A disputa entre primos que desencadeou a Primeira Guerra Mundial
Em 1914 começava o maior conflito bélico da história do mundo até então
A Primeira Guerra Mundial
As três principais nações que protagonizaram o conflito — Alemanha, Reino Unido e Rússia
tinham mais em comum do que o fato de estarem entre as maiores
potências do planeta no início do século vinte
Existiam laços de família
Sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil,
e neste vídeo eu vou mostrar a vocês como as disputas entre três primos desencadearam um
conflito que provocaria a morte de dezessete milhões de pessoas, entre militares e civis
Os quatro anos do conflito mudariam o mapa da Europa e romperiam laços de família
Os monarcas de Alemanha, Reino Unido e Rússia eram da mesma família, a da rainha Vitória do
Reino Unido, que você vê saltando da carruagem, em imagens de mil oitocentos e noventa e oito
A Rainha Vitória reinou por 63 anos, até 1901, quando morreu
O kaiser alemão Guilherme II, o primeiro a declarar guerra,
era o neto mais velho da rainha Vitória. Seu oponente russo, o czar Nicolau II, era
casado com Alexandra, outra neta de Vitória, a favorita da monarca britânica, na verdade.
Guilherme e Nicolau eram primos de segundo grau de George V,
também neto da rainha Vitória. George, soberano do Reino Unido,
decidiu entrar na Primeira Guerra Mundial ao lado da Rússia e da França, contra a Alemanha
A Rainha Vitória não teve o desgosto de testemunhar
o conflito entre seus netos, já que morreu em 1901
Mas eles não eram os únicos soberanos que pertenciam à família de Vitória,
que teve nove filhos e 42 netos com o marido, o príncipe alemão Albert de Saxe-Coburgo-Gota
Os descendentes do casal chegaram a ocupar os tronos de 10 nações europeias,
razão pela qual a Rainha Vitória recebeu o apelido de "avó da Europa"
Mas os planos da "avó da Europa" de fortalecer a monarquia e levar
harmonia ao continente por meio de laços reais acabaram resultando no contrário
A semente da discórdia pode ser atribuída a dois eventos em particular: os casamentos
dos dois filhos mais velhos de Vitória e de seu marido Albert, também chamados Vitória e Albert
A princesa Vicky se casou com o príncipe herdeiro da Prússia, que mais tarde se tornaria Frederico
III da Alemanha. E deu à luz Guilherme Segundo, que viria a ser o kaiser alemão
Albert, o primeiro filho da Rainha Victoria do sexo masculino e, portanto,
herdeiro do trono com o nome de Eduardo VII, se casou com a princesa Alexandra da Dinamarca
Ambos os matrimônios, orquestrados pela rainha Vitória, preparariam o
terreno para o que aconteceria meio século depois
Na Prússia, a relação de Vicky com o filho
mais velho e herdeiro do trono foi complicada desde o início
Durante o parto, Guilherme estava virado na barriga da mãe e, na tentativa de tirá-lo,
o médico machucou o braço esquerdo do bebê, que ficou incapaz de usá-lo pelo resto da vida
A mãe nunca conseguiu lidar com o que considerava um "defeito" do filho
Como toda rejeição, deixou marcas profundas
Do outro lado da família, no Reino Unido, a situação era diferente.
George V, primo de Guilherme e neto da Rainha Vitória,
tinha uma mãe atenciosa, Alexandra da Dinamarca
Embora vivendo no Reino Unido, Alexandra fazia jus
a seu nome. Era orgulhosa de seu país e se sentiu muito ofendida quando parte
da Dinamarca foi anexada pela Prússia e pela Áustria, um ano após seu casamento
Por este motivo, os primos Guilherme, que se tornaria kaiser da Alemanha, e George V,
que seria o monarca do Reino Unido, não tiveram uma convivência próxima
George V, por outro lado, teve, na juventude,
uma relação fraterna com Nicolau, futuro czar da Rússia. Um vínculo
entre a realeza do Reino Unido e da Rússia Aliás, veja como eles eram parecidos
Portanto, Guilherme, kaiser da Alemanha,
não tinha relação próxima com os primos que logo passariam a reinar na Rússia e no Reino Unido.
Guilherme também não era convidado para as festas de família em que seus primos se encontravam
Quando o pai de Guilherme Segundo, o imperador Frederico Terceiro, morreu, o primeiro ato do
sucessor foi cercar o palácio onde estava sua mãe, Vicky. Ele queria todos os documentos do monarca,
que, ao contrário do filho, era liberal e apoiava um sistema de monarquia constitucional
Lembrando que Vicky era filha da rainha Vitória
Aí, na fotos, cercada pelos netos que se espalhariam pela Europa.
A monarquia britânica, portanto, se sentiu extremamente ofendida com a ação de Guilherme.
As coisas pioraram quando, para controlar a política externa da Alemanha,
Guilherme demitiu o chanceler Otto von Bismarck, arquiteto da unificação alemã
A tensão aumentava
Guilherme estreitaria relações com o Império Austro-Húngaro,
se afastando de França, Rússia e Reino Unido. Assim, não só se aglutinavam as forças que
lutariam entre si a partir de 1914, como a grande família da falecida Rainha Vitória se
dividia irremediavelmente. De um lado, Guilherme II,
do outro, os primos George e Nicolau. O estopim para o conflito seria um assassinato
O arquiduque Franz Ferdinand, herdeiro do Império Austro-Húngaro, e sua esposa, Sofia, passavam em
carro aberto por este local, em Saraievo, na Bósnia, quando foram ouvidos disparos
O assassinato foi cometido por um grupo que desejava criar a Grande Sérvia,
independente do domínio Austro-Húngaro
Em resposta, o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia.
Em apoio, a Alemanha declarou guerra à Rússia e à França, aliadas da Sérvia
Quando as tropas alemãs invadiram a Bélgica para chegar à França,
violaram a neutralidade do país, levando o Reino Unido a se juntar a Rússia e
França na chamada Tríplice Entente. Em 1915, a Itália se juntou a eles,
e os Estados Unidos fizeram o mesmo em 1917. O bloco adversário era formado por Alemanha,
Áustria-Hungria e Turquia, a chamada Tríplice Aliança
A guerra não só foi devastadora para a Europa, como também atingiu fortemente a monarquia.
A Primeira Guerra Mundial abriu um abismo na grande família de Vitória:
42 de seus descendentes estavam em território inimigo do império britânico
Dos três primos que desencadearam o conflito, apenas um se saiu vitorioso: George V, avô da
atual rainha Elizabeth II, que mudou o sobrenome alemão de sua família para o britânico "Windsor".
Guilherme II não só perdeu a guerra, como também perdeu a coroa, tendo que
abdicar do trono e fugir para a Holanda, onde caminhava anonimamente, como você vê nas imagens
Ele foi o último imperador que a Alemanha teve.
Mas o pior destino foi o de Nicolau II, executado alguns meses antes do fim da guerra,
junto com sua esposa e filhos, pelos bolcheviques que assumiram o poder,
liderados por Lênin, e criaram a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Assim, a Primeira Guerra Mundial marcou o fim de
quatro monarquias que estavam nas mãos dos descendentes de Vitória:
Alemanha, Rússia, Áustria-Hungria e Turquia
Os soberanos que mantiveram suas coroas perderam influência e poder,
sendo relegados a tarefas mais simbólicas
Espero que vocês tenham gostado do vídeo. muito obrigada e até a próxima