O Assunto #1000: Natuza Nery entrevista AO VIVO Myrian Lund
Famílias brasileiras estão endividadas, portanto, Miriam perdendo o sono.
O que você pode dizer para elas?
Eu já faço aqui uma voz bem calminha para começar a convencê-las de que o problema
delas pode ter solução.
Queria muito que ao final do nosso episódio de hoje as pessoas saíssem mais tranquilas
e mais confiantes de que o problema delas pode ser resolvido.
Bom dia de novo.
Bom dia.
Não, não pode.
Tudo tem solução.
Então a gente não precisa se preocupar.
Existem dois tipos de endividamento.
O que é um endividamento?
É quando você, por exemplo, parcelou cartão de crédito.
Isso é uma dívida.
Quando você pega um financiamento imobiliário, é uma dívida.
O problema do endividamento é quando tem um montante extremamente elevado.
E quando você não consegue pagar suas despesas essenciais.
Então a gente vai trabalhar aqui com vocês um endividamento que pode ser resolvido e
aquele que está alto demais, mas que tem solução.
Pois é.
Então eu já começo te perguntando qual é o primeiro passo para se organizar financeiramente.
O primeiro passo é você relacionar as suas receitas e despesas.
Por quê?
É necessário que quando a gente vá renegociar uma dívida eu saiba quanto eu posso pagar
por mês e não aceitar o que o banco está me dando, mas chegar para ele e dizer, olha,
eu posso pagar 200 por mês, eu posso pagar 300.
E a gente só consegue fazer isso se a gente se organizar, seja num caderno, uma planilha,
onde você quiser, mas eu ter certeza que eu vou conseguir arcar.
Agora Miriam, tem um ponto, tem gente que fica com medo, inclusive, de fazer essa relação.
O quanto que eu tenho de receita, o quanto que eu tenho de despesa.
Eu já ouvi relatos assim, porque as pessoas ficam com medo de se deparar com uma realidade
em que elas têm muito menos de receita do que elas têm para enfrentar as despesas.
Para essas pessoas, o que você tem a dizer?
A gente receia super normal, e a gente até diz que é o efeito avestruz, que a gente
desenfia a cabeça na terra, não quero olhar, mas olhando é que a gente consegue resolver.
Porque a gente sempre vai conseguir retirar algumas despesas que você tem que não são
tão necessárias.
Porque quando a gente está muito endividada, às vezes a gente acaba comprando como compensação,
a gente acaba comprando uma roupinha, uma coisinha que é barata, e o barato sai caro.
Porque se eu começar a imaginar que R$ 3,00 por dia me dá R$ 1.080 por mês, três vezes
R$ 360,00.
Então são essas coisinhas pequenas que normalmente enrolam a vida da pessoa, por
incrível que pareça.
E é ela que a gente tem que tirar.
Pode continuar.
Então quando a gente tira essas despesas pequenas, às vezes isso dá 20% a 30% do
total que a pessoa gasta no mês.
É impressionante como as pequenas despesas são danosas.
E elas tendem a ser menos vistas, você vai gastando ali, um pouquinho aqui, um pouquinho
ali.
Quem, por exemplo, é fumante, gasta uma fortuna comprando o cigarro todo mês.
Mirian, eu tenho uma pergunta de um ouvinte, é do Evandro Voltoline de Curitiba.
Vamos ouvir o que ele tem para perguntar.
Eu tenho muita dificuldade em acompanhar os meus ganhos, porque eu emito nota em dias
diferentes para clientes diferentes, e eles me pagam em dias diferentes, em contas bancárias
diferentes.
Eu tenho muita dificuldade em organizar isso, e eu acho que isso tem contribuído muito
para as minhas dívidas, porque eu não sei quanto eu ganho no fim do mês.
Eu queria saber se tem alguma dica em relação a isso.
Olha, Evandro, quem trabalha com esses recebimentos que não são certos no mês.
Então é sempre interessante que, primeiro, quando você entregar a nota fiscal, sempre
pergunta qual é a data provável de pagamento, que aí você já está
dando para outra pessoa que você está esperando nessa data.
E, dois, é necessário que você comece a fazer uma reserva de emergência.
Tudo que você tiver um pouco a mais, aplica, tira da sua conta.
