Doria critica reeleição e diz que há 99% de chance de F1 não sair de São Paulo
[Jul 9, 2019].
Governador, obrigada por atender a BBC.
O senhor veio aqui pra Londres para uma rodada de reunião em busca de investimento, parceria, que o senhor já falou, e o Brasil está num momento delicado.
Como é que o senhor vende a imagem do Brasil com o nível de investimento do jeito que está, com o crescimento do jeito que está, e com essa promessa há muito tempo de o país aprovar uma reforma da Previdência?
Bem, na qualidade do governador de SP a minha prioridade é vender São Paulo, a imagem de São Paulo, novos investimentos em São Paulo e obviamente São Paulo no contexto do Brasil.
São Paulo tem uma imagem boa aqui na Inglaterra dado o fato de que, ao longo dos últimos mais de 100 anos, investimentos britânicos se consolidaram em São Paulo.
E no âmbito do Brasil, o fato de estarmos na iminência da aprovação da reforma da Previdência gerou um sentimento, pelo menos dos investidores com os quais falamos até agora, positivo em relação às perspectivas do Brasil.
E o senhor vem defendendo, junto com a necessidade de fazer uma reforma da Previdência, que os estados e municípios estejam contidos nessa nessa proposta, que não é o que está exatamente tramitando, chegando é o plenário da Câmara hoje.
Essa reforma que o senhor espera, que acredita disse que em setembro vai estar aprovada, ela terá estados e municípios ou, como o senhor falou antes, o próximo presidente vai ter que fazer uma nova reforma, na avaliação do senhor?
Laís, eu espero que sim.
22 dos 27 governadores são favoráveis à inclusão de estados e municípios, já declararam isso.
Apenas 5 manifestaram posições contrárias, mas eu diria até não definitivamente contrárias.
Desejam que negociações possam ser feitas, com o objetivo de melhorar as condições fiscais e dívidas que seus estados têm com o governo federal, para que possam traduzir os votos no plenário, tanto na Câmara quanto no Senado.
Eu ainda tenho a esperança de que estados e municípios possam ser incluídos agora no Senado, no plenário, para que a reforma da Previdência seja completa, como eu tenho mencionado.
Ela sendo completa ela será mais duradoura, não será uma reforma para cinco anos e sim uma reforma para 10 a 20 anos.
E depois de seis meses do novo governo, do novo presidente Jair Bolsonaro, o senhor está aqui fora, o senhor acha que a imagem que se tem do Brasil fora dele, no exterior, melhorou ou piorou?
Laís, eu prefiro não fazer avaliações sobre o governo Bolsonaro, principalmente sob o prisma europeu.
A Europa tem um sentimento em relação ao presidente Bolsonaro que talvez não seja o mesmo em relação a outras regiões do planeta.
Eu prefiro acreditar que o Brasil possa melhorar, que, com a reforma da Previdência, possamos gerar emprego, gerar oportunidades, valorizar o empreendedorismo e fazer a nossa tarefa que é governar bem São Paulo.
São Paulo tem 32% da economia brasileira.
45 milhões de brasileiros vivem ali.
A nossa obrigação, o nosso foco é fortalecer São Paulo, integrando ao Brasil e garantir que esses novos investimentos, e essa é justificativa para estarmos aqui em Londres, possam se traduzir o mais breve possível em mais empregos para os que vivem em São Paulo.
Só pra voltar, que não ficou claro, de que forma que a senhor acha que a Europa vê o Brasil, o presidente Bolsonaro, diferente de outros?
Eu acompanho bem os veículos de comunicação aqui da Europa e vejo muitas vezes posições duras em relação ao Brasil e ao governo brasileiro.
Mas são posições que, a meu ver, podem melhorar diante de bons exemplos e de boas sinalizações que o país, sobretudo agora, diante da perspectiva da reforma da Previdência, poderá sinalizar.
E aqui fora a gente vê uma preocupação muito grande com a questão climática, ambiental.
E, com a Amazônia, claro que o Brasil está no centro dessas discussões, O senhor concorda com a política que o governo federal está fazendo em relação ao meio ambiente?
Laís, eu de novo prefiro não fazer juízos sobre o governo federal, mas quero ressaltar que, no caso de São Paulo especificamente, nós respeitamos todos os protocolos ambientais e respeitamos também os entendimentos sugeridos, recomendados pela ONU.
