Pessoas contam como lidam com a ansiedade. E você, como faz?
É como se fosse um leve aperto, assim, você fica agoniado, você fica... putz, cara... é difícil explicar isso.
É tipo, com o coração batendo forte...
Parece que eu vou derreter, sabe, virar um monte d'agua, assim, no chão, sabe?
Então a ansiedade, ela começa tipo, devagarzinho. Ela é tipo uma criança brincando com uma bateria, sabe?
Tipo, ela começa só fazendo tss, tss, tss... e do nada é tan-ran-ran-ran, fazendo aquela barulheira e
você não consegue respirar, não consegue ver nada, não consegue se organizar...
As coisas se tornam muito maiores do que elas de fato são.
Eu fico pensando no dia de amanhã, como é que eu vou reagir a tal situação...
O tempo inteiro a minha cabeça tá a mil pensando nas coisas e quais os caminhos que essas coisas podem dar errado.
Eu penso em todas as frases que eu vou dizer no outro dia e na verdade não acontece nada disso.
Tipo, antes de acontecer alguma coisa, eu crio um cenário de como aquilo vai acontecer.
Só que aí quando eu passo pela situação, eu vejo que não era nada daquilo.
Pra tudo que eu vou fazer na vida eu já fico com medo, eu fico com insegurança...
Eu sofro mais pelo processo do que pelo resultado.
O mundo hoje em dia parece que te deixa assim, né?
A pressão que eu jogo em mim mesma de que as coisas saiam perfeitas.
Às vezes eu quero muito mexer em rede social o tempo todo. Às vezes eu não quero perder um story, sabe?
Nossa, às vezes eu perco e falo: "Nossa, perdi. Não, volta!", sabe?
Ansiedade sempre ataca... Você começa a conviver com ela, você entende que ela tem que aparecer em algum momento,
mas também não pode deixar ela te consumir.
O que eu passei com crise de pânico e crise de ansiedade é uma coisa que me assusta.
Quando eu fico muito ansiosa, desencadeia a crise de pânico... Então, quando eu tô em crise mesmo eu fico
bem depressiva. E aí eu fico em casa, eu fico assistindo seriado, durmo o dia inteiro, sabe? Não faço nada.
Eu já tive crises muito fortes, assim, acho que recentemente essa que eu tive esse ano...
Eu fiquei um mês sem sair de casa, porque eu tinha medo de sair e ter uma crise de novo.
A ansiedade, ela me ataca quando eu tenho que esperar coisas acontecerem. Acho que é onde eu mais sofro.
Eu, esses dias, fiz um calendário onde eu escrevo tudo o que eu tenho que fazer para não esquecer.
O fato de eu ter feito esse calendário me atrapalhou um pouco, porque eu comecei a ver todos os meus compromissos
no dia que eu teria eles. E isso me causa ansiedade, isso me causa uma certa angústia.
Bom, recentemente eu passei pelo TEPT, Transtorno de Estresse Pós-Traumático, que é um quadro de ansiedade.
E não é só quem viveu acidentes, guerras, pode ser uma situação de violência, mesmo.
Bom, na verdade foi uma situação que eu vivi no meu doutorado, que eu considero, na minha leitura,
como uma violência de gênero. No início foi muito difícil, eu nunca tinha passado pelo adoecimento mental.
E sendo psicóloga, é uma coisa que as pessoas não entendem.
E aí hoje, para lidar com isso, eu acredito que seja realmente planejamento... então, tipo, eu sou muito metódico,
eu sou muito calculista, eu sou muito atencioso com as coisas porque eu não quero que nada dê errado.
Então eu tenho uma disciplina, cara, quase shaolin.
Eu acho que hoje em dia, qualquer problema que eu tenho eu sento e escrevo uma música ou
escrevo no papel o que eu tô sentindo, que é uma forma de tirar de mim.
Se a partir do momento que você é uma pessoa ansiosa e que você tem a experiência com a ansiedade,
ela nunca vai embora, ela tá ali. Você pode guardar ela em algum lugar, mas eu sei que a qualquer momento
ela pode simplesmente dar um oi, assim, e me desestabilizar completamente.
Você começa a conviver com ela e você entende que ela tem que aparecer em algum momento,
mas também não pode deixar ela te consumir. Isso vai voltar em algum momento, mas eu vou respirar
e deixar acontecer, chorar o que tem que chorar, depois reorganizar a cabeça de novo.
Quando você começa a fazer terapia, a buscar superar isso, você começa a perceber que você tá antecipando
o futuro de modo catastrófico, que não necessariamente vai ser daquela maneira,
e aí você começa a se trabalhar, que foi o que aconteceu comigo.
Hoje eu tô me tratando, tô fazendo terapia, tô me medicando também, tô fazendo acupuntura...
e eu sinto que tá dando resultado, assim. Eu tô menos ansiosa no geral, mas assim, não é uma coisa talvez que vai embora 100%.
E o que eu falo sempre pra quem tá passando por isso, né, é que o único jeito de enfrentar medos é da pior maneira...
Enfrentando.