Se amanhã você precisar, volta, mas comece a fazer uma reserva de emergência.
É o mesmo caso meu, eu não sei o dia que eu vou receber.
Então eu preciso ter o que eu tenho de despesas essenciais no mês guardada para poder arcar.
Senão a gente não consegue sair dessa novela que é sem fim e fica rodando.
Então, para resumir para o Evandro, perguntar sempre qual é a data e o que mais, Mirian,
só para fechar aqui o raciocínio.
É uma reserva, ele tem que começar a fazer uma reserva de emergência.
Todo dinheiro que entrar, ele vai guardando, tudo.
Porque se a gente deixa na conta, a gente gasta e ele precisa ter essa reserva
para fazer frente às despesas do mês, uma vez que ele não sabe exatamente o dia do recebimento.
E é muito comum haver atrasos, ter problema.
Então esse é o, digamos, o segredo para resolver a reserva de emergência.
E essa reserva tem um percentual mínimo que você aconselhe?
20%, 30%?
Sim, ele tem que ir fazendo progressivamente até chegar ao total das despesas mensais.
Então se ele tem despesas básicas mensais de R$ 5.000,
ele vai ter que ir fazendo essa reserva progressivamente.
E aí com isso ele vai deixando de utilizar o cheque especial.
E é possível fazer sim, porque a gente sempre acha que para fazer a reserva
eu preciso ter muito dinheiro, preciso entrar.
Não, você vai juntando R$ 30, R$ 50, R$ 70, você vai juntando o que for possível.
Tudo que se economizar, você vai juntando.
Num instante, em pouco tempo, eu garanto que você vai ter aí
já uma alegria de usar menos o cheque especial.
Oh, que coisa boa.
Agora eu fiquei impressionada ontem, Miriam, com um dado que eu li no jornal O Globo.
Hoje tem mais cartão de crédito no Brasil do que gente.
São 208 milhões de cartões de crédito.
Eu acho que quatro anos atrás, e foi um salto,
quatro anos atrás essa marca era de 89 milhões de cartões de crédito.
Ou seja, teve uma super explosão.
Então cada vez mais as pessoas estão parcelando compras essenciais em crédito,
que é um crédito pré-aprovado, caríssimo,
porque o valor do juro do rotativo é exorbitante.
É claro que isso não é saudável, mas eu queria que você desenhasse pra gente
o tamanho dessa encrenca, por favor.
Vamos lá.
Cartão de crédito, na verdade, você deve ter um só.
Você não ter mais. Por quê?
Já estou aqui me peritenciando.
Já estou aqui, Miriam, dizendo, deu ruim pra mim.
Porque quando a gente tem vários cartões, né, Natuza,
a nossa mente não funciona racionalmente, ela é emocional.
Então ela não consegue somar o que tem em cada cartão.
Então você diz, ah, eu posso gastar 3 mil de cartão.
Ah, mas só gastei mil nesse.
Mas aí você não lembra do outro e do outro.
Eu não consigo somar o que eu gastei em cada cartão.
Então a gente começa a gastar um pouquinho em cada cartão
quando vê a conta está enorme.
Então o primeiro ponto é usar apenas um cartão.
Não começar a fazer cartão em loja.
Pior coisa que tem é você, porque a loja é financeira,
os custos são muito mais caros
e as lojas sempre te induzem a ter um cartão.
Não, use o seu próprio.
Ah, Miriam, mas ela dá desconto.
É, mas o desconto vai ter um preço depois que você vai ter que pagar.
Então usar apenas um cartão e evitar parcelamento.
Aí é que começa o desafio.
Por quê?
Você não pode ficar parcelando roupa,
ficar parcelando compra de farmácia.
Todo mês você tem que comprar remédio,
você vai parcelar todo mês, aquilo vai virando,
já vai crescendo de uma forma exponencial.
E aí vai ao mercado, vou numa loja,
ah, pode parcelar?
Pode.
Então o brasileiro se habituou a parcelar tudo.
Isso não existe fora do Brasil, somente no Brasil o parcelamento.
Então o parcelamento é dívida.
E aí a gente não lembra quanto ficou para o mês que vem.
Como é que vai começar o mês que vem?
Ninguém lembra.
E aí você já está com o salário comprometido.
