Se Acaso Voce Chegasse, com Elza Soares - O ARRANJO #42 (with english subtitles)
O grande compositor Ary Barroso apresentava no começo dos anos 1950, na rádio tupi, um programa chamado "Calouros em Desfile"
O programa era puro entretenimento, se o candidato não cantasse bem um assistente de palco tocava um imenso gongo, literalmente gongava o calouro
Ary era irreverente e sarcástico, e a plateia adorava, mas às vezes chegava no limite da humilhação
Ele foi no mínimo grosseiro com uma moça bem humilde, de 23 anos, moradora do subúrbio de Água Santa
que estava lá para tentar ganhar o prêmio e pagar o tratamento do seu filho, que tava bem doente
A moça não tinha nem roupa para se apresentar, e pegou uma roupa da mãe, que pesava uns 30 quilos a mais, e amarrou a roupa toda com alfinetes
Apesar da sua beleza, estava muito mal vestida, e quando entrou no palco a plateia foi cruel e começou a rir, a gargalhar
Ary olhou para aquela moça tão desconjuntada e falou: "Menina, de que planeta você veio?"
"Do mesmo planeta que seu, seu Ary. E ele: 'e qual é o meu planeta?', olha, o planeta fome
Quando falei planeta fome já falei com as lágrimas descendo"
Na mesma hora as gargalhadas silenciaram e ela pode cantar o samba canção "Lama", de Paulo Marques e Alice Chaves
Ainda no meio da música, Ary não se conteve e abraçou a moça, falando: senhoras e senhores, acaba de nascer uma estrela!
Na verdade o caminho ainda seria longo, mas começou a brilhar ali a estrela Elza Soares
Eu sou Flávio Mendes, músico e arranjador, esse é O ARRANJO, seja bem vindo
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"Se acaso você chegasse" é um samba de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, lançado por Ciro Monteiro em 1938
Lupicínio compôs o samba em 1956, improvisando na calçada do Café Colombo, em Porto Alegre
Ele estava namorando uma moça que já tinha sido namorada de um grande amigo seu, Heitor Barros, e sabia que isso era uma situação delicada
Ele não queria perder nem a namorada e nem o amigo, e fez esse samba se desculpando,
tentando convencer Heitor que a amizade dos dois era mais importante do que a mulher que o tinha abandonado:
será que tinhas coragem de trocar nossa amizade por ela que já te abandonou?
E deu certo, Heitor adorou o samba que tem o mérito de ter alavancado a carreira de dois artistas: Ciro Monteiro, em 1938, e Elza Soares, em 1959
É o arranjo de Astor Silva para essa, a primeira gravação da Elza, que eu vou analisar nesse vídeo
UM POUCO DE HISTÓRIA
Em 1888 o escravo recém-alforriado Domingos Camões descobriu uma fonte de água mineral
em um morro da zona norte do Rio de Janeiro, era apenas a segunda fonte dessas na cidade
Começou a engarrafar e vender essa água em garrafas de 5 litros, que ele vendia de porta em porta, transportadas em lombo de burro
Essa água começou a ficar conhecida como Água Santa, e acabou dando o nome ao bairro que formou ao redor da pedreira de Santa Luzia, hoje desativada
Seu Avelino trabalhava na pedreira, e morava em um barraco próximo, com a mulher, Dona Rosária e os filhos, um deles, Elza
Era um pai rigoroso, mas carinhoso com os filhos, especialmente com Elza, que tinha herdado dele o gosto por música
No barraco de um quarto, só os pais tinham cama, os filhos dormiam espalhados no chão da sala,
deitados em grandes sacos de farinha de trigo amarrados, que formavam uma espécie de lençol
A rotina de trabalho na pedreira era puxada, e Seu Avelino almoçava bem cedo de manhã, antes de sair pro trabalho
Elza se lembra que adorava que o pai a acordasse de manhã e a levasse pra cozinha, pra ela fazer companhia enquanto ele se alimentava
Era Elza que levava até a pedreira, no início da tarde, um café e um pedaço de pão pro pai, um lanche, pra ele seguir no trabalho pesado
Ela era uma criança que vivia na rua brincando de bola de gude, soltando pipa, misturada com os meninos,
e costumava também brigar fisicamente com eles, apesar de muito fraquinha
Numa tarde ela estava indo levar o café do pai quando ficou encantada com o voo de um inseto que ela adorava,
o louva-deus, e largou a café do pai no chão pra entrar um pouco pelo mato, seguindo o bichinho
Ela estava entretida com o louva-deus quando um rapaz, que morava na vizinhança e também trabalhava na pedreira, a agarrou por trás
Elza ainda era pouco mais de uma criança e não teve certeza das intenções dele, mas reagiu por instinto:
