saber o futuro de uma colheita e que, na maioria das vezes, mantinham um certo padrão cronológico em suas atuações, permitindo que o homem criasse ferramentas para observar e direcionar a agricultura e os preparativos para o inverno.
Há 10 mil anos, relógios cósmicos começaram a ser usados para isso. Posteriormente onde hoje é o Reino Unido, construíram um enorme e famoso círculo de pedras, cuja a função era marcar a posição do Sol durante o ano. Esse gigante relógio solar, chamado hoje de Stonehenge, possibilitou o cultivo de plantações de forma eficiente e próspera.
Quando o ser humano percebeu que o sol, a lua e as estrelas influenciavam ou permitiam prever acontecimentos na agricultura, na pesca e na caça, era inevitável que, com o quase nulo conhecimento científico, os astros fossem interpretados como deuses ou entes sobrenaturais.
Várias mitologias antigas se desenvolveram baseadas nas observações astrológicas. Não é atoa que os planetas tem nomes de deuses.
E assim, quando algum fenômeno devastava uma colheita ou causava uma enchente, concluíasse se tratar de algum deus ou divindade descontente com algo.
Templos e rituais foram criados para apaziguar os deuses e garantir boas colheitas e boas vidas, afinal os antigos concluíram que, se esses deuses influenciavam as plantações, os animais e os mares, certamente influenciavam também a vida pessoal de cada um.
Em 330 a.C. Alexandre, o Grande, conquistava o Egito, unindo assim, várias culturas que trouxeram conhecimento diverso. A astrologia foi um deles.
Os babilônios já tinham divido o céu em um zodíaco com doze faixas iguais, nas quais passavam o Sol e a Lua. Os nomes foram baseados nas constelações presentes nessas faixas e as datas referentes a quando o Sol estaria em cada uma delas. Com os gregos, esses nomes e datas foram instituídos da forma como conhecemos hoje.
Quando Roma conquistou a Grécia, muito do rico conhecimento grego foi absorvido, assim como a astrologia e a mitologia, o que ajudou o lado místico daquela ciência a se desenvolver. Imperadores estavam sempre consultando astrólogos para tomar decisões e deuses eram homenageados em templos e oferendas.
Nessa época, um matemático de nome Ptolomeu, conclui que todo o sistema solar gira em torno na Terra, o que ficou conhecido como teoria de Almagesto. Dessa forma, a divisão do zodíaco em 12 faixas que marcavam a posição do Sol fazia mais sentido. Apesar de errada, a teoria ajudava a marcar o tempo, o que viria, futuramente a se tornar o calendário que temos hoje.
O campo de estudos em volta do comportamento dos astros e a influência dos mesmos sobre a Terra avançava e fez com que muitos dedicassem suas vidas a compreender e relacionar nossa existência com todo o cosmo.
Filósofos antigos, como Hiparco, Heratóstenes e Hypatia desenvolveram teorias e medições que mudaram a forma como o homem via o mundo e o universo. Ptolomeu foi mais além e também relacionou a posição e comportamento das estrelas e planetas com a vida pessoal dos humanos.
Ptolomeu foi responsável por teorias que perduraram séculos, tendo vários outros filósofos baseando seus estudos nos trabalhos do matemático. Ele compilou o Tetrabiblos, um conjunto de quatro livros que tratavam basicamente de estudos, cálculos, observações e teorias sobre os astros e sua relação com a Terra, como previsão de eclipses, estações do ano e contagem do tempo. Enquanto esse lado da astrologia era fundamental para a agricultura e o entendimento do cosmo, a suposta relação dos astros com a vida e a possibilidade de saber o futuro de cada indivíduo também fez com que reis e plebeus, por muito tempo, consultassem astrólogos antes de tomar decisões.
Por vários séculos o Tetrabiblos foi a principal referência para esse tipo de estudo astrológico. Os signos passavam a fazer parte da vida das pessoas como uma espécie de tatuagem natal que definia quem seríamos e como viveríamos. Essa linha de pensamento deu origem aos mapas astrais e dividiu a astrologia em quatro correntes: a mundana, que previa fenômenos climáticos e políticos, a natal e horária, que tratavam eventos individuais baseados na data e horário de nascimento da pessoa e eram fundamentais para a elaboração dos mapas astrais; e a eletiva, que definia o momento certo para tomar decisões.
As estrelas passavam a ter um significado muito maior para muitas pessoas.
