FRILA
Bom dia, amor.
E aí, você vai ficar na cama?
Ué, claro.
Tá tudo bem?
Tá amor. Mas hoje tem greve, né?
É amor, mas você é freelancer, né?
Então, parei de aceitar frila.
Mas faz um tempo que você não pega um frila, né, amor?
É, hoje eu não vou nem procurar.
Ah é, você tava procurando?
Não. Tava pensando em procurar, mas...
Não vou procurar mais nada.
Não vou mandar e-mail, não vou mandar currículo, não vou fazer nada.
Entendeu?
Quero ver a cara deles lá, como é que vai ficar.
Uhum. Será que eles vão perceber?
Vão, vão perceber porque eu vou avisar.
Vou avisar que mesmo se tiver frila, eu não topo fazer.
Porque eu não sou otário não, entendeu, amor?
Eu não sou otário. Eles que chamem outra pessoa.
Já falei com a rapaziada que ninguém vai pegar frila.
Até rever essa reforma trabalhista e a gente ter os nossos direitos de volta.
Amor, você sabe que... Assim, frila não tem direito, né?
Justamente.
Enquanto a gente continuar pegando frila aí que a gente não vai ter direito nunca.
Uhum
Sabe um jeito legal de protestar?
Assim, bem maneiro mesmo?
Você arranjar um trabalho, né?
De carteira assinada. Olha que loucura.
Trabalhar de segunda à sexta.
Todo dia, assim.
Pra jogar na cara dessa galera que contrata frila.
Quê que você acha?
Eu acho que é uma boa, amor.
Eu vou...
Até o fim do ano eu vou ver como é que faz isso
pra tirar esse negócio de carteira, né? Que aí eu jogo na cara deles, né?
- Isso, boa, amor. - Boa ideia, amor.
Isso mesmo.
Agora eu vou trabalhar que senão eu vou ser despedida.
Tá, vai tranquila, amor, que eu vou continuar aqui...
Lutando pelos seus direitos.
E já dura três meses a greve de freelancers no país.
A maioria dos blogs de moda continua fora do ar.
Os leitores desesperados já não sabem que roupa usar.
A situação é grave na porta do CCBB, onde não há ninguém vendendo poesia.
No entanto, o Spotify não para de crescer com a paralisação dos DJs.
Os frilas, como são conhecidos, têm conseguido vitórias significativas.
Essa manhã, a #grevedosfrila ganhou o mundo.