E aí você, ah, vou fechar um outro cartão,
porque aí com outro cartão eu vou trabalhando,
e com outro cartão, pronto.
Eu adoto uma estratégia.
Eu tento não parcelar absolutamente nada
e só recorro ao parcelamento quando eu tenho,
por exemplo, férias do ano.
Aí eu preciso comprar um pacote de viagem, por exemplo.
E aí eu divido no menor número de parcelas possível
e assim eu sei que eu tenho aquela dívida.
Porque o problema de você ir parcelando, parcelando, parcelando
é que chega num determinado mês, você parcelou tanta coisa
que aquelas parcelas superaram o que você tem de dinheiro
para pagar o seu cartão de crédito.
Mas eu tento fazer isso e você tem razão.
Quando eu fui para fora do Brasil,
da primeira vez que eu fiz uma viagem para fora,
me explicaram que não existe isso de parcelamento,
ou seja, essa é uma jabuticaba brasileira mesmo,
que vem muito provavelmente da nossa falta de educação financeira.
Você está vendo alguma imagem?
Está te atrapalhando de alguma forma, não?
Não, não, tudo bem.
Está tudo certinho para você?
Tudo.
Então tá.
Então eu vou trazer aqui uma questão de um ouvinte sobre isso,
sobre o cartão.
É do Alexandre de Oliveira Nascimento de Fortaleza.
A gente vai ouvir a pergunta dele e a gente retoma esse assunto já já.
Como gerenciar o cartão de crédito de forma que quanto mais aumenta o limite,
não ultrapasse o valor do meu salário,
ou o valor que eu tenho disponível para pagamento de fatura?
É uma boa pergunta, porque quando a gente tem o cartão de crédito,
o banco, se você está pagando, o banco tende a aumentar seu limite
ou te oferecer mais limite.
Agora, cabe a você dizer, não preciso, tá bom.
Então um dos passos é, iniciou com cartão de crédito,
ganhou seu cartão de crédito,
ter um limite que seja satisfatório para você.
Ah, Miriam, mas se eu viajar?
Se você viajar, você aumenta, liga para a instituição,
avisa, liga para a central do cartão,
avisa que você vai viajar e que você precisa de um limite maior.
Voltou, abaixa o limite.
Então, com isso, a gente consegue controlar melhor o cartão.
E o segundo ponto é evitar esse parcelado.
Agora, existem cartões de crédito que você pode pedir à instituição
para bloquear quando chega num valor,
para te avisar quando chega num determinado valor.
Então, é interessante que você ligue,
pergunte ao seu gerente, se for de uma instituição financeira,
se você tem como ter essa informação
antes do vencimento do cartão,
quanto está, se existe uma forma dele te avisar
ou de você bloquear determinados gastos.
Isso está sendo cada vez mais comum aqui para os cartões.
É, então você pode dar um bloqueio.
Chegou naquele ponto, ele já te avisa o bloqueio.
Ah, eu quero gastar com transporte, com UberX.
Quando chega nesse ponto, ele já faz um bloqueio para você.
Isso.
Já que você não consegue se controlar,
que alguém o faça, é isso, né?
Isso, vamos usar a tecnologia a favor, né, Natuza?
Tá certo.
Agora, Miriam, como é que as pessoas podem negociar dívidas com os bancos?
Dá algumas dicas para a gente de como elas podem,
que tipo de abordagem elas podem usar.
Tá, eu queria só dizer o seguinte,
quando você tem cartão de crédito
e quando está chegando no momento de pagar
e você viu que não tem dinheiro,
não vou ter dinheiro para pagar toda
e não sei se vou conseguir pagar,
a melhor coisa é você não usar o parcelamento do cartão,
é você procurar antecipadamente o seu gerente
e lá você negocia a taxa.
Por quê?
Um parcelamento de cartão,
um cartão hoje está 12, 14% ao mês.
Esse é o padrão mínimo, normal.
E quando você parcela, vem para 8% ao mês,
é uma taxa elevadíssima.
Agora, se você procura o seu gerente,
você consegue uma taxa de 4% ao mês.
Então, esse parcelamento oferecido pela instituição financeira,
ele é muito ruim para você.
Ou seja, o que é ruim?
Ruim fazer o parcelamento automático do cartão,
é ruim pegar empréstimo no terminal eletrônico
e é ruim fazer o empréstimo do seu celular,
aquele que eles oferecem.