Temos uma estrutura bastante robusta na área ambiental, através de uma agência chamada Cetesb, uma secretaria que mantém o entendimento de que a proteção ambiental é necessária, é fundamental, pode ser harmonizada com o crescimento, o desenvolvimento, mas não à revelia da obediência à lei, principalmente no sentimento de que nós precisamos proteger o meio ambiente e respeitar o planeta.
O presidente, só pra acabar esse assunto de meio ambiente, o presidente Jair Bolsonaro falou "que o brasil é a virgem que todo o tarado quer" quando ele estava falando sobre esse assunto.
O senhor concorda, considera essa comparação apropriada?
Laís, eu sempre evito fazer julgamentos, mas eu diria que talvez não tenha sido a melhor frase.
Mas é uma posição que o Brasil deve ser respeitado exatamente pela dimensão das suas florestas, das suas reservas ambientais e de uma consciência ambiental que precisa ser expandida e precisa ser harmonizada.
O senhor pretende se candidatar à Presidência?
Eu pretendo ser um bom governador de São Paulo, essa é minha responsabilidade.
Acabamos de sair de uma eleição, é hora de gestão, não é hora de eleição.
O senhor já falou várias vezes que é hora de focar na gestão, mas o atual presidente, que tem um país inteiro para governar, já falou em reeleição e em entregar o país em 2026, pro sucessor dele.
Ele está sem foco na gestão?
No nosso caso, eu respondo por mim, pelo estado de São Paulo, é fazer gestão e foco exclusivo na gestão e no bom governo.
E quero ressaltar também que eu pessoalmente, não é um fato novo, sempre fui contra a reeleição.
A reeleição no Brasil não é uma boa referência.
Todos os governadores e presidentes que foram reeleitos não cumpriram, no seu segundo mandato, uma tarefa melhor do que cumpriram no seu primeiro mandato.
A instituição da reeleição é legítima, é democrática.
Mas no Brasil ela não costuma funcionar bem.
Governador, o Datafolha mostrou que a maioria dos entrevistados reprova a conduta do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, nos diálogos que foram divulgados.
Com o que já saiu até agora, como o senhor avalia a postura do ex-juiz?
Vai continuar a apoiá-lo?
Sergio Moro tem o meu apoio, seja como ministro da Justiça, e está sendo um bom ministro da Justiça, seja também por aquilo que ele realizou como juiz federal.
O Brasil não teria realizado a operação Lava Jato com a eficiência, com a prudência e com a isenção com que realizou, não só no trabalho do juiz Sergio Moro, mas também de outros juízes, desembargadores, promotores, policiais federais, que ao longo dos últimos cinco a seis anos conseguiram dar um exemplo para o mundo de que era possível identificar aqueles que fizeram gestões criminosas com o dinheiro público no plano federal, no plano estadual a no plano de estatais.
Investigaram também empresas que incorreram também na mesma falha de aceitarem pedidos de propina, portanto empresas que também se envolveram na corrupção.
Eu tenho um grande respeito pelo ministro e pelo ex-juiz Sergio Moro.
E acho que, se algum erro foi cometido, isso ainda precisa ser apurado dado que até o presente momento o vazamento desses áudios não são legais e não são amparados em lei, entendo que, mesmo assim, o benefício daquilo que foi feito pela operação Lava Jato para salvar o Brasil da corrupção e de uma extensa, de um extenso período que prejudicou milhões de brasileiros e assaltou dos cofres públicos mais de 250 bilhões, faz com que eu mantenha o meu respeito por Sergio Moro.
Mesmo que os diálogos, o senhor está falando que não estão confirmados, mesmo que eles sejam reais o senhor acha que valeu a pena?
Na minha visão, sim.
Repito, eles não estão amparados legalmente, é preciso que essa investigação prossiga e é natural que ela prossiga, mas, mesmo assim, essa é uma opinião pessoal, não é opinião de partido, mas uma opinião minha e eu não deixo de apoiar Sergio Moro.
O senhor usou a palavra "isenção".
O senhor acha que o ex-juiz Sergio Moro foi isento?
Na defesa do justo, do correto, sim.
Nesses seis primeiros meses de governo, uma crítica muito recorrente foi a relação do novo governo, que mencionou muito o termo velha política, com o Congresso nacional.
O senhor acha que foi ruim essa relação, que eles não conseguiram chegar aonde queriam?
Vocês se refere do governo federal com o Congresso.
Entendo que poderia ter sido melhor, Laís, mas de qualquer forma houve um entendimento e esse entendimento está resultando na aprovação da reforma da Previdência nas próximas semanas.
