-Ai! -Chegou o dia, hein!
-Vai sentir um geladinho, tá? -Tá bem.
E aí, doutora? Olha ele ali.
Espera aí.
Ai! Parabéns, é meninx!
-É o quê? -Umx meninx lindx. Parabéns!
A gente não entendeu direito, doutora.
É menino ou é menina?
Essa coisa de gênero é uma construção social, né,
não cabe a mim decidir.
Não, mas é porque se for menino, vai ser João Pedro,
-se for menina, vai ser Julia. -Julinha!
Aí se for menino, o quartinho vai ser azul.
E se for menina, o quartinho vai ser rosa.
Cuidado, hein, mãe. Isso é bem ultrapassado.
-Um quartinho amarelo mesmo. -Amarelx.
-Oi? -Amarelx.
-Amarelx? -O bebê está bem?
E ainda está com o peso normal?
-Não sei. -Como não sabe?
Não sei o que você quer dizer com peso normal.
Não vou constranger esse bebê falando o peso dele.
Você sabe quantos bebês deixam de se alimentar direito
buscando esse padrão de beleza que a sociedade impõe?
-Não. -Então.
-Mas ele está saudável, doutora? -Está.
Está. Tá tudo bem, né.
Já nasceu cheio de privilégios cis binários da família.
O que é privilégio cisbinário, amor?
Vocês aqui pagando consulta caríssima no Einstein,
são brancos, provavelmente héteros.
Mais privilégio que isso só se um de vocês
fosse da família Abravanel.
Mas a gente quer saber do bebê, doutora.
Ele está bem? Ele está saudável?
-Capacitismo agora? -Não, é preocupação mesmo.
A gente quer saber se ele está na minha barriga,
se ele encaixou.
Em quais padrões?
Mal nasceu e já está colocando estigmas.
Que bela mãe você vai ser.
Ô, doutora, a gente está, assim...
Não tem nenhum estigma aqui, a gente não está se importando
se é ele, se é ela, se é elx.
A gente ama essa criança, já ama muito essa criança.
Só quer saber... Você sabe quando ele nasce, pelo menos?
Quando for a hora certa pra elx! Egoísta!
Não atirei o pau no gate te
e e gate te sobreviveu e eu
dona Xique que emponderou-se se
e lacrou e lacrou no Facebook que
Pirulito que bate que não bate
pirulito que não bateu
quem gosta de mim é elx
quem gosta delx sou eu
Ê!