Os três são juros altíssimos, eles são fáceis.
Então, você guarda tudo que é fácil e difícil,
tudo que é fácil vai ser caro,
tudo que é fácil eu vou pagar.
E aí você procura o seu gerente,
diz, olha, eu vou precisar parcelar o cartão
e aí eu queria ver uma taxa.
Eu sou um bom pagador
e eu queria ver como a gente vai fazer.
Você vai conseguir uma taxa de 4%,
metade do que seria um parcelado.
Então, a diferença é muito grande
e isso vai evitar que você entre na bola de neve.
Tá, e quando a dívida está alta
e você não consegue renegociar a taxa no banco,
como é que dá para fazer a portabilidade da dívida?
Tá, a primeira coisa,
quando você sente que a sua vida está se enrolando,
procure abrir conta numa outra instituição financeira,
sem cheque especial, sem cartão de crédito.
Então, abre a conta lá,
faz a portabilidade do seu salário
para você poder receber integralmente
e aí você começa a respirar
e fica mais tranquilo para partir para as negociações.
Então, nessa nova instituição financeira,
você já pede, já pergunta,
gostaria de trazer minha dívida para cá,
eu tenho lá um cartão,
eu vou ter que transformar ele no empréstimo,
então, como é que a gente pode fazer?
Eu quero ver uma taxa legal.
Então, vai lá com o gerente e diz,
mas tem que ser taxa boa, né?
Conversa com o gerente
para que ele não te dê a taxa tabelada,
mas que ele leve a sua operação para estudo
para que você consiga uma taxa mais baixa.
E com isso você consegue, então,
organizar melhor as suas finanças
que às vezes não é possível
na mesma instituição que você já tem conta.
Miriam, sentimentos muito comuns
com quem tem dívida é vergonha, né?
Um desses sentimentos é vergonha.
Poxa, eu tenho vergonha de estar numa situação dessa e tal.
Tem gente que tem vergonha de pedir dinheiro emprestado
para um amigo, para um parente,
não quer admitir que fracassou, enfim.
Depende muito da personalidade de cada um,
mas tem muita gente que recorre ao expediente
de se desfazer de bens.
Ah, eu vou fazer o seguinte,
eu vou vender o meu carro para quitar minhas dívidas.
Quem tem, eu vou vender o meu imóvel
para quitar as minhas dívidas.
Você normalmente diz que, muitas vezes,
não faz sentido lançar a mão disso,
pelo menos num determinado momento.
Eu queria entender por quê.
No primeiro momento, não fazer isso,
porque a gente precisa diagnosticar qual é o problema.
Porque se você tiver com mais despesas do que receita,
mesmo que você venda o bem, pague as suas dívidas,
você vai continuar com o problema,
porque você está gastando mais do que você recebe.
Então, a gente primeiro precisa acertar a sua vida
para, então, a gente decidir se vale a pena vender ou não.
E hoje existe a lei do superendividado.
Por quê?
Chegou-se à conclusão que as empresas
tinham uma lei específica para ela renegociar,
e a pessoa física não tinha.
Essa lei foi criada em 2020,
foi no meio da pandemia, ela é muito nova,
e ela permite que você renegocie com os credores
sem, digamos,
sem aquela necessidade de ficar com aquelas ligações absurdas
ali para você.
E a defensoria pública hoje, em todo o país,
tem uma coordenação de superendividados,
é uma coordenadoria de superendividamento.
E lá eles te ajudam a fazer essa análise
para poder negociar com o banco.
E eles mesmos chamam os bancos e negociam.
E isso está apto no Brasil todo.
Procure a defensoria pública.
Miriam, mas eu ganho muito, eu ganho 20 mil,
mas se você está superendividado, o que é superendividado?
Eu tenho tanta dívida que eu não consigo pagar
minhas despesas essenciais se eu for pagar tudo,
eu não tenho como renegociar.
Então, quando chega nesse ponto extremo,
a gente vai na defensoria.
E isso não aparece para ninguém,
a gente não precisa ter vergonha,
porque ninguém vai saber.
Dívida é uma coisa sua com a instituição.
Então, aproveite para renegociar sua dívida,
mas com a ajuda de alguém.