E o nome das Constelações, que consequentemente nomeavam os signos do zodíaco, era, mitologicamente, uma interessante história a parte.
A mitologia das Constelações
Áries
Esse era o nome do carneiro que remonta a história dos Argonautas. Jasão precisava achar áries e trazer sua lã de ouro para, assim, recuperar o trono de seu pai.
Touro
De acordo com a Mitologia, Zeus se apaixonou pela princesa Europa, e se transformou em um touro com chifres de ouro para levá-la a Creta. Quando ela morreu o deus colocou no céu um touro feito de estrelas, para sempre se lembrar de sua amada.
Gêmeos
Essa constelação tem esse nome por causa dos gêmeos Castor e Pollux, que também é o nome das duas estrelas mais brilhantes da constelação. Apesar de gêmeos, os irmãos tinham pais diferentes, sendo que o pai de Pollux era Zeus, o que o fazia imortal, ao contrário de seu irmão Castor.
Na Guerra de Troia, os irmãos lutaram juntos, mas Castor tombou. Pollux não conseguiu aceitar a morte do irmão e Zeus decidiu fazê-lo também imortal. Assim ambos vivem juntos eternamente no céu.
Câncer
Durante os doze trabalhos que Hércules realizou como penitência por matar sua família, ele foi atacado por um carangueijo gigante, de nome Carcinos ou, simplesmente, Câncer. A constelação de Câncer tem esse nome, por lembrar um carangueijo.
Leão
Também remetendo aos trabalhos de Hércules, essa constelação remonta a história do Leão Nemean, que tinha uma pele impossível de perfurar. Depois de quebrar todas suas armas tentando matá-lo, Hércules conseguiu estrângular a fera e o colocou no céu como troféu de suas conquistas.
Virgem
A constelação tem relação com Perséfone, que foi raptada por Hades, o deus do mundo dos mortos, acabando assim com a eterna primavera no planeta.
Libra
Sem uma relação específica com a mitologia, a balança era associada ao equilíbrio das estações e veio dos babilônios. Os romanos a relacionavam com a deusa Virgo, que mantinha a balança da justiça.
Escorpião
Órion se gabava de ser um exímio caçador e que podia matar todos os animais. A deusa Artemis, então, manda um escorpião para matá-lo. Após vencer a batalha, o escorpião foi colocado no céu por Zeus.
Sagitário
Sagitário era um arqueiro, híbrido de cavalo e humano. Conta a mitologia que Sagitário atirou no escorpião que foi enviado para matar Órion.
Capricórnio
Essa constelação foi nomeada pelos sumérios, que a interpretaram como uma figura que era metade cabra e metade peixe. Os gregos, por sua vez, a associaram a Pan, uma divindade da natureza que ajudou Zeus contra os Titãs.
Aquário
Essa é a constelação ligada a Ganimedes, pois parece um homem portando uma jarra. Ganimedes caiu nas graças de Zeus e foi levado para o Monte Olimpo, se tornando uma espécie do copeiro dos deuses. Ganhou assim a juventude eterna e ficou conhecido como o portador da taça dos deuses.
Peixes
Representado como dois peixes, essa constelação foi relacionada, pelos gregos, a Afrodite e seu filho Eros, que, para fugir do monstru Typhon, se transformou em peixa para fugir pelo rio Eufrates.
Astrologia e astronomia foram por muito tempo a mesma coisa.
No século XVI o estudo das estrelas foi fundamental para a evolução científica e até mesmo para a navegação, possibilitando que o homem descobrisse que o mundo era muito maior do que imaginava.
Porém, nessa época Nicolau Copérnico começou a desenhar o que seria o divórcio da ciência com a astrologia. Desenvolveu a teoria heliocêntrica contrariando as conclusões de Ptolomeu, que dizia ser a Terra o centro do universo. Mas a Igreja, na época, não gostou da ideia, vetando esse tipo de estudo.
Pouco depois o dinamarquês Tycho Brahe uniu a teoria de Copernico com Ptolomeu, numa tentativa de não contrariar a igreja enquanto percebia o óbvio. Assim afirmou que o Sol girava em torno da Terra enquanto todos os outros planetas giravam em torno do Sol.
Após a morte de Brahe, seu assistente alemão Johannes Kepler, continuou os estudos do antigo mestre e reafirmou o heliocentrismo de Copernico. O Sol estando no centro do universo, desbancava boa parte dos cálculos astrológicos passados.