tentou se defender de todas as formas e ficou se debatendo, brigando com o garoto
A briga durou o tempo suficiente pro pai notar o atraso da filha e resolver fazer o caminho inverso pra procurá-la e encontrou os dois
"Meu pai ficou me olhando muito assustado e pegou a gente atracado no mato, aí disse, aí vai dar casamento"
Para o pai a honra da sua filha estava manchada, e avisou ao garoto, Alaordes Soares, que iria marcar o casamento - Elza tinha 13 anos
Não foi um casamento feliz, como era de se esperar, e, com o passar dos anos, Alaordes se transformou em um marido violento
Um ano depois nascia Carlinhos e no ano seguinte Raimundo, e o salário de operário do marido já não dava conta das despesas da casa
Elza foi trabalhar em uma fábrica de sabão pra literalmente colocar comida na mesa dos filhos, eles não passavam fome, mas eram subnutridos
O pequeno Raimundo começou a ficar fraco, com febre, foi diagnosticado com pneumonia e acabou morrendo antes de completar um ano
O terceiro fiho nem chegou a ser registrado, morreu logo depois do parto, e o quarto ela entregou para os padrinhos do menino cuidarem,
pressionada pelo juiz de família que perguntou: você quer que outro filho seu morra?
Ela ainda teve mais dois filhos com Alaordes
Mesmo com todas as dificuldades, Elza vivia falando em ficar rica, sair da miséria, e Dona Rosária tinha uma preocupação real de que ela se prostituísse
Elza já intuía que a música era a grande chance da vida dela,
e disse que aprendeu a cantar carregando uma lata d'água na cabeça do poço até a sua casa, e gostava de cantar com o seu pai
"Meu pai tocava violão e cantava e me botava cantando com ele. Quando chegava alguém ele disse 'gente, eu tenho uma cantora em casa'
Só que era uma cantora pra ele, depois ele viu que o negócio não era só pra ele e ficou muito zangado"
Não só os pais não admitiam a hipótese de ela se profissionalizar como também o marido, que ficava ainda mais violento quando ela tentava puxar o assunto
A situação financeira da família piorou ainda mais quando Alaordes foi diagnosticado com tuberculose, e teve que se internar e parar de trabalhar
Carlinhos, o primogênito, estava doente, a Elza se desesperou com a possibilidade de perder mais um filho,
e resolveu arriscar como caloura no programa do Ary Barroso
Elza saiu no domingo cedo em direção à rádio mas mentiu em casa, disse que iria visitar o filho Gerson na casa dos padrinhos
O auditório da rádio era imenso, conhecido como o "maracanã dos auditórios" e Elza sentia que a plateia se divertia de verdade com o gongo,
que desclassificava os calouros, e era tocado pelo depois famoso Tião Macalé
Elza ganhou 5, a nota máxima, que rendia um bom dinheiro, e ela pegou um táxi pra voltar pra Água Santa
"Aí cheguei perto de um carro daqueles e falei: O senhor quer me levar em casa, eu acabei de ganhar a nota 5
'Pô, é comigo mesmo, acabou de ganhar a nota 5, tá com grana'. Só que ele não sabia que eu não tinha um centavo"
O dinheiro não saía na hora, demorava uns dias pra sair, mas ela combinou com o mesmo motorista dele passar lá dias depois e levá-la pra buscar o prêmio
Ela pagou as corridas de táxi e também as dívidas com os médicos que cuidaram do Carlinhos, e ele sobreviveu
Ganhar nota 5 no programa do Ary Barroso deu algum cartaz momentâneo pra Elza,
mas ela não tinha a menor ideia de como prosseguir na carreira artística, e ainda contra a vontade da sua família
Foi o seu irmão, Avelino, que, sem querer, indicou um caminho: ele dizia que a Elza não sabia cantar
e pra provocar sugeriu que ela fizess um teste na orquestra em que ele tocava e que tava precisando de crooner
Ele não acreditava que a irmã teria coragem de ir, mas ela foi
Estava tímida e demorou pra entrar na sala pra fazer o teste
"Eu fui no Méier e fiz o teste. Só que na hora que eu cheguei tinha muitas moças bonitas, sabe, brancas e bonitas
Aí chegou uma negrinha e mal vestida, aquele contraste do Brasil. Aí eu deixei todo mundo cantar e cheguei perto do professor e disse:
professor, eu queria fazer um teste. Ele dissse, 'Como'?, eu falei olha, eu queria cantar. Ele falou 'olha, meu amor, nós já acabamos com o teste',
eu eu, por favor deixa eu fazer o teste, e fui fazer o teste
Quando eu comecei a cantar todo mundo voltou, iam voltando as pessoas que iam fazer os testes foram voltando,
porque foi uma coisa meio surpreendente, aquela voz, aquele grow, a coisa rouca que eu faço, eu já fazia isso.