Então, eu sempre recomendo que você utilize um parente próximo
para ajudar você a ver suas finanças,
ou procure um profissional,
só que você já está endividado, às vezes é difícil.
Mas alguém que é muito organizado, que você goste.
Ou vai na defensoria pública.
A defensoria já fez um estudo e mostrou que as pessoas
estão superendividadas, elas querem pagar,
mas não sabem como, por isso que eles oferecem esse serviço
como forma de proporcionar uma negociação justa.
Por exemplo, você ficou no cartão,
já está há muito tempo, está juros sobre juros.
Então, vamos negociar com o cartão o que você pode pagar.
E o cartão chega lá e vai.
Só que não é você direto, é a defensoria com você,
negociando com o cartão de crédito, com cada banco,
com cada instituição onde você tem dívida.
Então, é muito legal isso.
Só que pouca gente aproveita, Natuza.
Pois é, vale essa sua dica de ouro.
Vamos colocar mais uma pergunta aqui para você.
Essa pergunta é do Matheus Mendes Mirian.
Ele é morador de Anápolis, em Goiás.
Vamos ouvir o que ele tem a dizer.
Olá, Mirian. Olá, Natuza.
Eu sou o Matheus, de Goiás.
Eu gostaria de perguntar como que eu faço no final do mês,
não sobra nenhum dinheiro para pagar as contas que são necessárias.
Difícil, viu, Matheus.
Para não ficar preso no cheque especial e no cartão de crédito.
É, Matheus,
realmente, hoje, se a gente...
A melhor coisa que tem é sempre você sentir o que você está apertado,
abre conta numa outra instituição,
sem cartão de crédito, sem cheque especial,
faz a portabilidade do seu salário,
e aí a gente vai estruturar um parcelamento na nova instituição
ou na antiga, de que forma que você pode fazer isso.
A Natuza tinha me perguntado sobre portabilidade.
Portabilidade é quando você já tem um empréstimo
e a instituição está com uma taxa muito alta,
não negocia a taxa com você.
Então, você pode levar para outra instituição com uma taxa mais baixa,
aí a sua prestação fica menor.
Mas portabilidade significa o mesmo tipo de empréstimo,
só que com uma taxa menor e uma prestação menor.
Quando você está endividado no cartão, não é portabilidade,
você quer fazer um crédito pessoal, você está mudando a modalidade.
Eu não quero ficar no rotativo do cartão,
eu quero fazer um crédito pessoal.
Então, você negocia esse empréstimo na nova instituição.
Mas é muito importante que você faça esse movimento,
ele vai ajudar você a pensar melhor, a sair daquele nervosismo,
porque você vai ter o salário para pagar suas contas essenciais
e definir qual vai ser a melhor forma de pagar a dívida que está crescente.
Miriam, tem uma pergunta do André Santos de Belém
sobre o mesmo tema do Mateus.
Então, vou aproveitar para já encaixar essa pergunta para você.
Oi Natuza, oi Miriam.
A minha dúvida é sobre uma manobra que com certeza milhares de pessoas usam
em algum momento da vida,
usam um cartão de crédito para pagar outro cartão de crédito.
Nós diminuímos uma dívida, mas acabamos criando outra.
Então, a minha pergunta é como criar meios para diminuir esse ciclo vicioso
que acaba sendo tão prejudicial.
Sim, é verdade.
Realmente, isso é o mais comum, a pessoa se vê apertada
e está cheio de gente oferecendo dívida.
Só que essas dívidas que a gente vai contraindo,
elas têm juros muito altos, isso que eu expliquei.
Porque para você conseguir um juros de 4% ao mês,
seria um juro justo agora?
É importante que você guarde esse número.
O que seria uma taxa justa?
Seria entre 3% e 4%, no máximo 4% e pouquinho na situação atual.
Então, quando você pega outro cartão, você vai começar a bola de neve,
você está trabalhando com taxa de juros extremamente alta.
Então, o que é melhor?
Vou ver qual é a minha dívida e vou fazer um crédito pessoal,
não usar esse rotativo, nada disso.
Eu vou agora negociar um crédito pessoal.
E hoje no Brasil, a gente tem as cooperativas de crédito
que estão crescendo, já estão ocupando todo o Brasil
e todos os municípios, são vários sistemas,
são várias instituições financeiras,
mas essas cooperativas de crédito são autorizadas pelo Banco Central,
tem a garantia do FGCOP, como tem nos bancos.