No século XVII, Sir Isaac Newton havia transformado o céu numa enorme calculadora. Todo o movimento dos planetas foi transformado em números e o estudo da gravidade determinou que era esse fenômeno que controlava todo aquele balet astral.
Esses avanços foram culminantes para a separação da astronomia e da astrologia. A ciência tomou o caminho da astronomia enquanto a astrologia tentava rebater os fatos, já que além de todo o avanço científico, provou-se também que o céu e a posição do Sol nos dias de hoje não são os mesmos da antiguidade, deixando todos os cálculos elementares da astrologia obsoletos.
Mesmo assim, ainda hoje, uma enorme parcela das pessoas acredita que a astrologia é uma ciência.
Mas por quê, uma pseudociência como a astrologia, que não conta com nenhuma comprovação ainda continua sendo levada a sério por uma enorme parcela da humanidade?
Na verdade a psicologia tem um nome para isso: Efeito Barnum, ou também conhecido como Efeito Forer, ou ainda Efeito da Validação Subjetiva.
O Efeito Barnum recebeu esse nome devido a fama de mestre da manipulação psicológica do showman e ilusionista P.T. Barnum, o mesmo que supostamente teria dito: “a cada minuto nasce um idiota”. Esse fenômeno trata-se da propensão das pessoas em encontrar significados pessoais em descrições generalizadas.
Em 1948 o psicólogo Bertram Forer entregou a seus alunos um teste de personalidade para que respondessem. Ele então montou um perfil de cada um dos alunos e depois de uma semana entregou a descrição e pediu que eles avaliassem se aquele perfil estava correto sobre eles. Praticamente todos responderam que aquela descrição preciso sobre eles.
Mas, na verdade, o que o professor Forer havia feito foi simplesmente ignorar os testes de personalidade que os alunos fizeram e entregou o exato mesmo perfil para todos eles. Perfil esse que inclusive é o seu também. Era a seguinte descrição:
Você sente necessidade de que outras pessoas gostem de você e te admirem, e ainda assim tende a ser uma pessoa crítica em relação a si mesma. Embora tenha algumas fraquezas de personalidade, geralmente é capaz de compensá-las. Você tem uma considerável capacidade não utilizada, que ainda não usou a seu favor. Tem disciplina e auto-controle por fora, mas também tende a ser uma pessoa preocupada e insegura no seu íntimo. Às vezes tem sérias dúvidas sobre se tomou a decisão correta ou fez a coisa certa. Prefere uma certa mudança e variedade, e sente insatisfação quando é cercado por restrições e limitações. Também se orgulha de pensar de forma independente, e não aceita afirmações de outros sem provas satisfatórias. Mas descobriu que não é recomendável ser excessivamente aberto ao se revelar para outras pessoas. Às vezes é uma pessoa extrovertida, afável e sociável, embora às vezes também seja uma pessoa introvertida, cautelosa e reservada. Algumas das suas aspirações tendem a ser irrealistas.
Essa descrição é vaga o suficiente para ser aplicada em praticamente qualquer pessoa.
Bertram Forer relacionou os resultados de sua pesquisa com a ingenuidade, ou seja, uma falha de inteligência social em que uma pessoa é facilmente manipulada ou enganada.
É exatamente por isso que o Efeito Forer também depende da credibilidade que a pessoa que aplica o teste tem ou a confiança nela depositada pela “vítima”, bem como o teor positivo das características, mostrando que as pessoas tendem a serem mais ingênuas sobre si mesmas quando se trata de características positivas, confirmando assim, também, a Síndrome de Poliana, a qual afirma que o ser humano tem a tendência de guardar melhor as boas lembranças.
A ingenuidade e credulidade estão intimamente relacionadas, e são a base para o sucesso de toda pseudociência e misticismo.
Com essa base os outros aspectos atrativos da astrologia entram em ação. Primeiro há a ilusória sensação de controle ao ter pelo menos uma pista do que está por vir na vida da pessoa. Em segundo há a desculpa para os pontos menos positivos como se ser agressivo, por exemplo, fosse algo inerente a pessoa por causa do signo ou se estar abalado emocionalmente fosse por causa da lua em câncer. É mais fácil acreditar nisso do que se esforçar para melhorar.
A ingenuidade e credulidade estão intimamente relacionadas, e são a base para o sucesso de toda pseudociência e misticismo.