TÉCNICAS DE PAQUERA
- Qual é meu brother, beleza? - Como é que tá? Beleza.
Pô, desculpa o atraso aí
- Estava no trânsito. - Não, tá tranquilo, tranquilo.
Como é que tá aí, tudo certo?
Mais ou menos, cara. Eu tô a mais de 5 minutos aqui e ninguém me atende.
Pô, tá cheio de garçom aqui cara.
Pois é, tá cheio de garçom, mas...
Oi, amigo. Você traz pra mim um...
Ô, Ô.
- Tá me ignorando, brother. - Mas o quê que você tá fazendo?
Quê que é?
Tá doido de puxar graçom assim pelo braço?
Tá achando que isso aqui é o quê, micareta?
Meu irmão, eu tô chamando eles há um tempão, ninguém me atende, porra.
Mas não é assim que chama garçom não, irmão. Tem que ter um jeitinho, porra.
Saber chegar? Isso aqui é o trabalho dele, porra.
Olha só, eu venho aqui nesse restaurante, irmão, há muito tempo.
Isso aqui é um lugar super tradicional no Rio de Janeiro,
tem toda uma maneira de chamar os garçons aqui, irmão.
Sandro, desculpa na boa, eu só quero tomar uma cerveja. Só isso, só.
Ô, amigo!
OI! Ô, AMIGO!
Ih...
Que erro, irmão, foi escolher logo o Geraldo.
Mas Geraldo? Eu quero escolher qualquer um, eu não quero saber se é...
É Geraldo, então? GERALDO!
- Olha bem aqui, Geraldo! - Desiste, irmão.
Chamando o Geraldo, assim?
O Geraldo?
- Hãn? - Genioso...
Geraldo... Ô Geraldo, eu sei que você tá me ouvindo, porra.
Ele não tá me vendo, mas ele tá me ouvindo. Tenho certeza.
Geraldo, irmão, ele é desses que se ele sente que você tá afim,
ele logo perde o interesse.
Aí fica difícil, irmão. Como assim? Como é que é isso?
Tem que esnobar.
Mas esnobar como?
- Faz ciúmes. - Ciúmes?
- Faz ciúmes, é. - Como isso?
Elogia o Maicon.
Aquele cara alí ó, de barbinha, o garçom alí.
Hãn.
Elogia ele que o Geraldo é louco de ciúmes com o Maicon, vai.
- Elogiar o Maicon? - É.
O Maicon é o melhor garçom daqui, hein?
O melhor que tem!
- Ó, tá dando certo alí, ó. - É?
Aliás, saiu na revista que ele é o melhor garçom do Rio de Janeiro.
Ah, o Maicon é foda!
Maicon, traz duas cervejas pra mim... Olha lá, filha da puta!
Por que é que tu vai pedir cerveja, irmão? Viajou?
Mas por quê?
Tu não é pra pedir cerveja pro outro, é traição também.
- Aí caramba... - Não é isso, irmão.
Tem que falar, tem que só elogiar. Ó, não. Se bem que deu certo.
- Quê que é? - Deu certo, ele tá vindo aí.
Eu não sei se...
- Ignora ele, ignora ele. - Ele tá vindo? Tá vindo ele?
- Finge que ele não existe. - Quê que eu faço?
Finge que ele não existe.
Tá.
Ele te quer.
- Como assim, Sandro? - Tá louco por você!
Por que, Sandro?
Porque eu nunca vi ele dar essa moral pra cliente nenhum aqui nesse bar.
Só pra tu ter um ideia,
outro dia eu criei um filé Osvaldo Aranha na sexta.
Tive que ficar desde segunda desenrolando com ele no WhatsApp.
E o que é que eu faço agora?
- Me explica aí então. - Ah, agora já foi irmão, agora...
Ele te quer, você quer ele. Agora é correr pro abraço, deixa fluir.
Deixa fluir.
- Deixa fluir que agora vai acontecer. - Como?
Me explica, eu não sei fazer, Sandro. Eu não tô entendendo.