E como você é dono e cliente ao mesmo tempo,
você consegue taxas bem mais baixas do que as praticadas no banco.
Então, hoje, para quem está atrapalhado, é muito bom ir lá,
porque a cooperativa tem um papel social de ajudar você,
de ajudar a comunidade, a família.
Então, ela sempre vai entender a sua situação
para ver de que forma vai te ajudar,
sem te empurrar produtos, sem te empurrar prazo,
ou seja, buscando uma solução para você.
E então, hoje, essa alternativa que eu digo,
abra conta numa nova instituição financeira,
pode ser numa cooperativa de crédito.
Então, converse com seus amigos,
porque todos os municípios hoje têm cooperativa de crédito.
Miri, do total de endividados,
18,5% se consideram muito endividados.
Como é que sai de uma situação tão difícil assim?
Vamos ver o que é muito endividado.
É muito endividado quando você não consegue pagar essas dívidas.
Então, chega mesmo que você renegocie, faça prestações menores,
eu não consigo pagar.
Então, isso é o que a gente chama de super endividamento.
E aí, a gente tem que procurar essa ajuda da defensoria pública,
que ela vai ser o seu advogado para negociar com o banco.
O que a defensoria pública faz?
Não é isso?
A gente não procura quando tem algum trabalho que ganha pouco,
só que para o caso de endividamento,
ela atende qualquer renda.
Então, isso é importante.
Lá, ela vai fazer a planilha de receita e despesa,
para ver quanto você precisa e o que sobra para negociar.
Ela vai pedir para você fazer um curso de educação financeira,
em paralelo.
Ou seja, você não só vai resolver seus problemas,
como você também tende a sair com uma nova visão de lá.
Então, é como se você estivesse contratando um advogado para te ajudar.
Então, vale a pena a gente tentar.
E, Mirian, vamos agora à dúvida do Carlos Alberto Viana, de Niterói.
Eu possuo dívidas com um banco que eu venho rolando há muito tempo.
Eu venho pedindo sempre novos prazos,
repactuando então o tempo e também solicitando recursos
para que eu possa pagar as dívidas de curto prazo
de alguns dos empréstimos.
E venho fazendo isso há muito tempo.
Só que isso foi uma grande bola de neve.
Hoje, eu tenho uma dívida extremamente alta,
não consigo mais renegociar, não tenho mais espaço de margem.
E tem muitos juros embutidos ao longo do tempo.
Eu preciso rever, tentar renegociar esses juros
e também travar um percentual dos meus rendimentos
para honrar esses compromissos,
mas sem corroer o meu orçamento,
senão eu vou ficar com a minha dívida.
O meu orçamento, senão eu vou ficar com a corda no pescoço estrangulada.
Como fazer?
Então, vamos lá. Nossa receitinha.
Nossa receita é sempre você olhar sua receita e sua despesa
para ver quanto você pode pagar por mês.
Então, a renegociação não é o que a instituição financeira
quer te oferecer, é o que você pode pagar.
De forma que você tenha uma condição de vida,
garanta sua sobrevivência dentro de um padrão,
digamos, simples, mas que seja essencial.
E aí a gente entra com esse valor, é o que eu tenho,
é o que eu posso tentar negociar.
Agora, eu acho que pouca gente sabe,
e às vezes você é uma pessoa jurídica.
Se você é uma pessoa jurídica ou tem...
é MEI, é microempresário, pequeno empresário,
até médio empresário, existe o chamado Pronamp.
Pronamp é um recurso do BNDES
que é repassado pelas instituições financeiras,
e que você paga Selic mais 6% ao ano.
Então, seria exatamente 1,56 a um mês.
Hoje está isso, 1,56 ao mês.
E você pega este dinheiro,
você tem 11 meses de carência,
aí tem que ver a carência que é,
mas é em torno de 7 a 11 meses de carência,
e depois você tem 37 meses para pagar com essa taxa,
que é mais baixa.
E à medida que a Selic for caindo, ela vai reduzindo.
Então, mas qual é o limitante?
O limitante é o que você faturou.
Então, a instituição sempre vai olhar o seu faturamento
e quanto está autorizado ela emprestar,
e o limite máximo é 150 mil.
