China x EUA: O que o Brasil ganha e perde com a guerra comercial
[May 23, 2019]
Desde o ano passado China e Estados Unidos travam uma complexa guerra comercial sem data para acabar.
Tudo começou quando o presidente americano impôs tarifas sobre a importação de aço e alumínio chinês em março de 2018.
A China retaliou com tarifas sobre produtos americanos, principalmente alimentos.
Desde então, milhares de itens comercializados pelos dois países de, cereais e combustíveis, a motos e carros passaram a pagar mais impostos dos dois lados.
E mais recentemente, o presidente Donald Trump decidiu barrar empresas americanas de comercializarem com a Huawei, que é a maior empresa chinesa de tecnologia de celulares, competidora direta da Apple e da Samsung.
Para cumprir com a ordem do governo Trump o Google baniu suporte técnico, serviços e aplicativos nos novos aparelhos da Huawei.
Empresas americanas que operam na China já aguardam a retaliação.
Bom, como essa disputa envolve as duas maiores economias do mundo, os efeitos recaem sobre todos os países e podem atingir em cheio o Brasil também.
Mas o impacto não é só negativo não, tem país lucrando com isso no curto prazo.
E o nosso é um deles.
Eu sou Nathalia Passarinho, repórter da BBC News Brasil aqui em Londres.
E hoje eu vou detalhar duas oportunidades e dois riscos que a guerra comercial traz para o Brasil.
No final do vídeo, vou falar sobre como o nosso país se posiciona nessa queda de braço entre as duas potências mundiais.
Primeira oportunidade: exportação de alimentos para a China.
Produtos agrícolas americanos foram os mais afetados pela alta nas tarifas impostas pelo governo chinês.
Principalmente soja, amêndoas, maçãs, laranjas e carnes.
Para substituir essas commodities, que ficarão mais caras o gigante asiático teve que procurar outros fornecedores.
O Brasil como terceiro maior exportador agrícola do mundo, atrás só dos Estados Unidos e da união Europeia, é um substituto natural.
E pelo visto os agricultores brasileiros souberam aproveitar bem essa oportunidade.
Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria mostra que em 2018, primeiro ano da guerra comercial, as exportações brasileiras para a China cresceram 35% na comparação com 2017, gerando uma balança comercial positiva para o Brasil em 30 bilhões de dólares.
Vamos ver um exemplo: A soja é o principal produto vendido pelo Brasil para a China.
Responde por 37% da nossa exportação para lá.
No ano passado a gente vendeu R$ 7 bilhões a mais em soja para os chineses.
Um crescimento de 34%.
Agora outros setores também aumentaram as vendas, principalmente de carne bovina, algodão e carne suína.
Olha que o gerente de negócios internacionais da CNI diz sobre isso.
["No curto prazo, o que a gente vê é um aproveitamento das oportunidades pelo Brasil, de exportação. Mas sobretudo, no mercado chinês, para produtos do agronegócio"].
Segunda oportunidade: venda de produtos industrializados.
O Brasil tem diminuído nos últimos anos a exportação de itens manufaturados.
Ou seja, que têm alguma tecnologia envolvida, como automóveis, aviões, autopeças e máquinas e equipamentos no ano passado, itens industrializados responderam só por 36% das nossas exportações.
A maior parte vai para a Argentina.
Segundo especialistas com quem eu conversei, a guerra comercial entre China e Estados Unidos pode representar uma oportunidade para a gente aumentar a venda desses produtos.
Como?
Alguns dos bens chineses sobretaxados pelos Estados Unidos também são produzidos no Brasil.
Como combustível refinado, autopeças e máquinas usadas na indústria.
Esses setores podem tentar aproveitar o vácuo deixado pelos produtos chineses que ficaram mais caros por causa das tarifas americanas.
Olha já houve um aumento das exportações brasileiras para os Estados Unidos de R$ 1,2 bilhão em 2018 na comparação com 2017, mais focado no setor de combustíveis brutos, ou seja pelo visto a indústria brasileira ainda não conseguiu aproveitar esse nicho.
Agora tem outra questão que é importante lembrar, segundo especialistas.
A guerra comercial é uma faca de dois gumes para os nossos manufaturados.
Pode ser que a China tente empurrar para o Brasil os produtos que não conseguiu vender para os Estados Unidos.
Se fizer isso, a indústria brasileira pode sofrer com a competição no mercado interno provocado pela inundação de produtos chineses.
Agora, vamos aos riscos mais diretos que a guerra comercial traz.
O primeiro é o risco de perda de investimentos.
Um dos principais aspectos negativos da disputa comercial é a imprevisibili...
Cara, eu nunca consigo falar essa palavra.
Um dos aspectos negativos da disputa comercial é imprevisibilidade.
Se por um lado a indústria brasileira pode lucrar, se investir na venda para a China e Estados Unidos, essa aposta não deixa de ser arriscada.
Bom, arriscada como? Eu vou dar um exemplo.
De olho na oportunidade de vender mais para os americanos, uma empresa de autopeças brasileira pode aumentar a produção contratar mais funcionários e direcionar parte do orçamento para organizar essa exportação para os Estados Unidos.
Se a disputa comercial com a China continuar, esse investimento pode valer a pena.
Mas e se o presidente Donald Trump e o presidente Xi Jinping trocarem apertos de mão e decidirem suspender as tarifas? Bom, todo esse investimento vai pro ralo.
Segundo risco: desaquecimento da economia mundial.
A consequência mais temida da disputa entre Estados Unidos e China.
Sem dúvida nenhuma é uma recessão econômica a nível global, ou seja uma redução do consumo e da produção na China e nos Estados Unidos ao ponto de escalar para uma diminuição do comércio no mundo todo.
Se os países comprarem e consumirem menos, vão crescer menos também.
Vale lembrar que a China é o principal parceiro comercial do Brasil, e os Estados Unidos o segundo.
Se o Brasil exportar menos para esses dois países, vai crescer menos.
["A principal preocupação para o Brasil são as consequências de um mondo que está crescendo menos dado a um acirramento de disputa e guerra comercial entre as duas maiores potências econômicas do mundo. E of FMI já alertou para o fato de que o crescimento econômica global sofre com essa escalada de tarifas, e se tivermos um acirramento dessa disputa comercial e começar a impactar o crescimento econômico global, evidentemente o Brasil sofre. Até porque o Brasil está num período de recuperação econômica tênue que está demorando mais do que as pessoas imaginavam, e com um ajuste fiscal as ser feito - (Christopher Garman, Eurasia Group). "].
Por fim, vamos falar de como o Brasil deve se posicionar nesse xadrez.
Como eu disse, comércio tanto com os Estados Unidos, quanto com a China é crucial para o Brasil.
Embora o presidente Jair Bolsonaro esteja se aproximando fortemente do governo Trump e tenha no passado acusado a China de estar comprando o Brasil.
Nos últimos meses o governo brasileiro parece querer manter as boas relações com ambos os países.
Exemplo disso foi a viagem do vice-presidente Hamilton Mourão à China para tentar atrair investimentos chineses .
E Bolsonaro já anunciou que pretende fazer ele próprio uma visita à Pequim no segundo semestre.
Por enquanto, China e Estados Unidos não incitaram nosso país a tomar partido.
Segundo o professor de política comparada da Universidade Chinesa de Hong Kong James Downes, a estratégia mais inteligente para o Brasil é ficar em cima do muro, manter boas relações com os dois lados.
E a gente vai continuar acompanhando essa novela.
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Até a próxima!