O inconsciente
Jornalista - Ao mostrar a existência do inconsciente, Freud propôs a análise dos sonhos como principal via de acesso. Eu vou conversar com a psicanalista Monah Winograd. Ela é do Departamento de Psicologia da PUC Rio [Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro]. Por quê que Freud, ele utilizou a interpretação dos sonhos como método terapêutico pras neuroses?
Professora - Na verdade, a interpretação dos sonhos não é o método terapêutico. O método é chamado de “associação livre”. A interpretação dos sonhos, ela vai fazer uso da associação livre, que é um dispositivo a mais que a gente tem no atendimento. E pro Freud, a interpretação dos sonhos... o sonho é uma formação do inconsciente, né, ele expressa o conteúdo inconsciente e, por isso, ele é tão interessante no tratamento da neurose, e na verdade é interessante para qualquer um que queira saber o que se passa consigo, né, aquilo que tá pra além daquilo de que eu tenho notícia é... conscientemente.
Jornalista - Monah, pra você, qual foi a grande contribuição de Sigmund Freud?
Professora - Eu diria que não teve uma grande contribuição, mas várias. No próprio campo é... psi: psicoterapêutico e psiquiátrico, e no campo da cultura, também, né? No campo psi, eu diria que a grande contribuição do Freud, ou uma delas... A primeira de todas foi ter é... afirmado a existência de processos psíquicos inconscientes né, então, de que o que nós sabemos sobre nós é a menor parte do que o que de fato nós somos. A outra grande contribuição foi ter, é... entendido que os sintomas têm um sentido, bem como os sonhos.
Jornalista – Quer dizer, os sonhos, os atos falhos...
Professora – Tudo isto faz um sentido.
Jornalista – Os desejos reprimidos...
Professora – Sim.
Jornalista – Tudo isto tem um sentido pra ele [Freud].
Professora – Tudo isto tem um sentido né, os elementos ali, não tão ali por acaso, né, o conteúdo do sonho não é por acaso. Eu arriscaria dizer que, mesmo no caso das psicoses o conteúdo de um delírio não é por acaso. Não é por acaso que esse paciente tem esse delírio e aquele outro paciente tem outro delírio. Um ato falho: eu dizer que eu amo quando odeio, ou dizer que não quero quando quero, ou chamar uma pessoa por outro nome... Tudo isto faz um sentido, não foi só um “ih, errei”. E no campo da Psiquiatria, particularmente, a importância do Freud foi fazer com que os psiquiatras... É verdade, não foi ele que fez, mas ele contribuiu pra constituição de uma... Eu diria de uma corrente em Psiquiatria, que é a Psiquiatria dinâmica, não é? Havia a Psiquiatria que trabalhava exclusivamente com os sintomas, então é... Ela operava no sentido de fazer com que os sintomas desaparecessem... O cara tá delirando, eu medico pro... pra ele parar de delirar. É claro que tudo isto continua acontecendo; mas não havia ali uma escuta do sujeito, né? Não havia ali uma escuta da estória, do que ele está sentindo, dos conflitos que ele vive... E aí a Psicanálise então contribui pra essa corrente da Psiquiatria, ajudando os psiquiatras a perceberem que aquelas pessoas que tão na frente deles são sujeitos também, têm os seus afetos...
Jornalista – Vão além dos sintomas...
Professora – Exatamente...
Jornalista – A estória é muito importante, tem um contexto...
Professora – Exatamente, exatamente...