A crise em Mianmar, onde Nobel da Paz foi tirada do poder e presa por militares
O exército está de volta ao poder em Mianmar
Uma década depois de entregar o comando do país a um governo civil, líderes militares
anunciaram na segunda-feira que tinham tomado as rédeas do país
Eles deram um golpe de Estado, um sério retrocesso no processo de transição
para a democracia iniciado em 2008 Mianmar, ou Birmânia, como também é conhecido
este país, esteve antes por quase cinquenta anos sob regimes militares
A líder do partido no poder, Aung San Suu Kyi, e outros políticos foram detidos
Os militares ameaçaram abolir a Constituição, lembrando a era de dura repressão política
que o país viveu durante décadas
Eu sou Rodrigo Pinto, da BBC News Brasil, e neste video explico por que isso está acontecendo agora
Afinal, um novo governo eleito tomaria posse em Mianmar nesta semana
Bem, o golpe de estado recolocou Aung San Suu Kyi na prisão
Líder do partido Liga Nacional da Democracia, Suu Kyi recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1991
por sua luta não violenta por liberdade e direitos humanos
As ideias pró-democracia fizeram com que Suu Kyi ficasse presa entre
1989 e nove e 2010, quando ela se tornou um símbolo da redemocratização no país
A Liga Nacional da Democracia lidera Mianmar
desde que venceu as eleições de 2015, como resultado da abertura democrática
A previsão era de que nesta segunda-feira, primeiro de fevereiro, o partido iniciasse
seu segundo mandato após as eleições de novembro passado, nas quais obteve
80% dos votos
Nas eleições, os grandes perdedores foram os militares
Depois de serem tão poderosos em Mianmar,
eles mal conseguiram assentos por meio de seu partido aliado, o Partido União, Solidariedade
e Desenvolvimento
O fracasso retumbante nas urnas, segundo muitos analistas, envergonha os militares,
que perderam em bairros onde são tradicionalmente mais fortes
Isso explica por que os militares decidiram dar o golpe
O exército já dava sinais de que algo assim estava chegando Após as eleições de novembro de 2020
os militares e seu partido aliado começaram uma campanha de desinformação
Humilhados nas urnas, alegaram fraude eleitoral O presidente interino, que acaba de ser nomeado,
repetiu essas mesmas acusações para justificar a imposição do estado de emergência de um ano
Sim, um ano é o tempo que os militares prometem permanecer no poder
Mas muitos em Mianmar dizem que não há evidências de fraude nas eleições de novembro
A organização de direitos humanos Human Rights Watch disse à BBC que a vitória eleitoral de Suu Kyi foi esmagadora
Aung San Suu Kyi mantém alta popularidade, apesar das graves acusações de genocídio
contra a minoria muçulmana de Mianmar, quando ela estava no poder
As acusações de genocídio dos Rohingya fez com que muitos líderes internacionais,
que antes a viam como um símbolo, virassem as costas para ela
Eles a acusam de não ter atuado para impedir o assassinato e a remoção de milhares de muçulmanos
Também é preciso ter em mente
que nesses anos de transição democrática os militares não perderam realmente o poder
Eles têm mantido um controle
relativamente rigoroso de Mianmar graças em parte à controversa Constituição de
2008, elaborada durante o governo militar
Exemplo disso é que os militares controlam um quarto do Parlamento, o que dificulta bastante
a aprovação de qualquer emenda à Constituição. 75% por cento dos votos são exigidos
Além do mais, os ministérios mais importantes também estão nas mãos dos militares
Eles têm autonomia de comando e proteção política para crimes de Guerra
Basicamente, os militares lá em Mianmar têm impunidade garantida
Mas então por que, com tanto poder, os militares ainda decidiram seguir com o golpe?
Não está totalmente claro pros analistas o que levou os militares a essa ação
Especialistas dizem que a ofensiva militar afastará parceiros internacionais não chineses
Isso pode afetar diretamente os negócios militares
Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia estão entre os que condenaram o golpe
Mas a China, o país mais influente em Mianmar, ainda não se posicionou contra a tomada de poder
Por outro lado, como mostraram os resultados
das eleições, Suu Kyi e seu partido são muito populares
E os eleitores mostraram nas urnas que não querem a volta de um governo militar
Segundo analistas, o golpe pode gerar resistência
Não dá pra esperar que as pessoas fiquem de braços cruzados
Algumas demonstrações de protesto já estão sendo vistas no país
Além disso, o golpe pode reduzir ainda mais as chances do partido aliado dos militares em futuras eleições
Mas há analistas que acreditam que ainda há espaço para uma solução negociada para a crise
Enquanto isso, o controle militar e a supressão da democracia estão de volta a Mianmar
A gente vai continuar acompanhando a situação
em Mianmar, ou Birmânia, no nosso site, o bbcbrasil.com
Eu fico por aqui, tchau!