Então, ela vai ver quanto tem,
150 mil com uma taxa baixíssima.
Então, aquela pessoa que mistura pessoa física com jurídica,
pode usar este tipo de empréstimo.
E aí, nem todos os bancos,
às vezes, têm disponibilidade,
mas nas cooperativas de crédito,
sempre tem disponibilidade.
Então, é verificar se você pode fazer isso,
às vezes, via PJ.
Então, é também uma alternativa.
Miri, a partir deste mês,
já as pessoas que chegam a mais de dois salários mínimos,
que ganham, desculpa, mais de dois salários mínimos,
elas já vão poder procurar os bancos
para renegociar as suas dívidas
pelo programa Desenrola do governo federal.
Você pode nos explicar que vantagens este programa oferece?
Tá.
À medida que você participa do programa Desenrola,
que você está apto,
que você já tinha essa dívida,
você já estava negativado,
e que você entra nesse programa,
você vai conseguir reduzir ali,
mostrar a sua situação financeira e negociar.
Então, o que eu recomendo?
É que quando você for para a negociação,
você já veja quanto você vai pagar.
Sempre prefira liquidar a vista,
ver o que você consegue.
Será que eu consigo um 13º?
Muitas empresas antecipam agora 13º,
vê se consegue,
porque o ideal é a gente tentar liquidar a vista.
Miri, mas minha dívida é 10 mil,
e eu só tenho 500 reais.
Vai lá e oferece 500 reais.
A gente não pode ter vergonha.
Você vai oferecer o que você pode,
o que você tem.
E aí a gente tenta chegar a um acordo.
Às vezes ele diz, não, você volta.
Mas a tendência é que a instituição financeira
esteja sensível,
se realmente o seu problema é sério,
porque ela prefere receber pouco do que não receber.
Então, é o grande momento
da gente poder apresentar essa nossa proposta
e tentar.
Ah, não consigo,
não tenho dinheiro nenhum para pagar a vista.
Então, quanto você pode pagar de prestação?
Vamos negociar e ver o que ele reduz.
E sempre fazer pelo menor prazo possível.
Se eu puder fazer por 12 meses,
12 meses,
mesmo que seja sacrifício,
mas é melhor eu fazer um sacrifício por 12 meses
do que fazer um sacrifício por muitos anos.
E aí você já resolve o seu problema.
Mas tem que caber no orçamento,
senão daqui a pouco isso vira bola de neve de novo.
Miriam, o endividamento,
ele tem consequências emocionais,
como a gente vem falando desde o início do nosso episódio.
Então, de novo,
tem gente que fica sem dormir,
tem gente que chega a um quadro de depressão forte,
crise de ansiedade.
É muito ruim,
é muito sofrido.
Passar por isso.
E é mais sofrido ainda porque
parte dessas pessoas não tem perspectiva,
ela não consegue organizar as ideias,
como a gente está fazendo,
como você também está fazendo aqui,
para encontrarem uma saída.
Então, como é que se pode lidar da melhor maneira possível com isso?
O que você pode dizer para você mesmo,
para não entrar num quadro agudo assim?
De qual empréstimo é preciso fugir primeiro, por exemplo?
Realmente é muito comum depressão,
a gente está mal,
a gente fica com vergonha.
Mas é o contrário.
Eu preciso, nesse momento,
estar perto de pessoas.
E estar perto de pessoas que são organizadas.
Porque essas pessoas, você comenta,
elas vão sempre te dar alguma ideia,
alguma dica, alguma solução.
Então, não se esconda dentro de casa com vergonha.
Mas procure andar com as pessoas que você admira,
por lidar com o dinheiro bem.
Então, e receber essa ajuda.
Eu sempre digo para todo mundo que está assim,
que a melhor coisa é você sempre fazer isso.
Tenta abrir uma conta sem cheque especial,
sem cartão de crédito,
e faça a portabilidade,
seja do INSS, seja a portabilidade salário,
para você poder olhar para o seu dinheiro ali.
E partir para a negociação.
Então, olha como muda o poder.
Antes, eu estou ali no banco,
aquilo vai sendo debitado,
eu não sei o que vou fazer.
Trocou, você está com dinheiro na mão.
Então, agora você vai decidir onde você vai,
como você vai pagar,
se a nova instituição pode te ajudar ou não.