Acredito também que tudo é um aprendizado.
Com um governo novo, de um partido novo, cujo traquejo vem sendo feito no 'working in progress', ou seja durante a própria navegação deste governo vêm sendo feitos os reparos necessários para que essa navegação possa ser mais tranquila e garantir um futuro melhor para o Brasil.
Vejo um esforço, capitaneado pelo ministro da economia, Paulo Guedes, para que essa relação seja boa, seja frutífera e seja respeitosa.
E é o que eu defendo.
Eu acredito que o Brasil precisa de paz, harmonia e diálogo, seja com o poder legislativo, seja com o poder judiciário.
E o PSL, partido do presidente, o senhor acha que está ajudando nessa navegação ou atrapalhando?
Também está na fase do aprendizado.
Eu destaco o nome que você falou agora há pouco, que é da deputada Joyce Hasselman, que vem sendo a meu ver brilhante na conduta do seu trabalho como líder na Câmara federal.
Acho que é um bom exemplo para que o partido possa seguir evitando conflitos internos e apoiando as políticas públicas do presidente Bolsonaro.
Mais paz no PSL vai ajudar o governo a viver em paz também.
Sobre Fórmula 1, o presidente Jair Bolsonaro falou que tem 99% de chance do GP ir pro Rio de Janeiro.
Eu queria saber como é que o senhor vai transformar esse 1% em realidade?
Primeiro, o presidente creio que tenha sido mal informado.
Ele, como uma pessoa de bem e com o melhor das intenções, ele é paulista, mas sua residência foi durante muitos anos no Rio de Janeiro, acreditou num conjunto de informações que talvez não tenha sido fundamentadas como deveriam ser.
Eu lamento ter que dizer que 99% de possibilidades da Fórmula 1 não sair de São Paulo.
É exatamente o oposto.
Eu não quero contrariar o presidente Bolsonaro nem o governador do Rio de Janeiro nem o prefeito da cidade do Rio de Janeiro, são pessoas que eu gosto e com as quais convivo.
E gosto muito do Rio de Janeiro também, onde eu vivi parte da minha vida e onde eu conheci a minha esposa.
Mas o Rio tem vocação ou possibilidade, condições para abrigar outros eventos, na música, na cultura, na própria atividade esportiva, sem ter que mobilizar 1 bilhão de reais de investimento para fazer um autódromo, para depois se credenciar a buscar a Fórmula 1.
Creio que o Rio tem bons exemplos, como o Rock in Rio, onde investimentos produzem emprego, produzem oportunidade, entretenimento saudável, enricam a economia do Rio de Janeiro, valorizam o seu turismo dentro de propostas realistas.
Não me parece real buscar um bilhão de reais de investimentos para fazer um autódromo onde hoje há apenas um charco e natureza, com o objetivo de levar a Fórmula 1 de São Paulo para o Rio de Janeiro.
Respeitosamente, a Fórmula 1 não vai sair do São Paulo.
De que forma que o Brexit afetou as conversas de vocês aqui?
O senhor avalia que tem mais espaço para o Brasil, menos espaço, como é que fica?
Vamos aguardar para verificar no âmbito desta mudança de governo como este tema será tratado, para que nós possamos intensificar a nossa política de exportação.
Mesmo assim, o resultado inicial desse entendimentos que estamos fazendo aqui em Londres tem mostrado boas perspectivas para a exportação de produtos manufaturados e sobretudo do agribusiness de São Paulo para a Grã-Bretanha.
E o nosso maior objetivo, que é levar novos investimentos para o mercado de São Paulo, em óleo, gás, infraestrutura, na privatização de rodovias, ferrovias, hidrovia Tietê-Paraná, o porto de São Sebastião, o programa metroviário e também as outras áreas que serão concedidas ao setor privado em São Paulo.
Em uma coisa a mais, o senhor gostou quando perguntaram se o senhor estava fazendo um ensaio para visita de chefe de Estado, lá em cima.
Eu não gostei, apenas disse que não aprovei.
Apenas disse que vim e eu estou aqui na condição de governador do estado de São Paulo, que é um estado-nação, com 45 milhões de habitantes, 32% da economia brasileira.
É um estado que isoladamente é maior do que a Argentina, Colômbia, Peru, Chile.
Não desmerecendo esses países, mas mostra a importância econômica, geográfica e populacional de São Paulo no contexto latino-americano Obrigada, governador.