Ela ganhou o posto de crooner da orquestra Garan, e cantava nas noites dos fins de semana em quase todos os bailes
Quase porque alguns clubes eram racistas e não permitiam que um negro ou uma negra fosse crooner
Tinha muitos negros entre os músicos, mas estar na frente, cantando, era diferente
Elza sabia que era uma questão de preconceito explícito, mas não tinha a real dimensão daquilo
Muitas vezes saía de casa, sempre mentindo pra todos, passava a noite arrumada pra entrar no palco mas não se apresentava, portanto não ganhava o cachê
Um dia, em clube no bairro de Pilares, Elza estava do lado de fora porque tinha sido avisada de que não poderia cantar
mas notou que o número que a orquestra tocava precisava do canto
Entrou impulsivamente no palco e começou a cantar, e o maestro, branco, tomou um susto
Quando deu por si já era tarde: o público adorou, se levantou pra dançar e aplaudir a cantora, e nunca mais ela foi impedida de cantar
Elza nessa época trabalhava como empregada doméstica, e em casa justificava as saídas noturnas e o dinheiro tava entrando
dizendo que a patroa precisava dela à noite pra servir o jantar e cuidar das crianças pequenas
Nessa mesma época foi indicada pra se apresentar para a dançarina e coreógrafa Mercedes Batista
Mercedes foi a primeira bailarina negra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e era pioneira na mistura entre danças afro e o balé clássico
O grupo dela, Ballet Folclórico Mercedes Batista, participava de um espetáculo de revista no teatro João Caetano,
chamado "É tudo juju-frufru", e Elza foi chamada pra fazer um teste pra reforçar o coro
Eu cantava no coro, porque a Mercedes Batista me botou pra cantar no coro junto com os Golden Boys, que eram garotinhos e também estavam começando.
Aí o Silva Filho disse 'poxa, mas não pode ser, com essas pernas, com esse corpo, tem que ser vedete'! Aí me botou pra cima do palco"
Mercedes Batista chegou com uma proposta irrecusável: um bom dinheiro pra que ela fizesse uma temporada curta em Buenos Aires em um espetáculo da companhia dela
O Cachê era muito bom, e a Elza finalmente abriu o jogo com o marido, doente em um hospital, e o argumento do dinheiro falou mais alto
Em 11 de setembro de 1958, Elza e o grupo da Mercedes embarcaram num navio com destino à Buenos Aires
A turnê era de 15 dias só, e Elza levou uma mala pequena e nenhuma roupa de frio
O elenco ficou hospedado em um hotel barato na rua Florida, mas para a Elza tudo aquilo era um luxo que ela nunca tinha visto na vida
Era a cama mais confortável que já tinha deitado na vida e tinha um banheiro com água quente à vontade
Elza até se penitenciava de estar naquele luxo enquanto os filhos tomavam banho de bacia, mas ela se lembrava que estava ali para melhorar a vida de todos eles
"Desci do morro, peguei uma navio, quando eu vi eu tava em Buenos Aires, dormindo até em colchão de mola, tava genial!