Agora, nunca, nunca aceitar uma negociação
que você sabe que não vai conseguir pagar.
Vai pagar a primeira prestação e não pagar.
É melhor que você fique sem pagar.
Infelizmente, hoje, na Tusa, no Brasil,
a pessoa, para conseguir uma negociação no próprio banco,
ela precisa ficar sem pagar.
E aí, quando ela fica sem pagar,
o banco, então, oferece condições melhores.
Mas eu vou sujar meu nome.
Eu digo, não tem problema você sujar o seu nome,
que você suja o nome, ninguém vai tomar conhecimento.
Você só não consegue crédito.
Mas, nesse momento, o crédito também não é bom.
E aí, você, então, começa a organizar o que você vai pagar.
Mas não ter vergonha de ficar com o nome negativado por um período.
Na hora que você acertar, seu nome volta normal
e ninguém vai saber.
Agora, Miriam, para terminar, existe algum...
A gente está falando de dívida, dívida, dívida, dívida, dívida.
Da dívida que é um bicho de sete cabeças.
Existe alguma dívida boa?
Ah, boa pergunta.
Sim, é o crédito bom.
Então, vamos lá.
O que é um crédito bom?
É quando você pega dinheiro, por exemplo,
para comprar uma geladeira,
que a minha geladeira quebrou, não tem mais conserto,
é muito caro.
Então, eu vou fazer um parcelamento
para comprar a geladeira.
Ou eu vou fazer o financiamento da minha casa própria.
Ou seja, sempre que você estiver construindo bens,
ou isso serve para alavancar sua vida,
aí vale a pena você fazer.
Você se endividar,
é uma coisa que você não vai se arrepender,
porque você está construindo.
Às vezes, é muito difícil a gente conseguir juntar dinheiro sozinho.
E aí, quando você compra um apartamento financiado,
você faz o sacrifício para pagar, pagar,
e daqui a pouco você já está com um bem.
Porque é isso que a gente precisa, a gente precisa ter bens.
Porque se você tem um apartamento,
quando você estiver lá na maior idade,
você pode vender, ir para o menor.
Você sempre vai ter uma condição de lidar bem com dinheiro.
Então, é importante.
Agora, nunca ter mais do que três parcelamentos
ou três dívidas no mês,
ou três dívidas simultâneas.
Então, isso é muito importante.
Como a Natuza falou,
eu parcelo quando eu vou para uma viagem.
Então, ela tem um parcelamento só.
Eu parcelo para comprar um computador
que vai servir para o meu trabalho.
Ótimo, então parcelo.
Então, parcelar coisas que vão agregar valor à sua vida.
Agora, roupa, essas coisas,
aí é brabo.
Miriam, foi ótimo conversar com você.
Acho que a gente tem que fazer esses encontros de tempos em tempos
para ajudar as pessoas a tentar resolver,
organizar um pouco mais a vida financeira delas.
Então, eu te agradeço muito por ter participado aqui com a gente.
Muito obrigada.
Eu que agradeço, Natuza.
Obrigada a você e que as pessoas possam usar o que a gente faz,
porque é o que a gente utiliza na prática junto com as pessoas.
É isso aí.
Este foi o assunto, podcast diário disponível no G1.
Este episódio é o episódio de número mil
e vai ficar disponível na íntegra para você,
tanto em vídeo quanto em áudio no G1 e nas demais plataformas.
Você também pode ver cortes deste podcast em vídeo no G1 e nas redes sociais.
E por fim, os créditos para quem ajuda a botar este podcast de pé.
A coordenação executiva é de Mônica Mariotti.
Na equipe do assunto estão também os meus queridos e queridas
Amanda Polato, Lorena Lara, Luiz Felipe Silva,
Tiago Kazurowski, Gabriel de Campos e Nayara Fernandes.
Na coordenação de vídeo, Jéssica Rocha e na direção de imagem, Giacomo Vochio.
Eu vou agradecer também a toda a equipe da TV Globo Rio,
que nos ajudou na operação para entrevistar a Miriam
e também a da TV Globo aqui em São Paulo,
que nos ajudou a transmitir este assunto ao vivo.
Eu sou Nathuzaner e fico por aqui.
Até o próximo assunto.
E aí