SUSCETÍVEL
Luis, me entrega os relatórios até o fim do dia?
Tá bom. Só não precisa falar assim, né?
Assim como?
''Luis, entrega pra mim os relatórios até o fim do dia!''
Tá maluco, cara?
De novo?
- O quê? - ''Tá maluco, cara''
Eu não falei assim não.
É porque você não se ouve, né?
Se conseguisse se ouvir, você ia perceber que você é muito agressivo comigo o tempo todo.
Tá.
Desculpa, então.
Ironia agora, é?
Ironia?
''Tá. Desculpa.''
Eu não falei com essa voz.
Gente.
Por favor... Tá?
Vamos tentar não brigar por causa de besteira.
Agora você também, cara? Vai apelar agora? Vai me chamar de viado?
Eu não...
Eu não falei que você é viado.
Que é isso?
''Gente, vamos parar de brigar por causa dessa besteira?''
- Eu não falei assim, Luis... - Ah, tá bom!
Você acha que eu não percebi o seu tom?
Flávio, vamos trabalhar.
Deixa ele.
“Deixa ele”, né?
Deixa!
Como quem diz: abandona.
Essa porra desse inútil!
Ninguém gosta dele mesmo. Então foda-se essa bosta desse porra!
Ele que se foda, porque é isso que ele merece!
Desisto.
Ô, Luis.
Você tá muito suscetível, cara.
Eu tô mesmo, desculpa.
Não tem nada a ver com vocês. Eu tô na merda, cara.
O que é que houve?
Minha mulher terminou comigo.
Aí... É isso.
O que é que houve com a Marina?
Me disse ontem que queria jantar em casa.
E aí, o que é que tem?
Não, só falou isso, só.
Mas você precisava ver o tom.
O jeito que ela falou isso.
''Eu quero jantar em casa!''
Como quem diz: Seu broxa!
Jantar vendo seu pau mole, pequeno!
Nessa casa miserável que a gente tem!
Essa vida merda que você me deu!
Eu não aguento mais!
Tem certeza que foi esse tom?
O tom foi esse.