Coronavírus: o que acontece agora que a doença chegou ao Brasil?
[Feb 26, 2020].
O primeiro caso de coronavírus foi confirmado no Brasil.
O que se sabe até agora sobre ele o que acontece após essa primeira confirmação?
Meu nome é Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil em São Paulo, e nesse vídeo a gente vai falar sobre isso.
O primeiro caso foi confirmado em um paciente de 61 anos que esteve no norte da Itália, entre 9 e 21 de fevereiro.
Ele retornou a São Paulo, apresentou sintomas leves da doença: febre, tosse seca, dor de garganta e coriza, e foi ao hospital.
De acordo com o Ministério da Saúde, o paciente se encontra em isolamento em casa, com a esposa, e deve deixar quarentena caso os sintomas desapareçam.
Não existe qualquer confirmação sobre a possibilidade de contágio daquelas pessoas que foram infectadas, mas se recuperaram e não apresentam mais sintomas.
Aqueles 14 dias de quarentena pelos quais os brasileiros repatriados, aqueles que vieram lá de Wuhan passaram, foram determinados por que eles não apresentavam sintomas da doença.
E acredita-se que o período de incubação do vírus varia entre 1 e 14 dias.
Muita gente tem questionado por que ele vai ficar em quarentena em casa e não no hospital.
Na coletiva de imprensa em que comentou o caso, o ministro da Saúde falou que esse é o protocolo, que isolar o paciente no hospital aumentaria as chances de contágio, principalmente em pessoas que já estivessem com a saúde debilitada.
A infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, reforça essa avaliação.
Ela disse que seria inclusive mais perigoso para o paciente estar no hospital, sujeito ao contágio de outras doenças.
Ela ressaltou que ele apresenta sintomas leves e que segue sendo monitorado por telefone pelos profissionais de saúde.
Se o quadro piorar, ele volta para o hospital.
A Anvisa solicitou à companhia aérea a lista de passageiros e tripulantes que estavam no mesmo voo do paciente infectado, que fez conexão em Paris, e está fazendo contato com essas pessoas.
O ministério da Saúde não detalhou qual será o procedimento em relação a elas.
A esposa do homem que foi infectado pelos SARS-Cov-2, o nome oficial do vírus, e familiares que estiveram com ele em uma festa que ele deu em casa no domingo, estão sob observação.
A companheira está isolamento com ele em casa e deve seguir em quarentena por até 14 dias depois que os sintomas do paciente desaparecerem.
Os demais familiares estão apenas sob observação.
Durante a coletiva de imprensa, as autoridades de saúde ressaltaram que se estima que cada pessoa contaminada infecte algo entre duas ou três pessoas, que seria preciso um contato mais íntimo para que houvesse transmissão.
Por isso, essas pessoas estão sendo apenas monitoradas no momento.
E o que acontece daqui para frente?
No início de fevereiro, ou seja ainda antes da confirmação do primeiro caso, o Brasil já havia elevado o nível de alerta de dois, perigo eminente, para três, de emergência de saúde pública.
Segundo informou o governo na época, o fim era administrativo, assim ele poderia adotar medidas extraordinárias para tentar conter a disseminação do vírus, como uma contratação emergencial de profissionais de saúde e a compra de equipamentos sem a necessidade de realizar licitações.
Isso ajudou por exemplo a repatriar os 34 brasileiros que estavam em quarentena em Wuhan, na China, epicentro do vírus no país.
Também no início de fevereiro o governo sancionou uma lei que prevê uma série de medidas que podem ser adotadas no país em meio a um eventual surto.
Em uma situação de emergência, por exemplo, poderá colocar cidadãos em isolamento, em quarentena, realizar testes ou exames de forma compulsória e coletar amostras para análise.
Quem descumprir as normas poderá ser responsabilizado, segundo texto, nos termos previstos em lei, mas ainda não há previsão de possíveis punições.
Na coletiva de imprensa em que falou sobre o caso, o Ministério da Saúde informou que não adotará nenhum tipo de restrição a viagens a regiões onde vírus tem circulado, como China, Coreia do Sul, Irã e Itália.
A Organização Mundial de Saúde aliás não tem nenhuma recomendação nesse sentido.
O ministro falou, entretanto, que famílias que eventualmente tenham viagens marcadas para Europa e que tenham receio por conta da doença usem o bom senso.
Ou seja, se a viagem for inadiável, que se adotem todas as medidas de precaução.
Se não for, evite viajar.
O novo coronavírus atingiu 39 países e territórios.
São quase 81 mil casos confirmados da doença sendo 78 mil na china.
Até agora, o surto se instalou de fato em apenas quatro desses lugares: China, Coreia do Sul, Irã e Itália.
Nos outros, há casos confirmados de modo isolado, como no Brasil.
E o que tem sido feito nesses 35 países e territórios?
O protocolo internacional indica uma série de passos que vão sendo tomados à medida que o surto avança ou não.
Nos Estados Unidos, onde foram confirmados 53 casos, não houve nenhum cancelamento de aulas, eventos públicos ou fechamento de cidades até agora, por exemplo.
Segundo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, o país tem adotado medidas básicas para evitar a circulação da doença, como quarentena domiciliar ou hospitalar para quem apresentar sintomas, ampliação das recomendações de prevenção e monitoramento daqueles que tiveram contato com pessoas doentes.
Já a Itália, onde a situação já é de surto, tem adotado medidas semelhança à da China.
O carnaval de Veneza foi suspenso, jogos da primeira divisão foram adiados e cidades que somam 50 mil habitantes foram submetidas a quarentena: ninguém entra ou sai dali, salvo raras exceções.
Como consequência, pessoas começam a estocar mantimentos, e mercados a enfrentar desabastecimentos parciais.
Já o Irã, onde também há transmissão sustentada, o governo tem se negado adotar medidas como quarentenas, sob argumento de que elas não funcionam.
Isso pode agravar a disseminação da doença.
Em um dia, quatro países vizinhos do Irã registraram seus primeiros casos confirmados de covid-19.
Todos eram ligados a pessoas oriundas o território iraniano.
O Ministério da Saúde do Brasil destacou ainda que uma eventual disseminação no país poderia ser mais lenta do que em outros países neste momento pelas condições climáticas, já que estamos no verão e os vírus em geral se propagam mais rapidamente no inverno.
Além de as pessoas ficarem menos em ambientes fechados, os vírus de forma geral são mais sensíveis à radiação do sol e às temperaturas mais altas.
Dito isso, há motivo para pânico? Pânico não ajuda.
O que ajuda é precaução.
Apesar de o vírus se disseminar com facilidade, ele é menos letal que uma série de outras doenças, algo em torno de 2,3% de letalidade, menor do que outras doenças provocadas por agentes da mesma família corona, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave, a SARS, 9,5% e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio, 35%.
O problema claro seria se o vírus se espalhasse muito.
2% de um grande volume de pessoas se transforma em um número bastante expressivo.
As autoridades de saúde ressaltam ainda que o coronavírus não deve tirar o foco de outras doenças infecciosas perigosas e que já circulam no Brasil, como dengue, febre amarela e sarampo.
A prevenção, entretanto, continua sendo muito importante: lavar bem as mãos algo entre 15 e 20 segundos, higienizar as mãos com álcool gel, manter os ambientes limpos, os móveis da casa, inclusive o celular.
A gente tem um vídeo especificamente sobre isso, vamos deixar aqui na descrição para vocês Continuamos acompanhando esse assunto e voltamos quando tiver novidades.
Obrigada e até a próxima!