Eu não tinha nada disso, larguei esteira e tudo, acordei em Buenos Aires"
Tudo começou muito bem, até o empresário que tinha levado a companhia desaparecer e dar um calote em todo mundo
A partir daí foi cada um por si, a Mercerdes e outros que tinham dinheiro voltaram pro Brasil, mas quem não tinha como pagar a passagem ficou por lá
Elza se desesperou, as comunicações com o Brasil era muito precárias,
e ela mandou uma carta dizendo que voltaria quando juntasse o dinheiro e precisou de um ano inteiro pra isso
Na volta conseguiu um horário pra cantar aos sábados de manhã na rádio Mauá, no programa do Hélio Ricardo,
não tinha salário, mas lá ela conheceu um padrinho da carreira dela
"Logo no primeiro sábado que eu fui cantar o Moreira da Silva ouvindo o programa
ligou pra rádio Mauá e pediu pro Hélio Ricardo que fizesse que eu aguardasse a presença dele porque ele queria me conhecer
Moreira levou Elza para cantar na boate Texas Bar, em copacabana, uma boate muito bem frequentada
"Quando eu saía de casa pra cantar a minha mãe já ficava cismada. Saía todo dia às 6 horas da tarde e voltava de manhã, onde é que está essa menina, né?
Deve estar ganhando um dinheirinho por aí não fácil, mas deve estar ganhando por aí um dinheirinho meio difícil, que eu acho que é o dinheiro mais difícil que tem, coitadas.
Das prostitutas, que eu tenho por elas um respeito imenso, e é a palavra mais bonita que eu acho, prostituta.
A minha mãe pensava que eu fosse uma prostitutazinha qualquer.
E uma vez eu tô cantando e passa uma mocinha dançando, dentucinha, me olhando, e eu falei, meu Deus do céu
Essa mulher me olhando e eu não sabia mais , e ela disse assim:
'Meu amor, deixa eu falar com você, quando você terminar de cantar você pode dar um pulinho naquela mesa'?, eu falei, não senhora.
A senhora está muito enganada, eu vim aqui contratada pra cantar e não pra sentar na mesa com ninguém.
Ela falou, 'menina como você está nervosa, eu sou a Silvinha Telles!'"
Elza, claro, já sabia quem era a Silvinha Telles, se desculpou e foi se sentar na mesa depois da sua apresentação
Na mesa estava o namorado da Silvinha, Aloysio de Oliveira, diretor da gravadora Odeon,
que a chamou pra um teste na manhã seguinte, nos estúdios da gravadora, na Cinelândia
Elza resolveu nem voltar pra casa, com medo de se atrasar, e dormiu num sofá, lá na boate mesmo
No dia seguinte cedo estava na cinelândia, mas não sabia onde ficava a gravadora,
até que se deparou com um letreiro grande em um prédio, escrito Odeon, e falou com o que parecia ser o porteiro do prédio
"Bom dia, aqui tem um pessoal me esperando, o que que eu faço? Ele disse 'Tá doida? Não tem ninguém esperando você não, aqui não tem ninguém não'.
Eu falei, meu amigo, aqui está escrito Odeon. 'Tá Odeon mas não tem ninguém te esperando', e eu falei, o que que eu faço?"
Nisso ela avista Moreira da Silva, que fala, minha filha, você aqui passeando e todo mundo te esperando...
" Não, Seu Moreira, já fui lá umas três vezes, só que o cara fala que não é pra entrar porque não tem ninguém me esperando. E ele, onde é?, lá"
Ela na verdade estava na porta do cinema Odeon, que fica exatamente em frente ao Edifício São Borja, onde ficavam os estúdios da gravadora Odeon
Chegando na gravadora, Elza se deparou com uma mesa de café da manhã preparada exclusivamente para ela, com frios, sucos, frutas,
e ela só pensava em como poderia levar tudo aquilo pros seus filhos, se nada desse certo eles teriam pelo menos comida para os próximos dias
Mas deu tudo mais do que certo, e naquele mesmo dia ela assinou o contrato pra gravar um compacto duplo, e a primeira música gravada foi "Se acaso você chegasse"
A música estourou no Brasil inteiro, e as suas noites no Texas Bar começaram a ficar ainda mais concorridas, com muitos admiradores querendo conhecê-la
"Eu tava cantando, tinha uma pessoa toda de branco, com umas rosas, muitas rosas, e me olhando o tempo todo.
Eu falei, meu Deus do céu, mais um que tá me olhando, e eu tinha um medo louco.
Ele disse: 'Com licença, eu trago umas rosas pra outra rosa'. Eu disse, olha, o senhor se enganou, eu não me chamo Rosa, detesto rosas, não gosto de rosas, por favor...
'Eu sei, que você não se chama Rosa, você se chama Elza Soares, e esse sucesso que você está fazendo é meu, "Se acaso você chegasse", eu sou Lupicínio Rodrigues'.