Olha, faz contato visual.
- Contato visual. - Começa com contato visual, vai.
- Mas sem afobação, tá? - Tá.
- Vou olhar de novo então. - Sem desespero.
Seduz ele, fecha o olho um pouquinho. Isso, olhinho de pôr do sol.
Ó, ta dando certo. Ele olhou de volta, né?
Agora tu vai seduzir ele, usa tuas armas.
Faz cara de que vai gastar mais que cem reais.
Vai pedir o quê? Um polvo... Um camarão... Isso...
Agora...
Olha para o cardápio.
Olha pra ele.
Isso... Isso, garoto.
Agora é o seguinte.
O próximo passo é arriscado que é o aceno.
Com a mão direita, dá um tchauzinho. Isso...
- Opa. - Isso...
Por favor.
Por favor é bom.
Isso, ele tá vindo? Ele tá vindo.
- Ok. - Deu certo.
- Age naturalmente - Tá.
e faz ele se sentir especial.
- Fecho o cardápio? - Fecha.
Pois não.
Oi, tudo bem?
É... Eu sou o Evandro e ele é o Sandro, qual o seu nome?
Geraldo.
Geraldo... Que legal, Geraldo, tudo bem?
É... Geraldo, você vem sempre aqui, querido?
Segunda a sábado, 8h às 18h.
Segunda a sábado, 8h às 18h, olha... Esse sotaque é diferente, né?
Deixa eu adivinhar.
Minas Gerais!
Nova Iguaçu.
Já estive lá.
Ô Geraldo, eu posso fazer uma pergunta pra você?
Depende da pergunta.
Depende da pergunta...
É... Você gosta de beber alguma coisa quando tá assim?
Suco.
Suco! Suco é uma delícia.
É... E mais alguma coisa que você gosta de beber?
Eu gosto de Coca.
Maravilha.
- A gente gosta de Coca também, né? - Gosta.
Pergunta pra ele mas e no bar?
E por exemplo, olha só, se você estivesse com...
Com os amigos em um bar, tipo um bar como esse aqui.
- Igual aqui. - Igual a gente tá aqui.
Tá, o quê que você pediria?
Cerveja.
Ceveja!
- Bebo muito. - Bebe muito?
- Igual a gente. - É.
Olha que mundo pequeno.
Eu posso te pedir uma coisa, Geraldo? Mas eu tô só pedindo.
É possível você trazer uma cerveja pra gente?
Mas sem pressão, só se você quiser ir lá, e por acaso tá indo pra lá...
Pode ser?
Qualquer uma?
Não, trás é...
Qualquer uma. Qualquer uma tá ótimo, tá bom?
Boa, irmão.
Porra, esqueci de pedir a comida.
Não, fica tranquilo que eu tô desenrolando aqui um frango a passarinho.
Como é que você conseguiu?
Eu dei match no Tinder com o Nivaldo lá da cozinha, aqui ó.
Porra, nada do Geraldo, né?
Pois é.
Quê que tu acha do Wagner?
Que Wagner?
Vamos chamar o Wagner.
Wagner é aquele pernambucano com bigode.
- Ah não, acho nada de mais não... - NÃO?
- Não, não gosto. - Wagner é um piranhão, tu sabe, né?
- É mesmo? - Porra...
Aquele alí topa qualquer parada.
Aquele ali aceita trocar guarnição do prato.
Aceita. Qualquer guarnição que tu pede, à francesa, à cubana, ele trás.
- Pô, mas é piranhão assim? - Piranhão, uma putona!
Wagner é assim, tu pede por exemplo um prato de carne, vem o quê?
- Vem com um chorinho de batata. - Ah, você tá brincando.
- Vem com um chorinho de batata. - Ah, você tá falando isso pra mim pra...
Outro dia pegaram ele com mais dois comendo pernil escondido na cozinha.
- Mentira, irmão. - É, todo mundo sabe disso.
Agora, cheio de doença, pernil industrializado, pernil, é...
É cara de safado, é?
Wagner?
Wagner!