Fábio.
Oi, meu amor.
A gente precisa conversar.
O que é que houve? Aconteceu alguma coisa no trabalho?
Exatamente sobre isso que eu quero falar contigo.
O que é que foi? Você não foi demitida não, né?
Não, porque eu não tenho do que ser demitida.
Eu não sou policial.
Como assim, meu amor? É claro que é.
Você tá aí com esse uniforme.
Você sai todo dia de uniforme para trabalhar.
Isso aqui é uma fantasia de carnaval.
Eu não me chamo Almeida.
Quando a gente se conheceu no bloco, você olhou pra mim e falou,
''Nossa! Adorei a sua roupa. Eu não quero que você tire nunca mais.''
E aí... Sei lá, né? Eu não queria te decepcionar. Eu fui levando...
Mas agora não tá dando mais.
Você faz o quê?
Eu sou garçonete.
Garçonete?
É...
Como é que você nunca me falou isso?
Como é que eu vou sustentar a nossa família?
Eu vou ter que fazer plantão extra no hospital.
Não, não vai. Você não é médico.
Isso aí é uma fantasia.
Você tá desempregado.
Desempregado, amor? Você não tá bem não, né?
Claro que eu sou médico, a gente acabou de jantar com o meu chefe agorinha mesmo.
Seu chefe?
É um maluco aleatório vestido de O Poderoso Chefão.
Amor, você tá maluca...
Eu tô maluca? Você tá maluco!
Você tem que abrir os seus olhos! O carnaval já passou!
A gente tá vivendo uma mentira!
Fala baixo! Vai acordar o Juninho.
É um cara fantasiado de bebê.
Não, é nosso bebê!
Aham! Eu estou indo embora, tá?
Não. Espera aí, amor. Não... Como assim?
Como é que você vai embora? Essa casa vai ficar tão vazia sem você...
Fábio...
Eu preciso te falar uma coisa.
Isso aqui nem uma casa é... A gente tá em uma loja.
Foda, né Toquinho?
Amigão, agora somos só eu e você, né?
Então, ó.
Pega a bolinha lá, vai!
Cara, se eu for atrás da bolinha, você deixa eu ir embora?
Depois que você comer a sua ração toda, tá?
Seu merda, é uma caixa de prego!
Tira o olho do meu frango aqui, meu irmão!
Passa!
Sai!
Sai!