Eu falei, seu Lupicínio, me perdoa, eu adoro rosas, seu Lupicínio..."
1. MELODIA Elza já apareceu como uma cantora moderna, com muito suingue, e deu uma pequena entortada na melodia de "Se acaso você chegasse"
O original é assim,
mas a Elza canta
O acorde nessa hora é sol menor, então essa nota é a sétima maior, ela deu uma enriquecida na melodia
Elza já cantava "Se acaso você chegasse" desde a sua temporada na Argentina, e era uma das suas músicas mais aplaudidas nas noites do Texas Bar
A interpretação dela é tão sensacional que dá até pra esquecer que é uma mulher cantando um caso de traição entre dois amigos homens
Ou poderia ser um caso de amor entre mulheres, o que hoje seria natural ser dito, mas não no fim dos anos 1950
Aliás, Elza não gravou nem a parte da letra que falava "de dia me lava a roupa, de noite me beija a boca",
até isso era impensável para uma mulher cantar em 1959
O que abriu espaço para Elza fazer um scat, uma onomatopeia, que mostrava essa peculiaridade da voz dela, esse drive, essa distorção na voz
2. ORQUESTRAÇÃO O grande maestro, compositor, arranjador e trombonista Astor Silva começou a carreira em bailes
e foi integrante por anos da Orquestra Tabajara, dirigida por Severino Araújo
Essa gravação que eu vou analisar tem essa sonoridade dessas orquestras, com os naipes de saxes e metais bem definidos no arranjo
A base é formada só por percussão e contrabaixo, eu não ouço no arranjo a presença de outros instrumentos
de acompanhamento mais tradicional de samba, como violão e cavaquinho
O piano aparece dobrando a voz numa parte instrumental, fazendo a mesma melodia da Elza só que harmonizando,
mas eu também não ouço ele fazendo base, o suporte harmônico, quando acontece, está no naipe dos saxofones
Como era normal naquela época, o disco não tem ficha técnica para informar quantos músicos tocam na faixa,
mas uma orquestra com a Tabajara costuma ter a mesma formação clássica das Big Bands de Jazz:
4 trompetes, 4 trombones e 5 saxofones
3. A FORMA DO ARRANJO "Se acaso você chegasse" tem uma forma bem tradicional de samba, que é um samba em duas partes
A primeira é o refrão, a parte A, e costuma ser apresentada duas vezes, enquanto a segunda do samba, a parte B, não tem repetição, a forma é AAB
Nesse arranjo, Astor Silva faz uma introdução e segue a música inteira cantada
Repete a forma inteira da música, só que agora sem letra: o primeiro A é com solo de saxofones,
o segundo A é com voz e piano e o B é só com os scats da Elza, com as onomatopeias que marcam o estilo dela
E a coda é uma variação da última frase da música, com um final um tanto apoteótico
A introdução tem a melodia em oitavas nos metais com base harmônica nos saxes
Na parte A segue a cama harmônica nos saxes
Os ataques dos metais são sempre no espaço da melodia, nunca ao mesmo tempo
Na repetição do A os sopros repetem o que tocaram na primeira vez
Saxes fazem a cama harmônica, e os metais fazem os ataques ritmados
A parte instrumental começo com os saxes fazendo uma variação da melodia da parte A, tocando em oitavas
Ataques ritmados nos metais, sempre no espaço, na respiração
Ataques nos metais e a melodia com os scats da Elza junto com o piano
Eles tocam em uníssono, mas o piano toca também os acordes
Metais começam em oitavas na frase para a parte B
Agora é só a Elza, numa variação da melodia da segunda parte
No final o arranjo usa uns breques, não chega a ser um samba de breque
Na coda tem uma variação da última frase da música
Ataque forte nos metais, que fazem a frase da coda e sustentam o último acorde
E os saxes fazem uma frase a duas vozes em terças
Bom, esse foi O ARRANJO, se você gostou dá um like, se inscreve no canal, compartilha o vídeo
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Muito obrigado, até uma próxima
"A minha rouquidão é muito gozada, essa minha rouquidão começou quando eu carregava água.
Cada vez que eu pegava a lata eu dava um gemido, aaahhh.
O meu pai ficava na bronca, 'olha, você vai estourar a sua garganta, esse negócio de gemido não dá pé
Aí bah pra lá, bah pra cá, surgiu, olha que esse negócio dá suingue, dá balanço"